Fotografia oferecida a este blogue pelo autor deste.
29.4.05
Barraca
"A Barraca está no Porto para apresentar uma viagem pela história do Teatro, dos gregos aos autores contemporâneos. O espectáculo "SER e NÃO SER" ou estórias da História do Teatro vai estar no Rivoli Teatro Municipal, nos dias 29 e 30 de Abril. Hoje, pelas 20h30 decorre, no bar do Rivoli, o lançamento do livro "Ser e Não Ser", editado pelo Círculo de Leitores."
Entretanto, e a propósito deste espectáculo, o Comércio do Porto publica, na sua edição de hoje, uma interessantíssima entrevista com Maria do Céu Guerra, actriz e encenadora d'"A Barraca".
Faustino
Faustino, que durante quinze anos
Viveu longe da casa e da família,
Regressava, já rico pela usura,
No seu navio à pátria desejada.
"Meu Deus", suspirou o honrado Faustino
Quando ao longe avistou a cidade natal,
"Meu Deus, não me castigues pelos meus pecados,
Nem me dês a paga que mereço!
Deixa que encontre, em tua graça, sãos
E alegres a mulher, o filho e a filha."
Suspirava assim Faustino, e Deus ouviu-o.
Chegou - e achou a casa farta e sossegada.
Encontrou a mulher e os dois filhos,
E - ó benção de Deus! - mais dois ainda.
Gotthold Ephraim Lessing (Alemanha, 1729-1781).
Tradução de Paulo Quintela.
4:49
A situação é delicada, bem o sei. Mas a verdade deve ser respeitada antes de tudo. E eu sei que Sarah Morton preferiria antes passar a noite toda a ouvir nonstop uma única faixa, com o título "The Disposition of the Linen".
Página 83
"Gajevicz abanava a cabeça em ar de aprovação.
- Às vezes as sinas realizam-se, mas ao contrário. Olha o Tadeusz, por exemplo. Avisámo-lo, mas ele não ligou e continuou a repetir: 'Não tenho medo da Gestapo; uma cigana disse-me que vou casar no dia trinta de Maio.' Foi preso no dia treze e fuzilado no dia trinta. A mulher tinha misturado a linha do coração com a linha da vida."
Czeslaw Milosz, A Tomada do Poder.
Tradução de José Jacinto da Silva Pereira.
Pó-de-tijolo: O diário quotidiano de Max Smash
DAY FIVE (4ª-feira, 27 de Abril)
O dia mais quente de sempre do Estoril Open? Não sei. O que sei é que o calor atacou em força.
Cheguei às 11 e picos ao Jamor. Desisti de ver os Pares no court 2, muito exposto à brasa. O croata Karlovic (2 metros e 7) disparava serviços-morteiro. Ganhou 6/3, 6/3. Aquilo até mete impressão.
Pequena entrevista a Nuno Delgado, que está a colaborar numa divulgação de azeite. Ida até à Tenda dos Sponsors.
Fiquei anestesiado, sentado numa cadeira, durante uns 20 minutos. Passado um bocado, um quarteto de cordas da Orquestra Municipal de Lisboa, atacou clássicos de música erudita. Pedro Santana Lopes só chegou mais tarde aos camarotes, por isso perdeu a hipótese de pedir Chopin aos violinos.
Almoço.
Ida até ao Central, para o Garcia-Lopez face ao Pim-Pim Johansson. O sueco falhou demasiado. E lá se foi mais um cabeça-de-série.
Ainda vi um bom bocado do primeiro set do Gaudio-Tabara. Quando saí o Gaudio estava a vencer por 5-1. Acabou por ganhar 6/2,6/1. Mais um progóstico falhado. Desta vez por quatro jogos. O meu palpite era 6/4,6/3. Este ano não devo revalidar o título.
DAY SIX (5ª-feira, 28 de Abril de 2005)
Hoje foi o dia de assistir ao encontro mais cotado de sempre na história do Estoril Open: Carlos Moyà - Juan Carlos Ferrero.
Ganhou o Moyà, após uma interminável batalha em três sets que durou quase três horas.
Eu estava bem encaminhado para sacar uns pontinhos no concurso de prognósticos, mas como o Moyà desperdiçou o primeiro "set-point"... fiquei a zeros. Mesmo assim, tive a grata surpresa de ver que ganhei ontem, mesmo falhando por quatro o número de jogos do Gáudio-Tabara.
E agora estou em quarto lugar, a 10 pontos (uma vitória) do primeiro, uma miúda de A BOLA (Edite Dias) que é mais do andebol.
Dei um pulinho do Centralito, para bronzear o pulso esquerdo (tem a marca do relógio de pulso), mas fugi logo. As miúdas não estavam a jogar nada! Não quis saber que estivesse em acção a irmã do Krajicek!
Amanhã, quartos-de-final. A emoção está ao rubro!
Beijinhos e até amanhã, do vosso:
Max
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Luís Graça
28.4.05
Amor que tudo move
Baudelaire dedicou dezasseis anos da sua vida a traduzir Edgar Allan Poe. Saíram cinco volumes. Os documentos que atestam ter o francês intuído no filão fantástico de Poe um trampolim para a sua própria projecção de autor satânico jamais podem desdourar (como diria o Manuel) este caso de amor. Não conheço exemplo mais veemente na história literária de um génio obrando, constante e paciente, para a glória de outro. Não conheço milagre semelhante em tradução: cento e cinquenta anos depois, as versões de Baudelaire são ainda as que os franceses de hoje lêem. Cento e cinquenta anos depois continuam a editar-se e reeditar-se em Portugal (é o caso dos mais recentes livros no mercado, da Guimarães) traduções de Poe feitas a partir desse francês tão novo e enérgico, e servil ao seu farol, de Baudelaire.
Margarida Vale de Gato
Abrir aspas. Fechar aspas
as noites não são desertas. há sempre um carro que passa, capítulo sim, capítulo não, estragando a ficção vazia da janela.
ale 2:47 AM
Pó-de-tijolo: O diário quotidiano de Max Smash
DAY FOUR (3ª feira, 26 de Abril de 2005)
12 horas - Encontro no Monumental com o meu amigo Joaquim Cardoso Dias, professor e poeta. Um chaval da colheita do DN-JOVEM, uma escola de formação para escritores, fundada pelo Manuel Dias e fundeada nas nossas almas.
Missão: ofertar ao Alex Corretja um livro de poesia que tem um poema chamado... Alex Corretja.
Vem no "O preço das casas" (Gótica, 2002), com capa de Damião Porto.
E então, na página 35, diz assim:
hoje vou acreditar que ao escrever
o nome de um pássaro branco
o teu silêncio fascinado
se atira ao mar
com estas asas
O Alex esteve no Centralito 2 horas e 46 minutos para perder em três sets com o Feliciano Lopez. Depois, com o auxílio do Miguel Seabra (que nos levou à sala de jogadores), conseguimos ofertar o livro ao Alex, que ficou muito curioso com o poema e agradeceu. Como sempre, uma postura elevada e simpática.
Enquanto esperávamos, ficámos na conversa com outro bom exemplo de simpatia, o encordoador Rui Neves, ainda completamente absorvido pelo ritmo incessante de "amanhar" raquetas umas atrás das outras.
Mas isto foi já de noite.
14h25m - Eu o Quim já almoçámos e fomos de abalada até ao court número 1, onde o campeão do ano passado lutava pela vida com o costa-riquenho Martin, repescado da Qualificação. E não é que o Chelas foi mesmo à vida? Resta-lhe a prova de pares, ao lado de Robredo.
15h45m - Já estamos no court central, mas desta vez na cabeceira mais "batida a sol", porque o Quim não pode entrar na cabeceira destinada à Imprensa. Fiquei com o pescoço vermelho e um "bronze à camionista" nos braços, com direito a marca de relógio de pulso e tudo.
Vemos o Moya a ganhar ao Mantilla. No primeiro "set", o Moya desbaratou completamente o Felix. Mas depois a coisa complicou-se e nunca se sabe o que daria um terceiro "set".
17h55m - Já bem instalados no Centralito. Vimos o Pim-Pim Johansso a despachar o espanhol Calatrava e já estamos a seguir atentamente o Corretja-Lopez.
19h55m - Um casal nas bancadas. O senhor tem nas costas uma foto. Ele e ela de férias. Diz assim: "Made in Antíguas". Very in love, mas o cavalheiro está de óculos escuros à macho latino, com um toque tão subtil de ternura que nem vos digo nem vos conto.
20h02m - Lopez elimina Corretja.
Cantinho dos trocadilhos
# 27 Mantilla foi chamado de Mantequilla por um árbitro, em pleno court central, numa fase de qualificação, da primeira vez que veio ao Estoril Open. ESTA HISTÓRIA É VERÍDICA.
# 28 Carlos Moyà está tão interessado no atletismo que vai deixar o ténis e dedicar-se ao Maratona. Por sua vez, Carlos Móia já solicitou um wild-card para Roland Garros.
# 29 Os tenistas ofensivos gostam de subir à rede. Os alentejanos deitam-se nela e esperam que passe. Os internautas navegam.
# 30 Não é preciso ser um jornalista brilhante para brilhar no Estoril Open. Basta ter uma credencial ao sol. O reflexo é perfeito. Parece um espelho.
# 31 Se os fins de tarde no "court" central podem ser muito frios, não há como um Mantilla para trazer calor humano. Os jornalistas podem ajudar os espectadores com frio, cobrindo o acontecimento.
# 32 Felix Mantilla gosta tanto de chá de tília que na sua rua é conhecido pelo "Man-Tílico".
# 33 Todos os grandes toxicodependentes adoram o Estoril Open. É só inspirar. O pó anda no ar em todos os "courts".
# 34 Os senhores que regam o "court" não podem ser confundidos com "O regador mágico", uma sitcom inglesa que foi exibida nos anos 70, na RTP, com o título original de "Pardon, my genie".
Diálogos Identificados da Realidade Jamoral
- Olha uma vespa ! (Quim)
- Deixa-a ir. Se fosse uma Harley-Davidson é que valia a pena. (Max Smash)
Beijinhos e até amanhã, do vosso:
Max
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Luís Graça
27.4.05
Out of Africa
Estou a traduzir um livro muito bom sobre a História da África Negra, da autoria de Elikia M'Bokolo. É curioso mergulhar assim de novo no passado e cotejá-lo com a pobreza intelectual do nosso presente.
Lembrando-me das discussões actuais sobre África, e vendo a perfeita vacuidade das perorações dominantes (e incluo também aqui as dos actuais dirigentes africanos, mas sobretudo os nossos comentadores vazios de história e cheios de estórias) não posso deixar de pensar como é refrescante ler isto de Julius Nyerere:
«O sistema actual foi instituído pelos Estados industrializados para servir os seus interesses. Trata-se de um facto histórico e não de um juízo moral! Daí resulta que o grupo das nações industrializadas - que também agem em grupo quando tratam com os outros países - detém as alavancas das finanças e das trocas comerciais internacionais e dispõe também das riquezas acumuladas por séculos de colonização e de diplomacia das canhoneiras, e ainda graças a um avanço inicial nas técnicas de produção de massa. Também neste ponto se trata de factos e não de juízos morais. Se a moral tem algum papel a desempenhar neste assunto, e esse é o meu entendimento, esse papel diz respeito ao futuro. Pois nós, o Terceiro Mundo, exigimos agora que se mudem os sistemas que enriquecem os ricos e empobrecem os pobres, e isso na época das outras mudanças surgidas no mundo: o fim do colonialismo, os progressos da tecnologia e a nova aspiração da humanidade à igualdade e à dignidade humanas.»
Claro que os dirigentes de então foram o mais depressa possível varridos para debaixo do tapete. Não me identifico plenamente com eles, nem com os regimes e Estados saídos da descolonização, mas que tinham outra estatura, tinham.
Existiu noutros tempos um grande gigante
Por estranho que pareça, estas são duas das mais antigas traduções de Gârgantua e Pantagruel existentes em Portugal. Pelo menos a fazer fé nos dados disponibilizados pela Porbase. A primeira data de 1945 e a segunda de 1946. Pertencem à Colecção Pinóquio, de livros para jovens, que era dirigida por Henrique Marques Júnior (que também traduziu os livros), e editada pela Livraria Latina, que, na altura, também era editora.
Estes livrinhos custaram-me apenas cinquenta cêntimos na feira de saldos que a Latina (Rua de Santa Catarina, no Porto) está a promover até ao fim deste mês. E ainda restam vários exemplares.
O Município Plantou um Freixo
O município plantou um freixo
no passeio de casa
da minha tentadora vizinha
para que eu veja com que graça
ela varre as suas folhas no outono
plantou-o o intendente revolucionário
e agora quem o poda é o reaccionário
de maneira que pela sua dialéctica vital
deve ser esta a árvore da ciência
do bem e do mal
eu não vejo a hora
em que este freixo dê maçãs
como o ulmeiro dá peras
e a serpente a convide
e ela me convide a mim.
Francisco Gandolfo (Argentina, n. 1921). A "tradução" é minha.
LA MUNICIPALIDAD PLANTÓ UN FRESNO
La municipalidad planto un fresno/ en la vereda de la casa/ de mi tentadora vecina/ para que yo vea con qué gracia/ ella barre sus hojas en otoño// lo planto el intendente revolucionario/ y ahora lo poda el reccionario/ de modo que por su dialéctica vital/ debe ser este el árbol de la ciencia/ del bien y del mal// yo no veo la hora/ de que este freno dé manzanas/ como peras el olmo/ y la serpiente invite a ella/ y ella me invite a mí.
Um aforismo para estes dias
As portas do Poder são muito baixas. Só os que se curvam entram por elas.
Pó-de-tijolo: O diário quotidiano de Max Smash
DAY THREE (2ª-FEIRA, 25 DE ABRIL)
13 horas - Chego ao Jamor e vou direito ao Centralito. As meninas do meio-dia já estavam despachadas e em "court" actuavam duas duplas de verdadeiros artistas, que extasiaram o meu coração selvagem e ávido de ténis: Pala/Novak e Chela/Robredo.
O primeiro "set" caiu 7/5 para a dupla Chela/Robredo. Estranhei. Os checos são mais dupla de Pares, o que se nota no estilo de jogo mais entrosado e numa maneira de estar no "court" mais "aparzada".
O segundo "set" pareceu dar razão aos meus comentários: 6/1 e toma lá disto. No terceira e decisiva partida, emoção foi coisa que não faltou. Os ventos andaram a banquetear-se com as angústias dos jogadores e foi num "tie-break" malandro que a coisa tombou para o lado dos menos favoritos. O Chelas e o Tommy. Ah! pois, porque o Novak (o Jiri não tem nada a ver com a Kim do "Vertigo") e o Pala (consta que paga as suas contas honradamente e não vive à pala) eram os cabecinhas-de-série número 4.
No desempate, a dupla vencedora esteve à frente por 6-1, permitiu o 6-6 e acabou por ganhar. Abraços, beijinhos e os cavalheiros cederam o "court" à Neuza, portuguesinha da Silva, que levou um duplo 6-2 da miúda de Madagáscar, que tem um nome complicado de escrever.
14h28m - Estou na Tenda da Imprensa, a cumprir o meu dever cívico, a 25 de Abril, votando no jogo do dia. Eu explico. Isto é um concurso para a Comunicação Social, que existe por esse mundo fora. Há um jogo seleccionado e a malta faz prognósticos, preenchendo um papelinho. Primeiro, é preciso acertar no vencedor. Depois, aposta-se no resultado. Seguidamente, increve-se o número de sets, o número de jogos e o tempo do encontro. Quem andar mais próximo vence. E vai somando pontos para os prémios finais. Eu sou o único tri-vencedor do concurso de prognósticos.
O ano passado empatei a 32 pontos com o meu amigo Manuel Perez (emérito jornalista) e deram um frigorífico a cada um. Também ganhei um micro-ondas, por ter vencido um palpite diário.
No primeiro dia, apostei num 6/3 duplo a favor do Gaudio. Andei longe!
14h35m - No "court" central, para seguir o encontro Leonardo Tavares-Galo Blanco. O português começou bem: dupla falta no serviço e vai buscar um "break", com 4 minutos de toma lá-dá cá.
14h51m - Ao longe, não se ouve o rufar de tambores, mas o rebentar de foguetes. Tavares perdia 3-0. Um camarada de lides jornalísticas (Jorge Figueira) esclarece que deve ser de uma Universidade em Monsanto. Pessoal a formar-se. Monsanto foi uma grande escola de vida para muitas mulheres.
15h10m - Não afirmo a cem por cento, mas a 99. Pareceu-me ver os cabelos louros e encaracolados de Ana Sousa Dias ao lado do professor Martelo. Mas a bancada de Imprensa fica por cima dos camarotes.
15h25m - Um ar de sua graça. Tavares executa um ás a 196 km/h! É d'homem!
16h05m - Mudo de "court". Tenho de comer qualquer coisa. Vão mais dois "cachorros". Emigração para a casa de banho. Retrete. Estou eu a "sair da retrete", vem o hoquista Filipe Gaidão a "entrar para os urinóis".
- Então, ainda está no JOGO?
- Não. Já me correram há quase três anos. Estou a escrever para a TV Guia e para um blogue.
17h35m - De regresso ao "court" central. Estou a assistir desde o princípio ao Gaudio-Hernych. Um jogo entre dois tenistas que nunca se defrontaram.
O Gaudio leva 1 hora e 3 minutos a perder o primeiro "set" no desempate. E a malta a pensar: olha, queres ver que o cabeça-de-série número 2 vai à vida?
E a verdade é que o checo desperdiçou um "match-point". Depois, com muita dificuldade e alguma inconstância, Gaudio conseguiu triunfar na segunda partida por 7/5 e embalou decisivamente para correctivo bazooka: 6/0.
Ainda dei um pulinho ao Centralito, para ver um nadinha do Alonso-Karlovic (o croata é um martelo a servir, mas tem grandes limitações na posta restante). O espanhol ganhou, mas o croata ajudou como o caraças.
20horas - Na tenda de Imprensa, um cartaz grande diz: WC. E tem uma seta a apontar. Pensei que era um sítio para ir buscar "wild cards". Afinal, dei com uma casa de banho de campanha, muito gira. Tipo barraquinha medieval. Funciona tudo a pedal. O pedal do autoclismo é mesmo castiço. Parece de um camião TIR. Um gajo carrega e escorre água azul na retrete. Pacifica a alma. É uma das grandes novidades do Estoril Open.
20h35m - Na palheta com o meu amigo Freitas, com quem frequentei um curso de jornalismo em 1981 na Casa do Alentejo. O filho já foi nº3 no ranking de infantis. O puto é-me apresentado e está grande como o caraças.
Passa o meu amigo Américo e diz: "Queres boleia"?.
Quis. E foi assim que voltei a casa, a tempo de ver o Braga perder em Penafiel.
Cantinho dos trocadilhos
#11 As roupas da Massimo Dutti são pagas. Não é Dutti Free. O dever acima de tudo, mas apenas em inglês é que Dutti é dever.
#12 J. Chela não mora na Zona J de Chelas nem entrou no filme "Zona J".
#13 A 25 de Abril de 1974, os portugueses tiveram uma Revolução dos Cravos. Trinta e um anos volvidos, aguarda-se ansiosamente que se proceda a uma outra revolução: a Renovação dos Cravas. Continua-se a cravar sem vergonha nenhuma e isto não vai lá com flores metidas nos canos de G-3.
#14 O espanhol Galo Blanco quis aderir à Unita, mas o partido do Galo Negro não gostou da ideia. Galo Blanco gostava de beber um Black & White, com Barry White, que tinha uma típica voz negra.
#15 Diz o árbitro: "Jogo Blanco". Quem o mandou jogar na lotaria?
#16 Se Galo tivesse nascido em Barcelos, podia ser um símbolo nacional português e não um símbolo do ténis espanhol.
#17 Galo Blanco quis ir a Almada, para subir ao Crista-Rei.
#18 Gaston Gaudio é um excelente tenista, mas tem duas facetas. Tão depressa provoca o gáudio da assistência com uma excelente jogada, como faz uma "gaffe" tremenda. Nessas alturas, só não é o Gaston Lagaffe porque lhe falta carisma para ser personagem de BD.
#19 Sempre que Gaston entra em campo há Gaudio no "court".
#20 Gaudio fez dois "balões" fabulosos a Hernych. Montgolfier também era bom. E o João. O "balão" do João, sobe, sobe pelo ar...
# 21 "Time", disse o árbitro. Um apanha-bolas magrinho, diligente, chegou 15 minutos depois com uma revista e deu-a ao árbitro.
- Isto é a "Newsweek". Eu pedi expressamente a "Time"!
#22 O tie-break é a pausa para a gravata. O Thai-Break é uma fractura tailandesa.
#23 O slogan do Estoril Open deste ano é: ?Vantagem sua?. Uma organização deste calibre e não arranja um anti-transpirante para a vantagem?
#24 No dia 25 de Abril, não houve verdadeira liberdade nos "courts" do Jamor. Era preciso manter a bola na linha.
#25 Há jogadores de ténis que arriscam imenso quando actuam no Estoril Open. São os que gostam da culinária portuguesa e dos seus maravilhosos petiscos. "Quem não arrisca não petisca".
#26 Gaston Gaudio não é do Pragal. Mas fartou-se de praguejar e dizer "Mierda". O árbitro não acedeu ao seu pedido de estrumar o "court" central. Já bastava a porcaria que Gaudio fez nos dois primeiros "sets".
Frase do dia
"Quando se cumprimenta uma pessoa, deve-se dar dois beijinhos nas faces e não deixar ninguém pendurado com um beijinho apenas. É manifesta má-educação."
Jorge Figueira, jornalista
Diálogos Anónimos da Realidade Jamoral
Dois chavais por trás de mim, no "court" central, durante o Gaudio-Hernych:
- Eu disse à miúda que lhe pagava um gelado. Ela pediu uma bola de Haagen-Dasz. Foda-se! São 2 euros e meio!
- Emprestas-me dois euros?
- Para?.. Uma fatia de pizza?
- Sim.
-Ainda vim de lá agora.
Diálogos Imaginários da Irrealidade Demencial
As bolas de Leonardo Tavares não estavam a bater no sítio certo do ?court? central. Ana Sousa Dias levantou-se do camarote e berrou para dentro do campo:
- Leonardo, "Por outro lado"! "Por outro lado"!
Cantinho das mágoas
Do desejo e da saudade: Eram quatro. Tiraram os casacos. Ficaram de ombros nus. Rita Hayworth, em "Gilda". Lembram-se?
Nada mais por hoje. Até amanhã e um bom soninho, se for caso disso. Atentamente:
Max Smash
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Luís Graça
26.4.05
Pó-de-tijolo: O diário quotidiano de Max Smash
DAY TWO (DOMINGO, 24 de ABRIL)
11 horas - Toca o despertador. Falta a coragem para ir nadar para o Holmes Place. Parecendo que não, o ar do Jamor puxa. Falho igualmente a corrida de Fórmula Um e mais um êxito do Alonso. Saio da cama perto das 15 horas.
15h45m - Chego à zona de restauração, ao pé do Centralito.
- Já há "cachorros quentes"?
- Claro.
- Quero dois. E uma lata de Pepsi.
- Molhos?
- Poucochinho "ketchup", por favor.
- Quer um tabuleiro?
- Sim. Vou levar lá para fora.
Acabo por me envolver numa conversa a dizer mal do Peseiro. Ajudei à festa. É sempre bom ?catarsear? estes empates que nos ficam atravessados na garganta (Sporting,0 Académica,0).
Uma senhora senta-se ao pé de mim, vê-me de credencial ao pescoço e pergunta:
- O senhor é que organiza isto tudo?
- Não, sou jornalista.
(Vai mais uma dentada no "cachorro" e uma golada generosa de Pepsi. Mas ainda estive para limpar os beiços, dar dois beijinhos na senhora e dizer: "Olá, sou o João Lagos. Muito prazer. Quantos convites quer para a final"?)
15h50m - Atrás de mim está a barraca da Olá, sempre a Olá, este ano com a concorrência da Hagen-Dasz, perto do "court" central. Uma família normal (pai, mãe, dois putos) prepara-se para comprar gelados.
E o pai, para um dos putos:
"A próxima vez que gritares apanhas na boca. Estou-te a dizer".
O puto acalmou. O gajo era homem para lhe dar, palavra de Max Smash, que continuava a lambuzar-se javardamente com o "cachorro", deixando o "ketchup" imiscuir-se perigosamente por entre o farfalhudo bigode black & white, a denunciar a sua qualidade de quarentão e veterano do Estoril Open.
16h12m - Estou no "court" 1, bem recheado de público. O português Hugo Anão está a dar luta ao polaco Chadaz, que bate bem de direita e esquerda (a duas mãos), mas é raro sair do fundo do "court". Pratica um ténis típico de percentagem, arriscando pouco para ganhar os pontos. O chaval lusitano deixa-se enervar e sofre uma quebra de serviço a 4-2, no segundo "set".
16h21m - O público puxa por Anão, mas este revela certas dificuldades em agigantar-se o suficiente.
(Este trocadilho é freelancer, por isso pode haver ocasiões em que os trocadilhos apareçam fora do seu gueto próprio, o Cantinho dos Trocadilhos)
Um cavalheiro, tentando pressionar o árbitro, num ponto perdido por Anão: "O serviço foi um quilómetro fora".
16h28m - Anão reduz para 4-5 e a esperança toma conta do "court".
16h31m - Menos um Anão no Estoril Open (5/7, 4/6).
16h41m - Chego pela primeira vez ao "court" central. Tiago Godinho acabou de perder o primeiro "set", por 7-5, com o espanhol Fraile. O "set" demorou 1h05m. Porra!
O público do "court" 1 vem apoiar o português, que foi assistido na zona do ombro direito pelo "trainer" (o fisioterapeuta do ATP, a Associação dos Tenistas Profissionais). O campo é regado. Tem a sua arte. Não pensem que é só chegar lá e regar. Há uma escola da mangueira, mas a mais famosa só actua no carnaval brasileiro.
A 2-2 do segundo "set" o árbitro proferiu "Bolas Novas" mas não vi ninguém conhecido que tivesse sido operado aos testículos.
17h08m - Godinho sofre "break" a 2-4.
17h35m - Menos um Godinho no Estoril Open (5/7, 2/6). Uma hora e trinta e cinco minutos de abnegada resistência.
17h33m - Cá está o Max no seu "court" favorito, o eminente Centralito. E foi lá que o Max viu o melhor jogo da tarde, já com cheirinho de quadro principal. Mais um espanhol bem dotado tecnicamente, frente a Cernak.
17h37m - Uma lagartixa vem armada em Ayrton Senna da Silva pelo muro acima. Faço sinal de stop com a mão e ela virou de bordo à velocidade da luz. Cabronas das lagartixas, são castiças como o caraças!
18h30m - Cernak venceu em três "sets": 5/7, 6/4, 6/2. O público destroça. Não me apetece nada levantar. Estou com espírito de cair da tarde na praia. Os lábios secos e o cérebro a pingar de indolências.
19h08m - As lonas cobrem os "courts". Acabou a jornada. Moya já acabou o treino.
Cantinho dos Trocadilhos
#5 Vítor foi o Hugo gigante da literatura francesa. Anão é o Hugo do ténis português.
#6 Todos os anos, todos os dias, os jogos do Estoril Open têm uma ordem de jogos. Durante três anos, como jornalista, Max Smash esteve à ordem de O JOGO. Em Setembro de 2002 descobriu que afinal estava a prazo, quando recebeu a carta de "adeus e obrigado".
#7 Ronald Reagan era bom na rega dos "courts". Regazzoni era bom a regar à zona. A zona regada por CLAY Regazzoni era melhor do que a zona regada por Reagan. Vamos "regar" o feliz acontecimento. Mais vinho para esta mesa!
#8 Prefiro estar nos "courts" de ténis do Jamor do que sofrer um corte no meu pénis, o que provoca dor.
#9 A segurança do Estoril Open é da Prosegur. Mas quem segura a Condessa de Ségur? Anda por aí na rambóia e depois põe-se a escrever livros "light" do século passado.
#10 O Estoril Open não está nas lonas. Mas as lonas estão no Estoril Open. Todos os dias, ao final da tarde, depois de concluídos os jogos.
Um grupo de diligentes funcionários ?puxa as orelhas? ao ?court? e cobre-o meigamente. Ficam as rugas nas lonas e os tugas procuram as gajas boazonas. Não há mais ténis. Está na hora de pensar no pénis e outras coberturas.
frase do dia
"Nem os portugueses são bons para os portugueses"
(Uma senhora, descontente com a arbitragem de um árbitro português no encontro entre o Anão lusitano e o polaco mediano Chadaz. Terá andado a ler José Gil?)
Diálogos Anónimos da Realidade Jamoral
- Então, este ano veio mais cedo...
- Vim, é à borla. Amanhã já pago.
- Eu já comprei o bilhete semanal.
Diálogos Imaginários da Irrealidade Demencial
Repórter da RRM (Rádio Rainha Má):
- Branca de Neve, o que pensa da eliminação de Hugo Anão?
- Não faz mal. Ainda sobram seis para as minhas necessidades.
Cantinho das Mágoas
Da inveja: O sol a bater nos cabelos das mulheres bonitas faz-me mal ao coração. É pena eu não ser uma mulher bonita, para fazer sonhar os homens.
Do ciúme: quando beijei os teus lábios promíscuos percebi que eram uma terra batida.
Amanhã há mais. Beijinhos e um queijo da serra, do vosso:
Max Smash
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Luís Graça
Sem Título
Henry Peach Robinson, Desvanecimento, 1858.
Creio que será uma das grandes exposições de 2005. No CPF, até 22 de Maio. "Experimentação na Colecção Fotográfica do IVAM", inclui um amplo conjunto de fotografias da colecção do Institut Valencià d'Art Modern, que percorre os principais momentos da história da fotografia, com obras de Fox Talbot, John Baldessari, Robert Frank, Richard Hamiltom, Moholy-Nagy, Rodchenko, El Lissitzki, Cindy Sherman, Edward Weston, entre dezenas de outros. A fazer lembrar a inesquecível exposição "A Vingança de Verónica", da colecção da baronesa Marion Lambert, que esteve no CPF em 2000.
Liberdade
É muito comum pensar-se que os militares nos trouxeram liberdade, ao depor o regime fascista. No entanto, considero ser mais correcto dizer «esperança de liberdade».
Partindo de duas frases que conhecemos tão bem, que incluem a palavra «liberdade», damos conta de que o discurso corrente perverte o seu autêntico significado. São elas: «posto em liberdade» e «a minha liberdade acaba onde a do outro começa».
A primeira falácia é pensar que há um sujeito que tem o poder de nos pôr em liberdade. Não há ninguém que o possa fazer por nós! Para que faça sentido, sugiro como alternativas «eu liberto-me» ou «tu libertas-te» ou «ele liberta-se». Na 1ª e na 2ª pessoas do plural isso já não é possível, sem que se caia num tamanho disparate. O substantivo abstracto, que remete para algo exterior ao homem, constitui eventualmente um ideal que é conquistado, passo a passo, na vivência diária de cada um. É tão débil por si mesmo que só é capaz de funcionar com a muleta do verbo. Não será mais justo falarmos em «libertação»? Ou, como dizia o outro, em «liberdade livre»?
Na segunda frase, que a professora primária me ensinou, subentende-se que há quem tenha que renunciar à liberdade, para que outro a usufrua, ou seja, um deles pode mandar e o outro obedecer. É uma contradição com a substância própria de liberdade. Como é isso possível? Ou há ou não há!
À parte a gramática, há que viver a liberdade.
André Sousa Martins
Que "Noites" são estas?
«Acabei de ler "Noites na Granja ao Pé de Dikanka". Espantaram-me. São a verdadeira alegria, sincera, desenvolta, sem denguices, sem afectação. E, por vezes, que poesia, que sensibilidade! Contaram-me que, quando o autor entrou na tipografia onde se imprimiam as Noites, os operários gráficos começaram a rir-se, tapando as bocas com as mãos. O chefe tipógrafo explicou esta animação dizendo-lhe que os compositores, quando imprimiam o seu livro, não paravam de se rir. Moliére e Fielding, com certeza, ficariam muito contentes se fizessem rir os seus tipógrafos.»
A. Púchkin, carta de Agosto de 1931.
"Noites na Granja ao Pé de Dikanka", a obra de estreia do jovem Nikolai Gógol, traduzido do russo pela Nina Guerra e o nosso Filipe Guerra, e com edição da Assírio & Alvim, disponível nas melhores livrarias, e nas piores também.
Voltarei a este livro.
Pó-de-tijolo: O diário quotidiano de Max Smash
Olá, o meu nome é Max Smash, mas há quem me conheça por Luís Graça, Dick Hard ou Inocêncio Pinga-Amor. Mergulhem comigo durante 9 dias nas entranhas do maior torneio de ténis português. E não se queixem.
DAY ONE (23 de Abril, sábado)
Olha, um dia cinzento, a ameaçar chuva. Em vésperas da evocação da Revolução dos Cravos. Saio de casa sem chapéu-de-chuva ou o meu boné-fetiche, de felpa azul e carrapitinho no alto. Próprio para o Estoril Open.
Jamor, 12 horas - Direcção: tenda das credenciais. Safei-me em 15 minutos, mas tive sorte. Houve quem esperasse uma hora. Logísticas. Identifico-me: "Luís Graça, TV Guia, já está aí a foto no computador". Encontraram a ficha do ano passado, pela revista "Pessoal".
- Mas podem não aceitar o pedido de credenciação.
Olha, olha, eu sou totalista do Estoril Open. Um veterano destas guerras. Haja respeito. Tiro a foto à la minuta e fico com ar de respeitável escritor. A credencial é o dobro do tamanho dos outros anos.
12.37h - Tenda dos Sponsors (o espaço nobre, mas às vezes os jornalistas plebeus podem entrar. É o caso) - Dá-se início ao sorteio do quadro feminino de singulares, com a presença da segunda cabeça-de-série da Qualificação, uma loura matulona de olhos azuis, a menina Safarova.
12.54h - Chega o Professor Martelo, para ajudar no sorteio do quadro masculino, que tem fichas azuis, ao contrário do feminino, que tem fichas brancas. O rosa ficou esgotado nos casaquinhos de malha oficiais, como o que vestia a dakariana Joana Lemos. Os vestidos às florinhas também são muito queridos, tipo Barbie.
13.10h - Acabou o sorteio. Troco meia-dúzia de palavras com João Lagos. O sorteio não foi nada agradável para a saúde do torneio. Começa logo com lagosta e cozido à portuguesa, sem entradas.
Ah! não estão a perceber? Eu explico. Uma saraivada de craques ocupou despuduradamente a parte de cima do quadro e deu logo encontros como Moya - Mantilla. Na primeira metade do quadro estão nomes como Ferrero, Chela, Novak, Robredo ou Albert Costa.
Vai ser bonito!
14 horas - Almoço bifinhos de peru com cogumelos e bebo Pepsi. Por 6 euros e 45 cêntimos.
14.20m - Chego ao court Centralito e está um português em acção, João Antunes, frente ao polaco Chadaj, um desconhecido do meu arquivo mental. O lusitano está a ganhar o segundo set por 5-3 e vence 30-0 para fechar a segunda partida, com bolas novas.
14.37m - Então, adeus, ó João. Por acaso foi pena (2/6, 5/7).
No court 1, Ricardo Cortes luta com o americano Jim Thomas, um especialista de Pares que aproveita a Qualificação de Singulares para rodar e se adaptar aos "courts".
15 horas - Bato em retirada. Vou para a Luz ver o quinto jogo da final de voleibol. Apanho o comboio na Cruz Quebrada e o mar está com raiva de alguma coisa: cinzento, sujo e encapelado.
Cantinho dos trocadilhos
#1 A propósito da chinesa NA LI e do espanhol MARCOS JIMENEZ LETRADO.
- Então, já leu o "Equador"?
- Na li.
- E "O código Da Vinci"?
- Na li.
- E "Memórias de minhas putas tristes"?
- Na li.
- Eu sei que sou Letrado, mas a menina podia ter lido alguma coisinha, que não lhe punha os olhos mais em bico do que já tem. Afinal, já leu alguma coisa de um autor português?
- "Mao tempo no Turcifal", de Wi Torino Amnésico.
#2 A propósito do jogo entre o americano Jim Thomas e o português Ricardo Cortes.
- O teu apelido, Courts, é muito tenístico. Thomas alguma coisa?
- Pode ser um gin, Thomas.
- Está a sair, Ricardo. E não te cortes. Vai bem aviado.
#3 A propósito da chinesa JIE ZHENG
Diálogo canibal:
- Gostavas de comer a Jie Zheng?
- Preferia beber um Ginseng.
# 4 A propósito do sueco Joachim Johansson, que tem a alcunha de PIM PIM, por causa dos serviços-dinamite.
O Pim Pim esteve no sorteio do quadro principal, mas não deu nenhum pum. Trazia um chapéu da Yonex sem pompom. Quando começar a jogar é que vai ser PUM PUM (1º e 2º serviços).
O chaval diz que não está preocupado com o vento. O Miguel Seabra perguntou-lhe porque é que tinham desaparecido de circulação os suecos de terra batida dos 70's. Ele respondeu com o título de um livro de Margarida Rebelo Pinto: "Sei lá".
Adivinha do dia
Porque é que na Tenda dos Sponsors há muitas vezes barracas?
Solução: Bar Aberto.
Frase do Dia
"Está muito forte, a parte de cima do quadro"
Prof. Martelo Rebelo de Sousa, 13.05horas.
Número do Dia
199 (números de passos entre a entrada da Tenda de Imprensa e a Tenda dos Sponsors)
BEIJINHOS E ATÉ AMANHÃ, DO VOSSO
Max Smash
SITE OFICIAL DE CARREIRA DO ESTORIL OPEN
SITE OFICIAL MILICIANO DO ESTORIL OPEN
(Continua dentro de momentos...)
Luís Graça
25.4.05
Picando o ponto...
25 de Abril, sempre.
Para que não se julgue que estes bloguistas são alguns esquecidos, ou vendidos, ou coisa que tal.
O que se passa é que toda a malta foi aos festejos (ninguém faz poemas de amor enquanto faz amor), e deixou-me aqui de piquete. Tenho de atender aos inúmeros consulentes, fazer a ronda ao blogue todos os quartos de hora, arear os puxadores das portas, etc., um trabalho do camandro. Nem dápararespirar.
Portanto, para que fique aqui de registo: 25 de Abril sempre.
Dímitra Mandrá
Veio-me pelo correio, "O Momento do Amor", um pequeno livro de poemas de Dímitra Mandá, traduzido por José Carlos Marques, e publicado com muito amor pelo próprio na colecção uniVersos (herdeira e filha da diVersos), edições Sempre-em-Pé.
Teria mil coisas a dizer sobre isto. Para encurtar razões, digamos que também na Grécia, a partir da década de 70, os poetas "voltaram ao real". Diria, de outro modo, que, perdidas as "grandes narrativas" (como se diz agora), voltaram ao quotidiano.
Para isso foi precisa a grande desilusão do fim do sonho duma grande Grécia (a expedição falhada à Ásia Menor, esmagada pelo exército turco), uma ocupação alemã, uma guerra civil, uma ditadura. Muitas vidas estragadas.
Dímitra Mandrá recupera os ecos de Elytis, a poesia do Egeu, e reinveste-os no dia a dia. Dois exemplos:
Porque tu és o vento
Nas tuas grandes mãos
agarras os meus dias
e eu sigo-te por ruas
que não sabem o que é domingo
porque tu és o vento o outro
o inabitado.
O Som do silêncio
Oiço o vento
arrastando nomes apagados por antigas chuvas
por sobre casas extintas e mares de lenda.
Oiço o vento do deserto das árvores
que avançam nuas e minguam;
mas mais ainda oiço o silêncio
que de longe ecoa a minha nostalgia.
23.4.05
Carta
Ex.a Sra.
Faleceu o marido de V. Exa., colaborador da nossa empresa, no dia 28 de Março de 2005.
Num primeiro tempo, poderia afigurar-se que, sendo os salários pagos no final do mês, ficava a nossa empresa devedora dos vinte e oito dias de salário decorridos desde o final de Fevereiro. Acontece, porém, que o marido de V. Exa. tinha introduzido um vale sobre vencimentos a haver no valor de um mês de salário, pelo que, pelo contrário, nos ficou devedor de quatro dias de salário (o próprio dia 28, segunda-feira, em que já não compareceu no seu posto, e os dias 29, 30 e 31 de Março).
Mais estava o seu marido na posse de quatro tickets de refeição, no valor de 12 euros, que, como V. Exa. deve saber, são, na nossa empresa, entregues antecipadamente, no princípio do mês, prática que dura desde 1 de Janeiro de 2003.
Como legítima herdeira do falecido deve-nos, pois V. Exa., a soma de 12 + 120 euros, num montante total de 132 euros, que poderá V. Exa. liquidar através de cheque ou numerário, ou por transferência bancária. No caso de inadimplência desta obrigação, reservamo-nos o direito de proceder judicialmente contra V. Exa. e/ou qualquer dos outros herdeiros reservatários do falecido.
Sentidos pêsames.
De V. Exa., atentamente,
José Martins Borracho de Carvalho
em nome de Borracho e Carpinteiro, Lda.
22.4.05
Estatísticas homéricas
A palavra "sangue" (haima) aparece 116 vezes em Homero. A palavra "piedade" ("eusébeia", respeito pelos deuses, sem ser o Eusébio) aparece 0 vezes.
Hitler/Ganz: a face do monstro
Lotação esgotada na estreia do Festival Indy no Forum Lisboa. Eram 20h30m. E lá ficou o Luís Graça a olhar para a menina da bilheteira com cara de parvo. Não que a surpresa fosse total. Ficarão para outras núpcias (será?) as imagens de "Born into Brothels".
Tempo para sentar num banco da Av. Roma e esperar pela chegada do meu amigo Álvaro, com quem tinha combinado a sessão. Aceitou o meu plano B. Regressei às cadeiras do Londres depois de uma longa ausência.
Mesmo assim, mais longa que "A Queda", que teve direito a intervalo pelas 23 horas. Não se pode absorver o senhor Adolf Hitler de uma assentada.
Belo filme, que me prendeu ao ecrã do princípio ao fim. A mim e à trintena de espectadores que rumaram ao Londres em noite de estreia. "A queda", filme-choque em 2005, sobre uma guerra que acabou em 1945. Que mistério encerra Hitler para que, tantos anos passados, a evocação da sua figura ainda faça tremer muita gente?
Já vi muitos documentários sobre a morte de Hitler, nomeadamente no Canal História. Já li um bocado sobre o tema. Mas "A queda" apresenta a mais-valia cinematográfica de se basear num livro de memórias da sua secretária. É uma viagem aos infernos do "bunker", com demoradas paragens e apeadeiros na monstruosidade de Hitler, espectacularmente interpretado (ou mimado, os encarnado, ou vestido) por um Bruno Ganz a anos-luz do anjo de "As asas do desejo".
Até aqui nada de novo. Conhecedor das capacidades de Ganz, limitei-me a confirmar os seus talentos. Que mais não fazem do que encaixar como uma luva num filme extremamente credível e que não faz campanha como Michael Moore.
Já se disse e escreveu que o filme humaniza demasiado a figura de Hitler, o que não seria aceitável na Europa de hoje, de um ponto de vista ético. Se o que nos é dado ver humaniza demasiado Hitler...vou ali e já venho. O filme mostra meia-dúzia de afirmações perfeitamente terríficas, seja em relação ao holocausto, seja em relação ao povo alemão, que Hitler entrega ao seu destino de forma fria e cruel, responsabilizando-o por todas as desgraças da Alemanha.
O casting é bastante eficiente e a reconstituição de Berlim é muito bem feita. As cenas de guerra urbana estão quase ao nível de "Estalinegrado", que era nitidamente um filme de guerra, ao contrário de "A queda", que é um filme sobre a culpa e sobre Hitler.
Porque é com a aceitação plena da culpa, por parte da sua secretária, que o filme abre e fecha. Pelo meio, explicam-se as razões dessa culpa.
Um grande filme.
Luís Graça
Os gloriosos dias da rádio
A Festa da Música começou hoje e decorre até domingo, no CCB, em Lisboa. A Antena 2 está a transmitir em directo alguns dos melhores concertos da Festa, numa espécie de emissão non-stop. Dos concertos que a rádio nos ofereceu esta tarde, gostaria de destacar as Vinte e Seis Variações sobre "La Folia di Spagna", de Salieri, seguidas da 5ª Sinfonia de Beethoven, numa interpretação da Sinfonia Varsovia, com direcção de Peter Csaba. E, neste preciso momento, o grandioso Requiem de Cherubini, pelo Coro do Teatro Nacional de S. Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a direcção de Donato Renzetti. Ambos decorreram na sala Waldstein, no CCB, e num obscuro gabinete de trabalho situado algures no grande Porto.
Um Quixote moderno
O nosso José Saramago tornou-se finalmente útil: escreveu o prefácio para o Don Quijote ilustrado que Hugo Chávez, para fins de alfabetização e iluminação cultural (e quiçá política, de forma indirecta), vai mandar distribuir gratuitamente, a partir de amanhã, por um milhão de venezuelanos! Na nossa fatuidade de pretensos detentores da verdadeira cultura, teremos sem dúvida duas reacções: uma pavloviana, aquela que surge sempre que ouvimos as palavras «Chávez», «Lula» ou «Fidel» e que nos faz salivar uma inteligente baba irónica; outra mais elaborada e racional que vai dizer que Chávez sim senhor, mas provará também, por a mais b, que se trata de um gesto ridículo e megalómano, com evidentes fins políticos, enfim, que vai dizer que é o regresso do Livro Vermelho em forma de Quixote. (Não o digo por suposição, mas por ter lido um debate sobre o assunto no excelente blogue francês sobre livros que se chama La République des Livres, donde tirei esta notícia.) Mas haverá quem se imagine venezuelano, ou tão-só tente compreender com humildade mais uma cultura diferente da nossa, para dizer que se trata de um gesto visionário de libertação, de perfeita identificação simbólica e política de um presidente que, como Quixote contra os moinhos de vento, ousa lutar contra o inelutável?
Filipe Guerra
El sicópata
Me da una gran alegría cuando me dan guita (aunque sea una miseria) por mis versos. Es como si me dijeran «qué lindo es usted, tome por su belleza»
Francisco Gandolfo.
Uma rua para o Hermínio
Chega-me à caixa do correio um envelope da Câmara Municipal de Lisboa, com um convite:
"A CML convida V. Exª a assistir à cerimónia de descerramento da placa toponímica da:
Rua Hermínio Monteiro, Editor, 1952-2001
que terá lugar no dia 22 de Abril de 2005, pelas 12 horas".
Viro o convite. Bem perto da rua do Hermínio existe já a Rua David Mourão Ferreira. Boa companhia para o Hermínio.
Questão básica: estou com coragem para ir?
Sabes, Hermínio, 2001 parece que foi ontem. E ando cobarde.
Luís Graça
21.4.05
Estamos tratados!
Que dizer de um Tratado-Constituição em que a palavra "banque" aparece 417 vezes e a palavra "liberté" 102 vezes?
Que dizer de um Tratado-Constituição em que a palavra "entreprises" aparece 112 vezes no plural e 51 vezes no singular e a palavra "citoyens" 33 vezes no plural e 26 vezes no singular?
(Nota do postante: Vai mesmo em francês, porque só nessa língua disponho da frequência das palavras, graças a Jean Véronis. Por acaso, uma das ocorrências de "entreprises" não é o substantivo, mas o particípio passado de "entreprendre").
Fotografia oferecida a este blogue pelo autor deste.
Post da Revelação
"Só pode ter sido o Espírito Santo a grande ajuda para que de forma tão rápida se chegasse à eleição deste Papa".
Carvalho Guerra, Reitor da Universidade Católica do Porto.
Viegas longe de Manaus
"Longe de Manaus" é o título do último livro de Francisco José Viegas, lançado com cheiro de maresia, ali para as vizinhanças do Tejo, no recomendável estabelecimento irlandês Hennessy's.
Fui.
Cheguei atrasado. Já não ouvi a apresentação do jornalista Rui Lagartinho.
Mas ouvi o Chico a prometer que ia escrever outro livro, pela simples razão de "ter prazer em juntar os amigos, a quem agradeço a presença".
E como Rui Lagartinho tinha feito destaque de Daniela, figura do livro, o Chico manifestou-se "disponível para a Daniela", confessando-se agradado pelo realce dado.
"Já me têm perguntado porque é que há personagens que aparecem e desaparecem. Não sei. Há aparições na nossa vida que valem a pena. Há cerveja. É óptimo. Obrigado por terem vindo".
Mas que livro é este romance de Francisco José Viegas, longo de 76 capítulos, 444 páginas (como a saudosa sala de cinema, Estúdio 444) e uma capa lindíssima?
"Reconstruindo a sua própria linguagem do romance policial, subvertendo as suas regras, escrito em tons e linguagens distintos, 'Longe de Manaus' é o romance da solidão portuguesa, o retrato distante e desfocado de um país abandonado às suas memórias e ao seu desaparecimento".
É um livro em que o detective Jaime Ramos "é levado a percorrer caminhos que o transportam entre Portugal, o Brasil e a memória de Angola". Um viajante, este Francisco. Tão depressa está a escrever um artigo sobre Trancoso (na Bahia) para a "Volta ao Mundo", como está de regresso a Portugal, concretamente a Aviz.
Digo eu: "Portanto, teoricamente temos mais hipóteses de nos encontrarmos".
Sai uma gargalhada discreta: "Teoricamente".
Os escritores como o Francisco são assim: não param quietos.
Regressei a casa, com um livro autografado. Para o meu pai, que nasceu em Manaus e tinha uma jibóia no sótão.
Luís Graça
20.4.05
Fotografia oferecida a este blogue pelo autor deste.
Papa morto, Papa posto
Foi quase assim, monarquicamente, o que indicia que já estava tudo feito. O catolicismo continua a espantar-nos com as suas práticas hipócritas, desde o celibato impossível à encenação de discussão democrática (quanto ao celibato, é facílimo para Ratzinger, tem 78 anos!). Note-se, no entanto, que Ratzinger foi o principal assessor teológico de Wojtyla, uma espécie de seu braço direito, logo, nada muda na Igreja, há apenas uma involução na continuidade. O meu amigo Fiódor Dostoiévski, ao atacar o catolicismo do ponto de vista outro tanto «fundamentalista» da sua ortodoxia russa, não deixava porém de ser certeiro: o catolicismo é uma religião comercial, interesseira, capaz de tudo para manter e arranjar clientela. Não sei se com a designação deste Ratzinger a estratégia comercial da Igreja será a melhor: como vai ele promover o produto com ideias e métodos medievais? Não esqueçamos que o homem é contra tudo o que é moderno, desde a ópera (!) ao preservativo! Mas não esqueçamos também que os golpes de rins são a especialidade desta gente (estratégia comercial oblige).
Ratzinger pertenceu às Juventudes Hitlerianas (mas diz que na altura era obrigatório), tem sido o chefe da Congregação para a Doutrina da Fé (a velhinha Inquisição, que só já não pode queimar hereges mas, enfim, faz o que pode). Para ele, só a raça católica conta, o resto é merda (no fundo, a ideologia nazi, e não sabemos quantos golpes de rins terá de fazer para manter a estratégia do seu antecessor neste particular). Tentam mostrar-nos o homem como um intelectual asséptico: nada mais falso, Ratzinger é um fanático militante. A sua divisa (camuflada pelas falinhas mansas próprias desta gente) é: tudo o que é laico deve ser condenado. O regresso às trevas medievais. Agora ouvimos nas televisões os porta-vozes do rebanho (à civil e fardados), com as atávicas falinhas melífluas, a tentarem caracterizar o personagem como humano. É claro que é humano, resta saber de que parte da humanidade. Dizem que ele come, sorri, diz a sua piada... E eu acrescento: é mesmo capaz de dar o seu peidito nos soturnos convívios cardinalícios. E depois?
Filipe Guerra
Nem loira nem morena, venha de lá essa "Ruiva"
Agora sou eu a jogar. Saco mais rápido do que a minha carteira, na FNAC Chiado. E lá vão 9 euros e 90. Com esperanças elevadas de terem sido bem gastos.
Começo a ficar afectivamente preso à colecção "Beltenebros", da Assírio & Alvim. E ainda a procissão vai no adro. Banhei-me no sangue das virgens sacrificadas pela "Condessa Sanguinária" e agora vou mergulhar de cabeça em "A ruiva", de Fialho de Almeida, com edição de António Cândido Franco, que recordo, além do mais, por uma extraordinária dissertação sobre a poesia do meu querido amigo Fernando Botto Semedo.
"Fialho de Almeida pertence àquela família de médicos que se tornam escritores porque vêem na literatura uma forma de medicina e na palavra um ácido corrosivo mas terapêutico".
Ora vamos lá a um cheirinho, só um cheirinho:
"-Vamos, disse eu. Há uma cousa pior que um cão danado; é um coveiro bêbedo. E saí.
Um dia antes, o meu escalpelo penetrara o corpo dessa perdida criatura, que veio a fornecer subsídios notáveis à minha tese inaugural".
Uma operária lisboeta (Carolina, a ruiva) filha de um coveiro e de uma varina, que dá em puta. A história é esta. Estão a ver-me a falhar a leitura disto?
Luís Graça
Porto, cidade abençoada
O profissionalíssimo Comércio do Porto, com o seu habitual e agudíssimo sentido de oportunidade, lembra, na sua edição de hoje, que Bento XVI já esteve no Porto, tendo "apreciado imenso o rio Douro e o contacto com os portuenses". Segundo Jorge Cunha, uma das personalidades que teve o privilégio de privar com o novo Papa durante a sua visita à cidade, em Março de 2001, Ratzinger "foi às caves Ferreirinha e apreciou muito o vinho do Porto". "Recordo-me que ele achou muita graça ao Palácio Episcopal. Ficou admirado por ser muito grande." Carvalho Guerra, reitor da Universidade Católica, por sua vez, "disse ao Comércio do Porto ter 'gostado muito do contacto com o Papa', realçando por diversas vezes que 'só pode ter sido o Espírito Santo a grande ajuda para que de forma tão rápida se chegasse à eleição deste Papa'".
19.4.05
Ai o meu umbigo
Resposta ao convite da Alexandra Barreto.
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
O livro que o Faulkner não chegou a escrever.
Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Fiz amor com pelo menos um personagem de cada livro que li. Personagens de ambos os sexos, devo dizer. E não raras vezes mudei de parceiro durante a leitura. Se assim não fosse a literatura não serviria para nada.
Qual foi o último livro que compraste?
"Pele Calejada", de Raymond Guérin, numa tradução da Luiza Neto Jorge. Descoberto ontem ao fim da tarde entre manuais de criação de periquitos e ABC's de Electrónica, numa pequena campanha de saldos da livraria Latina (Rua de Santa Catarina, Porto). Custou-me 0,75 euros.
A campanha decorre até ao fim deste mês.
Qual o último livro que leste?
"Tu Consegues, Noddy", da Enid Blyton. Ontem à noite. O meu filho também gostou.
Que livros estás a ler?
"A Tomada do Poder", de Czeslaw Milosz (Dom Quixote, 1987) e o terceiro volume das obras completas de Paulo Quintela (Fundação Gulbenkian, 1999).
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Levava apenas o Guia American Express dedicado a essa ilha.
A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
À Cristina;
ao Rui;
e ao Pedro.
Porque sim.
Juntos
Alexandra Monteiro, Manuel Resende, Rui Carlos Souto, Alexandra Barreto, Diana Almeida, Pedro Sena-Lino, Isabel Fernandes Pinto, Margarida Vale de Gato, Ângela Mendes Ferreira, António Pedro Ribeiro, João Alexandre Borges, Pedro Correia de Jesus, José Rui Teixeira, Vítor Oliveira Jorge, Marianna de Sá, Vasco Graça Moura, Ana Luísa Amaral, Rui Lage, Nuno Casimiro, Ana Cordeiro, Manuela Degerine, Ana Gomes, Pedro Martins, Teixeira Moita, Jorge Palinhos, Fernando Moreira, Sophie Kanawa, Paulo Castro, Micaela Maia, Orlando Neves, Alexandre Andrade, José Ribamar Neves Filho, Nicolau Saião, Otília de Sá, Alexandre Delgado, Teresa Ferreira Gentil, Virgílio Melo e Ângela Lopes.
Neste preciso momento, todas estas senhoras e senhores têm cara de papel couché de 150 gramas e estão a ser passados a tinta de offset, prensados, cortados, colados, cosidos e embalados.
O sétimo número da revista Aguasfurtadas está quase nas livrarias.
Os lenhadores
(entram, violentos e grosseiros)
Arreda! Lugar!
Queremos espaço!
Derrubamos árvores
Que estalam e caem;
E, quando as carregamos,
Lá vai encontrão!
Pra nosso louvor,
Vede se entendeis: -
Pois que se os grosseiros
Nunca trabalhassem,
Como se arranjavam
Sós os delicados,
Por mais que engenhassem?
Sabei isto bem:
De frio morríeis
Se nós não suássemos!
J. W. Goethe, Fausto, II Parte, Acto I.
Tradução de Paulo Quintela.
Fotografia oferecida a este blogue pelo autor deste.
Tens um filho a sério, ó Erico!
Erico Veríssimo tinha muitos méritos literários. Um deles é seu filho: Luiz Fernando Veríssimo. Dei com ele nas sagradas páginas da Playboy brasileira, que começou a chegar a este lado do riozinho em 1982. Digo eu, que nisto de corpos nus não falho muito. Comecei a ler prosas várias e o argumento para os desenhos de Edgar Vasques do divertidíssimo "Analista do Bagé".
Agora tenho já lidos vários livros do Luiz Fernando. E com as colectâneas que vão saindo umas atrás das outras, já começo a ficar baralhado.
A última maravilha não me deixou na dúvida: "Já tenho? Não tenho? Tem coisas que eu já li noutro sítio?". Não, desta vez fui-me ao livro como gato a bofe. Chama-se "O melhor das comédias da vida privada" (D. Quixote).
Vou estragar-vos deliberadamente o gozo de descobrir o final da crónica intitulada "Batalha", que trata de um marido que desistiu de extraordinário sexo, porque a mulher fez batota a jogar à "batalha naval" em plena lua de mel:
"(...) Os amigos concordaram que seria perigoso ficar casado com uma mulher que esquartejava e espalhava o seu porta-aviões. Por melhor que fosse o sexo, era preciso pensar no resto da vida, quando os intervalos ficariam cada vez maiores. Jorge nem chegou a contar que os submarinos de Gisela não constavam do diagrama da sua frota. Segundo ela, estavam submergidos, podiam estar em qualquer lugar, nem ela saberia onde encontrá-los. Era melhor pedir o divórcio".
Luís Graça
18.4.05
Olha, olha, ainda mexe
Anúncio saído no "Público" de ontem.
"Cinema Batalha vai reabrir as portas
O cinema Batalha, no Porto, vai reabrir. A autarquia chegou a acordo com os proprietários da emblemática sala da Baixa portuense e tem agora um ano para provar que o cinema é viável, avançou a TSF."
Notícia do "Público", de 16 de Janeiro de 2001.
Papa Morto, Papa Posto?
Não, isso é para reis. Fechou-se o Conclave na Casa, incomunicável, para decidir. O que havia a fazer de propaganda eleitoral já foi feito nestes curtos dias. A eleição do futuro papa interessa a todos: católicos, ateus e assim-assim, porque isso influi na nossa vida, sobretudo na vida que as televisões querem moldar para nós. (Não são as televisões que o querem, são os poderes que delegam nelas.) Sobre a eleição do futuro papa, pessoalmente não acredito que os inteligentes cardeais escolham, de entre as muitas hipóteses que se aventam, duas delas, muito assustadoras: a de Ratzinger, o medievo alemão, um fanático racional e frio; e a de Policarpo, o chico-esperto português. Pessoalmente, mais uma vez, não acredito que tanto Ratzinger como Policarpo tenham grandes possibilidades de vencer. Mas nunca se sabe... Quando o cidadão pensante lê os escritores do século XIX (e alguns são tão reaccionários e retrógrados!) e sente que, ao lê-los, não recua ao passado mas como se catapulta para a frente, algo vai profundamente mal no espírito da nossa época. Regressamos às trevas? Os católicos, e os cristãos em geral, têm um grande trunfo: Jesus Cristo, homem pensado como honesto, trabalhador, desinteressado, com ideias, corajoso e até heróico. Mas parece que Jesus Cristo e o próprio Deus estão na boca dos católicos como a palavra freedom e democracy estão na boca de Bush: um mero insulto propagandístico.
Mas somos portugueses, mordamos no português Policarpo. Vejo nele algum santanismo de carácter e de conversa, muito populismo. Também Santana Lopes, antes de cair em desgraça, tinham assim uns tiques de bon vivant. Não é que Policarpo não seja simpático, que até é. Não é que não seja humano, que até é: fuma, só lhe falta a mulher (ou as mulheres) ao lado. Humano, igual aos homens, como deviam ser todos os clérigos: assim pensarão os religiosos mais modernos. Até pode ter alguma santidade: a santidade está onde menos se espera. Não é que não dê para o cargo: a Igreja, hoje em dia, não se pode dar ao luxo de ter quadros geniais. Não é que não seja «bom político», ao nível de um Santana Lopes (de novo). Mas eu, que tenho de gramar um papa nas televisões, por mais que fuja, sentir-me-ia derrotado, amargamente derrotado, se o Policarpo fosse para chefe do Vaticano, e isto à vista da porca, porca campanha eleitoral nas televisões a que ele se dedicou nos últimos dias. Dois exemplos, um de «abertura» de espírito: acha ele que a monstruosa máquina de propaganda e lavagem cerebral que envolveu a morte de Woytila é natural, mesmo divina, e que, a haver problema nisso, tal problema é apenas de quem não aceita semelhante manipulação e a critica (o argumento indigente do chico-esperto); outro exemplo, inqualificável: como Woityla era popular, toca de se identificar com ele (com falsa modéstia) e de o propor para santo! Meu Deus, tanta areia para os olhos! Será que eles acreditam mesmo em Deus, ou se servem d'Ele? Do papa morto servem-se, isso de certeza!
Filipe Guerra
A lira e o pandeiro
Estava eu a dar autógrafos na livraria Assírio e Alvim do "King Triplex" (já lá vão uns mesitos), sem despertar grandes "Erecções" em homens e senhoras, quando a mão amiga e fraterna do Pedro me veio proporcionar a descoberta deste fenomenal "Se a lira pulsas e o pandeiro tocas", de António Lobo de Carvalho, o Lobo da Madragoa.
Como a ignorância é um monstro, o meu está bem alimentado e esta obra tinha-me passado completamente ao lado. O livrinho maldito tem a chancela da "& Etc" e tiraram-se mil exemplares em Abril de 1984.
Provavelmente a ganhar balanço para os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Pode-se mesmo dizer que este "Se a lira..." tem muito mais do que os mínimos para enfileirar com a poesia digna do nosso muito amado Manuel Maria. Ou seja, o Bocage.
De resto, este Lobo da Madragoa, que não um lobo qualquer em extinção, nasceu nos princípios do século XVIII em Guimarães. Não andou assim tão longe de Bocage.
Minhas senhoras e meus senhores, directamente das profundezas da poesia, aqui neste palco sem talco, só para vós, a voz do Lobo da Madragoa, o soneto dedicado ao berço da nacionalidade "que é a pátria do amor". Vai disto:
Olha tu, Guimarães, das cortes velhas
Nenhuma a primazia te disputa;
Ainda que baixa, és terrinha enxuta,
Onde são bem chuchadas as botelhas:
Panelas, socos, nabos e cernelhas
Do país foram sempre a melhor fruta;
Só dos dois animais o frade, e a puta,
Podes ter de alquiler três mil parelhas!
Daí vêm os heróis de marca e selo,
Que indo as honras buscar ao chão acima,
Acabam laureados de capelo:
Assim Jove imortal, que os bons estima,
Te ponha a mesma mão pelo cabelo,
Que pôs há tempos em Calhau de Lima.
Luís Graça
15.4.05
Fotografia oferecida a este blogue pelo autor deste.
"Justine" e Sporting passam no teste
14 de Abril de 2005, 18 horas e 30 minutos, Culturgest, Lisboa. Comunidade de Leitores liderada pela Helena Vasconcelos marca pontos. O debate em volta de "Justine" (primeiro livro do "Quarteto de Alexandria", de Lawrence Durrell, ou Lourenço Duracell, como tive o desplante de lhe chamar) foi de elevadíssimo nível.
Logo à chegada, deparei com cinco edições diferentes de "Justine". Na sala havia ainda mais três ou quatro diversas, desde o grafismo da capa até à língua. Desde o português ao inglês, passando inclusivamente pelo francês.
Post-it nos livros era coisa que não faltava. Desde os amarelinhos do Zé (que começa a colocar marcas e depois vai desistindo, se o livro for muito bom) até aos meus vermelhinhos da Silveira. O "Mountolive" já vai ter em verde, esgotei os vermelhinhos.
(Sabem que cada embalagem de post-it custa o preço de um bilhete de cinema?)
A meio da sessão, a visita agradável de Maria João Seixas, "oficial do mesmo ofício" e também "líder" de outras Comunidades de Leitores. Maria João leu "Justine" ainda antes dos 15 anos, por conselho da Tia Júlia, às escondidas da mãe. O livro tinha vindo da Rodésia e Maria João vivia em Lourenço Marques.
Foram duas horas que passaram a correr. Cheguei a casa, olhei para a TV e vi o Sporting a perder 1-0. Pensei: "Já fomos". Afinal, a segunda parte deu-me a segunda alegria do dia, depois da Comunidade.
Luís Graça
"Justine", o insustentável peso do ser
Alexandria. A cidade onde a vida se queima em lume brando. Onde a certeza da morte é sublimada na animalidade melancólica do encontro de corpos. Onde tudo acontece porque tem de acontecer e os cheiros se misturam com os fados, num Oriente em que os ocidentais poisam como pombos à procura de milho.
A cidade onde o spleen é de tal maneira asfixiante que até as paixões homicidas se diluem no tédio insuportável do cair da tarde. A cidade onde o smog de alma afoga os bons e os maus sentimentos.
Justine não pode pedir a Sam que toque outra vez. Porque o Café El-Bab não é o Rick's Café. Como se um amor de Bonnie and Clyde, condenado a morrer com 97 balas, viesse ao seu encontro mais cedo ou mais tarde.
Alexandria. A cidade onde o vício e a virtude se praticam com a mesma naturalidade e as serpentes devoram as maçãs e enrubescem nos rostos com a timidez pacata da alvorada. A cidade onde as serpentes oferecem sestércios às fêmeas e estas riem ou aceitam. Mas nunca se ofendem.
A cidade onde a perfeição e o Inferno tomam uma cerveja à mesa de Fausto, enquanto Goethe se espoja num bordel barato, em que se comem azeitonas de Itália. Mas se tudo o que é em excesso é pecado, o pecado de Alexandria é a conversão do Inferno no mais puro dos quotidianos.
Alexandria. A cidade em que as egípcias velhas se rebolam nos leitos com um anão corcunda que é barbeiro, espião polivalente e arquitecto de defuntos; em que as damas da alta sociedade perdem tardes de bridge para ouvir escritores decadentes a falar de poetas; em que o mais rico cidadão começa por perdoar a licença da mulher, porque tem na alma o mais puro amor; e em que o homem mais feio sabe espantar uma herança de loucura para longe, a golpes de falo no útero das fêmeas que se vendem com a placidez da necessidade e a serenidade das derrotas anunciadas.
E se o mal é o bem pervertido, então não há mal. Por isso, todas as derrotas acabam em bem.
Como um fiacre a passear à beira-mar, devotado ao amor.
E que tal beber uma cerveja no Inferno, Justine? Ou perder o juízo nos infortúnios de um bordel de crianças, enquanto um marujo sujo, como em "Querelle", se desfaz nos abismos de si mesmo?
E deixar deslizar pelos intervalos do mar um beijo que se desfaz nos lábios de um homem?
Imaginem que Justine cai.
Imaginem que Melissa cai.
Cai no torpor de uma dança ordinária de cabaret, numa reles imitação de Salomé, com o rosto cravejado de make-up, enquanto os homens a olham com olhos de quem nunca a viu.
Imaginem que Melissa cai.
Cai na asneira de se deixar cair nas mãos de marinheiros que lhe dão cantáridas.
E que depois de renascer como uma Fénix pode intercambiar a timidez com uma doença venérea benigna, mas irritante, made in Síria, por generosidade aristocrática de Pombal.
"Justine" é escrito como um filósofo constrói o seu sistema: de forma metódica e abarcando os temas verdadeiramente importantes para a Literatura, ou seja, a Vida.
Por isso fala de Morte, de Desejo, de Deus, de Inveja, de Vaidade, de Compulsão, de Beleza, de Amizade, dos Astros, do Mar, da Lua, das Nuvens, do Vento.
"Justine" é, ao mesmo tempo, um romance, um poema, uma aula de filosofia, um desabafo, um exercício de estilo. Com o carimbo de arte maior. Indubitavelmente, como diria Pursewarden.
No fundo, "Justine" é uma mistura de "Viagens na minha terra" (de Garrett), com "Os Maias" (de Eça). Todos nós temos na vida uma Joaninha de olhos verdes, uma enorme e auto-torturante capacidade de amar. E desatamos a correr para o "americano" de forma displicentemente decidida.
Luís Graça, Culturgest, 14/4/2005
Fotografia oferecida a este blogue pelo gerente do Hotel Sossego.
14.4.05
Dick Hard
"Dobrou A BOLA sem saber porquê (deixou o exemplar em cima da mesa do snack-bar) e pôs-se a passear sem rumo e a dizer piropos fora de moda às miúdas que saíam da escola secundária com o cio juvenil a tiracolo:
- Não sabia que as flores andavam.
- Vai prò caralho que te carregue, ó velhadas!
Primeiro, Dick estranhou um insulto tão hard da parte da miúda. Já não se podia ser galante. Depois pensou que a juventude não estava tão mal como isso. A miúda tinha revelado um trocadilho inteligente, misturando a frase "Vai para o Diabo que te carregue" com "Vai prò caralho". A nível subsconciente talvez Dick tenha pensado: "Ó Diabo, estão a mandar-me prò caralho".
Por norma, quando o mandavam para o caralho, Dick não ia. A menos que fosse muito bem pago, que houvesse bom uísque e o caminho fosse de primeira e não tivesse muitas portagens.
Fosse como fosse, estava na hora de ir tomar um copo às Docas. Meteu os pés a caminho e desceu do Largo do Rato. À porta da Assembleia da República deparou-se com uma manifestação de lésbicas.
- Ó amiga, desculpe lá a pergunta. Esta manif é contra quê?
- Contra o custo de vida.
- Isto realmente está pela hora da morte.
- Pois é, já não se pode comprar um strap-on sem andar na esquina a render.
- Um quê? Um pónei?
- Cavalo é você! Um strap-on, um dildo de cintura, um caralho para te meter na peida, já estás a perceber agora, ó panasca?
Porra que a tarde não estava a correr bem. Cada vez que falava com uma miúda era insultado."
Enquanto o Luís Graça não reaparece, leiam, se puderem, os seus impagáveis contos eróticos. Neste blogue, estão disponíveis cinco das melhores aventuras sexuais de Dick Hard, detective particular e sócio do Belenenses.
Fragmento póstumo 20 [2]
Correste depressa de mais:
Só agora, que estás cansado,
te alcança a tua ventura.
Friedrich Nietzsche
Tradução de Paulo Quintela.
13.4.05
Pamela Anderson Busts Into the Book Business
In the midseason entry - which debuts Wednesday night in a coveted spot at 8:30 p.m. - Anderson stars as a one-time party girl who takes a job in a family-run bookstore. (...) Will Anderson create a new audience of book buyers? One major independent bookselling outlet has even gone so far as to poll its customers, both booksellers and book buyers, to find out if they think breasts really can sell books.
Mais.
Poema da frente culinária
Abro o frigorífico, olho lá
pra dentro, está frio e vazio!
Está frio e vazio, e a sua alvura
faz-me lembrar paisagens nórdicas
cheias de neve e poupadas, porque lá
não cresce nada de préstimo.
Se os preços continuam a subir, também aqui
vai nevar por todo o lado.
Teremos uma era glacial dos preços
uma paisagem de frigoríficos vazios.
Seremos mais frios, ainda mais frios.
O que comermos não se decidirá
na cozinha, nem também no frigorífico.
Talvez isto seja uma boa ideia
- resolve-te, leitor! - talvez ela
me ajude a chegar ao fim deste poema.
Mas neste momento e amanhã muito mais
preferiria arranjar a sertã
para um bife panado, se o sangue
me não tivesse gelado nas veias, quando
a mulher do talho me disse o preço!
Jürgen Theobaldy
Tradução de Paulo Quintela.
Fotografia oferecida a este blogue pelo autor deste.
A quem a natureza negou encantos pessoais
Os autocarros partem a horas, os comboios andam nos horários e o país está em ordem. Mesmo assim, há gente que continua à espera de um transporte alternativo.
Momento humorístico do dia
As últimas novidades do sítio oficial da Câmara do Porto:
Bispo do Porto em sintonia com Rui Rio na solução proposta para o Túnel de Ceuta.
Circuito da Boavista vai ter cartaz oficial.
12.4.05
Num dia em que me achei mais sentimental
As minhas ideias feitas, com que naquele momento analisava ao vivo (em carne viva) a perda do meu cãozinho atropelado, atingiam uma profundidade filosófica nunca vista, pareciam eternas. Agora tenho outro cão, mudei de carro, de casa de mulher e de ideias (de vida, como se diz), a carne viva cicatrizou (apenas sinto umas leves comichões no coração nas mudanças de tempo). Mas, atenção: o fútil só acontece aos outros.
Filipe Guerra
As partes sensíveis
"O meu edifício [sede do BPN] procura dialogar com outros, nomeadamente com a Casa da Música. Do mesmo modo que esta tem que dialogar com o meu. Caso contrário, estaríamos num país de surdos-mudos na arquitectura."
Ginestal Machado, autor do polémico edifício-sede do BPN projectado para as traseiras da Casa da Música.
SEDE DO BPN: Olha lá, ó minha linda, vamos dialogar?
CASA DA MÚSICA: (com voz de soprano) Eu não falo com parolos espelhados.
SEDE DO BPN: (com a mão direita pousada sobre a anca) Estás a armar-te em intelectual, ó cara de meteorito?
CASA DA MÚSICA: (com voz de contratenor) Meu caro senhor, se insistir em dialogar comigo, serei forçada a voltar-lhe as costas.
SEDE DO BPN: De costas já estás tu, ó bifa! Não tenho medo de nada e muito menos de ti. Dialoga comigo com modos ou ainda levas com um janelão nas fuças.
CASA DA MÚSICA: (como se cantasse uma ária) O senhor não passa de uma ingénua caricatura arquitectónica. A repetição anacrónica de um modelo que na origem era já gasto de sentido e cujos "tiques" repercutem a arquitectura banal que inunda as periferias das cidades.
SEDE DO BPN: Ai, a gaja... A arquitectura não se faz de peças isoladas, minha linda! Se queres saber, nem devias estar aqui. Um edifício como tu devia estar no meio do mato, entre os pinheiros. Eu não tenho culpa que os marmanjos da Câmara tenham escolhido mal a tua localização.
CASA DA MÚSICA: (voz de contralto com pequenos detalhes de soprano) Meu caro senhor, eu represento objectivamente o state of the art na arquitectura. A minha importância é ainda exponenciada se tivermos em conta que a arquitectura contemporânea encerra hoje uma verdadeira coligação de disciplinas que se exprimem abertamente. Nesse sentido, eu sou também o state of the art nas engenharias, na construção, na acústica, no design.
SEDE DO BPN: Com essa conversa fiada toda, acho que queres mais qualquer coisa... Estás mesmo a pedi-las, ó boa!
CASA DA MÚSICA: (voz de contratenor) O senhor denota um carácter degenerado, primário, quase selvagem. Admito que isso me fascina. Ó, sim, bata-me com força e arraste-me até aos camarins.
11.4.05
Curriculum Vitae
As pessoas querem vida divertida,
ver televisão e conduzir um carro,
ter uma casa no campo.
As pessoas querem ajudar os outros,
ajudar o ceguinho a atravessar a rua,
se acaso um cego quer atravessar a rua.
As pessoas querem que
se fale bem delas,
querem viver sem dores, muito tempo,
e ser, ainda antes da morte,
um nadinha imortais.
Jörg Steiner (Suiça, 1930).
Tradução de Paulo Quintela.
Fotografia oferecida a este blogue pelo autor deste.
Destaques do dia, na Livraria Leitura
Manual de Higiene do Trabalho na Indústria, de Ricardo Macedo, e Prontuário de Metalurgia: Elaboração, Estruturas-Propriedades e Normalização, da dupla Gerard Maeder e Jean Barralis.
Incidente no Yorkshire
HEATHCLIFF: A última noz é tua, se partilhares os teus pensamentos.
CATHY: O Homem é, com efeito, um animal egoísta por natureza, e só um contrato social, devidamente consolidado por uma entidade soberana, lhe permite escapar à sua condição de servidão, ao seu destino de escravo dos elementos e impulsos.
HEATHCLIFF: Mostras-me o teu umbigo, como da outra vez?
CATHY: Preparava-me para discorrer sobre o binómio Igreja/ Estado, mas de acordo. És impulsivo, contudo não tens mau fundo.
HEATHCLIFF: Parece mais branca e delicada, a pele, nesta área circular. Pergunto-me porquê.
CATHY: No nosso corpo, como em tudo o que nos rodeia, nada acontece por acaso, e tudo cumpre a sua função.
HEATHCLIFF: Não me importava de espreitar um palmo mais acima ou mais abaixo, mas sei que recusarás.
Cathy cobriu-se prontamente. Trocaram algumas manifestações de afecto.
Gostava de ter tempo e sabedoria para escrever algumas linhas que fizessem justiça a este livro notável. Já, por várias vezes, senti-me tentado a fazê-lo. Mas perdi a vontade em outras tantas ocasiões: julgar este livro, mesmo de uma forma justa, seria injusto. Não me sinto capaz. Recentemente, experimentei a mesma sensação em relação ao último livro do Manuel Resende. Pronto. Perdoem-me este apontamento demasiado umbiguista.
Num dia em que me achei mais moralista
O ódio é que nos move. Mas estou aqui há três horas, rodeado de árvores doentes (uma árvore pode cheirar mal?), bancos sujos e fontes secas, bancários frios na pausa do almoço, mulheres sozinhas (as crianças morreram?), velhos mesquinhos, e, além do ódio que tenho e não confesso, ainda não arranjei um inimigo para odiar. Um emprego arranja-se, uma fortuna ganha-se ou rouba-se, um amigo encontra-se, faz-se, trai-se, procura-se, inclusive por anúncio, o amor idem, só o ódio não tem verbo. Que o amor se volve em ódio, dizem os amantes desavindos desvairados. Que o ódio te vem do berço, ou, se tens Deus, que é de lá que ele te vem, já que o Senhor te dá o bom e o horrendo, diz-se à falta de melhor. O ódio é grande de mais, não cabe no dicionário, é um belo puro-sangue negro, radiactivo e carnívoro que troca as patas no galope como a hiena. É um ódio literário, não posso fugir a certas metáforas, mas ódio, ódio só na guerra. Mas vem da guerra ou antes a provoca? A guerra é imoral, o ódio e a fé são amorais, não dependem de nós. Mas movem o mundo. Não posso fugir a certas metáforas: amor é planta frágil, o ódio tem raízes de eucalipto.
Filipe Guerra
Comunidade de Leitores arranca com Lourenço Duracell ultra
Ora aí está o que é! A terceira Comunidade de Leitores da Culturgest (Lisboa) arranca em grande com o "Quarteto de Alexandria", de Lourenço Duracell, que vai durar cinco sessões. E dura, dura, dura...
A primeira, que já lá vai, de apresentação do pessoal e introdução ao senhor, mais as outras quatro, dedicadas a "Justine", "Baltasar", "Mountolive" e "Clea".
O senhor Lourenço Duracell (também conhecido por Lawrence Durrell, nome com pinta de escritor policial, segundo um dos comunitários) diz assim a páginas 43 de "Justine":
"(...)Se chegou, porventura, a conhecer-me, deve ter descoberto que para todos os que sentem profundamente e que têm consciência da inescrutável teia do pensamento humano só uma resposta é possível - uma irónica ternura e silêncio (...)".
O homem escreve!
Pensava eu que teria alguma dificuldade em mergulhar naquelas descrições de Alexandria, depois de dez dias de leitura em "speed" de "Um sorriso inesperado" (do meu amigo Direitinho), "O ano em que Zumbi tomou o Rio" e "O vendedor de passados" (do meu amigo Agualusa) e "O canto da sereia" (do Nelson Motta, que não conheço, mas tenho pena). Com intervalo pelo meio para "encalhar" na BD de "Les Aveugles", de um senhor com um nome bastante comum: F'Murrrrr.
Afinal, pus-me a ler a Justina e aquilo vai por ali fora, apesar da riqueza da escrita, que nos obriga a parar nos "miradoiros" (ou pensadoiros) vários que estão estacionados em cada página.
Na Comunidade de Leitores, há uma senhora que já leu o Quarteto por seis vezes, ou seja, leu 24 livros! A insigne coordenadora da Comunidade, Helena Vasconcelos, tem uma edição de 1966 e tomou contacto com a obra por esses tempos.
Eu estou completamente virgem no Lourenço Duracell. Mas que o homem tem pilhas de talento, lá isso tem.
Vai mais um cheirinho, para concluir o post:
"(...) Sentado à mesa com ele, vi uma melancia fremir sob a carícia do seu olhar e senti vibrar as grainhas do seu ventre (...)".
Está na Justina, página 39.
Luís Graça
7.4.05
Uma "barrigada" de Jazz
Já começa a ser tradição. Chega a Primavera e a Festa do Jazz.
É no S. Luiz, em Lisboa. Todos os caminhos vão dar ao teatro.
Este ano, a 3ª festa do Jazz foi a 2 e 3 de Abril, para o ano será a 1 e 2.
Faltei no primeiro dia, piquei o ponto como deve ser no segundo. Comecei pelas 19 horas com um magnífico concerto: Andreia Pinto Correia Jazz orchestra.
Quem é ela? Parece que é prima da Margarida Pinto Correia. Uma jovem cheia de qualidade, que anda lá fora a lutar pela vida. Passou pelo Hot Clube de Portugal e foi de abalada até aos Estados Unidos. Prémios não lhe faltam.
Começou a compor em 1999 e os frutos estão à vista. "Suite para dois poemas" e "Aljezur" provaram-no. Temas grandiloquentes, muito bem orquestrados. Com um cheirinho a música de filmes, o que não admira, porque Andreia graduou-se em 2002 em Film Scoring e Composição. Na orquestra de 18 elementos, montes de caras conhecidas, veteranos de mais de 20 anos de carreira.
Pausa para uma sopa no Chiado. Voltei para o concerto das 21 e 30. Mais uma bela noite com Carlos Barretto e o seu projecto Lokomotiv. Desta feita com um convidado muito especial, o saxofonista e flautista Jorge Pardo, um "hermano" longamente perseguido por Barretto, que só agora conseguiu concretizar um concerto.
Foi o delírio, entre o free-jazz, a música contemporânea e padrões mais clássicos. Um "triálogo" frutuoso entre o baixo virtuoso de Barretto, a guitarra exploradora de novos caminhos de Mário Delgado (muito onomatopaica, ou não fosse ele um fanático da BD) e a bateria e percussões de José Salgueiro, sempre um trunfo a jogar em qualquer ocasião, desta feita com baquetas e vasspouras muito "light", sem perderem "speed".
Pausa. E seguimos para bingo com os "Moreiras Brothers", com direito à presença dos pais (Bernardo Moreira e Yvette Centeno) na assistência. Foi o tempo do Quinteto de Pedro Moreira+Quarteto de Cordas. Uma experiência que o Moreira mais velho ensaiou com todo o êxito. Confessado o seu amor à música erudita, provou que é possível conciliar um quinteto de jazz com um quarteto de cordas.
Depois de um início algo contrastante, a fusão perfeita deu-se no imenso lirismo de "Valsa para Marta", com um sonzinho a lembrar-me Stan Getz. Pedro Moreira não negou esta minha opinião, já no Jardim de Inverno do S.Luiz, no final da festa.
Foi tempo de galardoar o Combo do Hot Clube de Portugal como o melhor da festa e Daniel Vieira (sax alto), como o melhor solista, indo para a Madeira uma menção honrosa, para o trompete de Rafael Andrade.
Em plena madrugada, o quinteto da ESMAE (Escola Superior da Música e Artes do Espectáculo, do Porto) abriu a sessão de encerramento, com os standards "Speak no evil" e "Wild Flower", de Wayne Shorter.
Houve ainda tempo para um tema do saxofonista João Guimarães e do guitarrista Eurico Costa.
Vim para casa com uma "barrigada" de jazz.
Mas o encantamento dura cada vez menos tempo. A vida retalha-nos o coração e as más notícias galopam na atmosfera. Não há jazz que nos valha. Serve apenas para lamber as feridas com um sorriso mais sereno.
Luís Graça
Aprendiz de poeta
Tomo o café. Rodo a cadeira, procuro o lugar donde melhor sacuda as metáforas e o sol não me bata a direito nos olhos. Depois, confortavelmente sentado à mesa do café, escrevo que tomei o café, rodei a cadeira, sacudi as metáforas, evitei o sol vigente naquela esplanada meio espeluncada de Setembro que me queria bater a direito nos olhos. Esta prosa estava para ser um poema sem qualidades. Já tinha mesmo preparado o respectivo manifesto, os respectivos insultos à outra geração, as bases para a respectiva polémica. Vislumbrei no texto, porém, algumas vagas qualidades, débeis mas persistentes. Desisti.
Filipe Guerra
O humanista
A casa ardeu toda. E que é que
fez o humanista?
Pegou no dedo e escreveu
na cinza fria: Nunca mais.
Ai, se ao menos tivesse vertido
águas na casa a arder.
Kurt Bartsch (Alemanha, 1937)
Tradução de Paulo Quintela.
O betão da Casa da Música merece, portanto, a nossa plena confiança
"O betão é simultaneamente a estrutura e o acabamento final da Casa da Música - edifício onde arquitectura e engenharia são indissociáveis e se potenciam mutuamente.
O exterior do atípico edifício exibe-se agora em esplendor. O betão branco está na sua melhor forma: novo, livre de manchas de sujidade, escorrimento de oxidações ou vestígios de humidades e fungos. (...)
A manutenção do bom aspecto do betão branco aparente é em grande parte assegurada eliminando a possibilidade de fissuração do mesmo, o que se consegue quantificando correctamente os esforços em estado limite de utilização. (...)
Toda a superfície exterior do betão está protegida com um produto hidrófugo (que preserva da humidade) com vista a evitar o aparecimento de fungos.
As zonas inferiores das superfícies em betão aparente (até cinco metros de altura) estão ainda protegidas com um produto anti-grafitti que possibilita a limpeza de eventuais pinturas murais, ou seja, impede os pigmentos das tintas grafitti de penetrar em profundidade nas superfícies e facilita a remoção das mesmas."*
Confesso com vergonha que cheguei a alimentar algumas dúvidas sobre a qualidade do betão branco utilizado nas paredes exteriores da Casa da Música. Felizmente, parece que não há motivo para preocupações. Ainda bem.
* Comércio do Porto de hoje.
6.4.05
Mais cinco dias, mais cinco poemas de Adrienne Rich, em tradução inédita de Margarida Vale de Gato.
Décimo e último dia.
A FENOMENOLOGIA DA IRA
10. como estamos a queimar as nossas vidas
testemunho:
o metropolitano
trepitando para Brooklyn
a cabeça dela nos joelhos
dormindo ou drogada
la via del tren subterráneo
es peligrosa
muitas dormem
todo o percurso
outras sentam-se
fixando buracos de fogo no ar
outras planeiam uma rebelião:
noite após noite
desperta na cela, a minha mente
lambeu o colchão tal flâmula
até a ala prisional estourar
Thoreau lançando fogo às matas
Cada acto de tomada de consciência
(diz aqui neste livro)
é um acto contra natura.
10. how we are burning up our lives
testimony:
the subway
hurtling to Brooklyn
her head on her knees
asleep or drugged
la vía del tren subterráneo
es peligrosa
many sleep
the whole way
others sit
staring holes of fire into the air
others plan rebellion:
night after night
awake in prison, my mind
licked at the mattress like a flame
till the cellblock went up roaring
Thoreau setting fire to the woods
Every act of becoming conscious
(it says here in this book)
is an unnatural act
NOTAS:
7º e 8º versos: trata-se da parte em castelhano de um aviso bilingue no metropolitano de Nova Iorque.
18º verso: nos seus diários, Henry David Thoreau (1817-62), apologista da sobrevivência com a Natureza, conta como uma vez conseguiu propagar, da sua tenda, fogo às matas, quase ameaçando a cidade.
Quanto ao resto, faça você mesmo.
Margarida Vale de Gato
Leonor, nua e crua
"Amanhã à mesma hora - diário de uma stripper portuguesa", de Leonor Sousa Correia (D. Quixote) deve estar por aí a estoirar. Aguardo com ansiedade o mail com o convite para o lançamento.
A senhora é mesmo stripper (ou foi stripper), tem licenciatura e mestrado (ainda não investiguei tudo como deve ser, está difícil saber muitas coisas) e vai dar a cara, depois de dar o corpo ao manifesto da nudez.
Põe-se o título do livro no Google e descobre-se que já está à venda pela Net e que pesa 300 gramas.
Estou com vontade de abordar a menina por estibordo ou bombordo, para comparar experiência literárias. O meu livro sobre clubes de strip, também um diário ("Diário sexual de um escritor frustrado") ainda espera luz verde. Outros corpos nus se meteram à frente.
Pirueta simples, sacudidela de cabelos e desço pelo poste abaixo, parando a centímetros do solo, sentindo o sangue a subir à cabeça e vendo dois ácaros a passear de mãos dadas a caminho do bar.
Luís Graça
Virgens e cadelas
Somos meia dúzia, os proprietários de cadelas virgens, e reunimo-nos informalmente: o enfermeiro Alonso («sou tudo menos palonço», diz de si próprio), o doutor Barros, advogado, um aldrabão de todo o tamanho, o farmacêutico Gomes, corpulento, que dizem se alimenta de viagra (pudera, farmacêutico!), o Sérgio Toyota, autor do livro «Minhas Memórias Espantadas», eu e o outro Gomes, o magro. Nem todos somos reformados. Alonso tem uma vivenda com quintal, metemos lá as cadelas, a mulher é à antiga, do tipo colonial, gosta de farras e atura-nos. Todos os seis lhe agradecemos, porque assim deixamos de aturar a nós próprios em nossa casa. Da última vez o pretexto foi um vinhito do Douro. Pusemos pois as cadelas no quintal, e elas, apesar de virgens solteironas e frustradas, não se engalfinharam, algumas até dormiram. (Que a minha Dacha não tem cão porque não quer, eu bem a chego aos machos. Será lésbica?) É muito bonito este convívio, até os diabéticos lhe comem e lhe bebem, e nunca houve problemas: enfartes, altas e baixas de tensão, de açúcares, quebras de sigilo, nada. E quando morrer um de nós? Mas, agora, muita alegria, apesar da morte do Papa, e que pica nos dão aquelas histórias das nossas putas tristes! Só é pena uma coisa, regulamento oblige: ficam de fora os proprietários de cães machos e de cadelas com prole: o Vilela comunista, o Ribombas que ainda joga à bola, o Landino que andou fugido uma semana com uma cabo-verdiana que lhe fazia as limpezas em casa (ai a mulher dele!), o Mateus preto, Calado (o indiscreto), que sais-je! Eles, por sua vez, organizam-se em tertúlia com os seus cães machos e cadelas com prole, têm a sua vivenda com quintal, têm um campeonato de xadrez e lançam calúnias sobre nós. São os percalços do associativismo.
Filipe Guerra
Publicidade de urinol
Os painéis de publicidade de urinol da nova revista FHM não deixam os seus créditos por mãos alheias. Repare-se nos sugestivos "slogans" que se perfilam audaciosos em frente dos nossos olhos:
"Sadudir é d'homem"; "Ajeitar é d'homem"; "Olhar em frente é d'homem".
Palco: casa de banho de "A Lua", na festa dos 40 anos da D. Quixote.
Recuo rápido de 20 e tantos anos, até às casas de banho do Liceu Camões e os seus fabulosos graffiti de urinol, entre os quais o clássico: "O futuro de Portugal está nas tuas mãos".
A avaliar pela realidade, confirmou-se.
Luís Graça