6.4.05

Mais cinco dias, mais cinco poemas de Adrienne Rich, em tradução inédita de Margarida Vale de Gato.

Décimo e último dia.

A FENOMENOLOGIA DA IRA

10. como estamos a queimar as nossas vidas
testemunho:
o metropolitano
trepitando para Brooklyn
a cabeça dela nos joelhos
dormindo ou drogada

la via del tren subterráneo
es peligrosa


muitas dormem
todo o percurso
outras sentam-se
fixando buracos de fogo no ar
outras planeiam uma rebelião:
noite após noite
desperta na cela, a minha mente
lambeu o colchão tal flâmula
até a ala prisional estourar

Thoreau lançando fogo às matas

Cada acto de tomada de consciência
(diz aqui neste livro)
é um acto contra natura.

10. how we are burning up our lives
testimony:
the subway
hurtling to Brooklyn
her head on her knees
asleep or drugged

la vía del tren subterráneo
es peligrosa

many sleep
the whole way
others sit
staring holes of fire into the air
others plan rebellion:
night after night
awake in prison, my mind
licked at the mattress like a flame
till the cellblock went up roaring

Thoreau setting fire to the woods

Every act of becoming conscious
(it says here in this book)
is an unnatural act


NOTAS:
7º e 8º versos: trata-se da parte em castelhano de um aviso bilingue no metropolitano de Nova Iorque.
18º verso: nos seus diários, Henry David Thoreau (1817-62), apologista da sobrevivência com a Natureza, conta como uma vez conseguiu propagar, da sua tenda, fogo às matas, quase ameaçando a cidade.
Quanto ao resto, faça você mesmo.

Margarida Vale de Gato