Liberdade
É muito comum pensar-se que os militares nos trouxeram liberdade, ao depor o regime fascista. No entanto, considero ser mais correcto dizer «esperança de liberdade».
Partindo de duas frases que conhecemos tão bem, que incluem a palavra «liberdade», damos conta de que o discurso corrente perverte o seu autêntico significado. São elas: «posto em liberdade» e «a minha liberdade acaba onde a do outro começa».
A primeira falácia é pensar que há um sujeito que tem o poder de nos pôr em liberdade. Não há ninguém que o possa fazer por nós! Para que faça sentido, sugiro como alternativas «eu liberto-me» ou «tu libertas-te» ou «ele liberta-se». Na 1ª e na 2ª pessoas do plural isso já não é possível, sem que se caia num tamanho disparate. O substantivo abstracto, que remete para algo exterior ao homem, constitui eventualmente um ideal que é conquistado, passo a passo, na vivência diária de cada um. É tão débil por si mesmo que só é capaz de funcionar com a muleta do verbo. Não será mais justo falarmos em «libertação»? Ou, como dizia o outro, em «liberdade livre»?
Na segunda frase, que a professora primária me ensinou, subentende-se que há quem tenha que renunciar à liberdade, para que outro a usufrua, ou seja, um deles pode mandar e o outro obedecer. É uma contradição com a substância própria de liberdade. Como é isso possível? Ou há ou não há!
À parte a gramática, há que viver a liberdade.
André Sousa Martins
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