Pó-de-tijolo: O diário quotidiano de Max Smash
DAY TWO (DOMINGO, 24 de ABRIL)
11 horas - Toca o despertador. Falta a coragem para ir nadar para o Holmes Place. Parecendo que não, o ar do Jamor puxa. Falho igualmente a corrida de Fórmula Um e mais um êxito do Alonso. Saio da cama perto das 15 horas.
15h45m - Chego à zona de restauração, ao pé do Centralito.
- Já há "cachorros quentes"?
- Claro.
- Quero dois. E uma lata de Pepsi.
- Molhos?
- Poucochinho "ketchup", por favor.
- Quer um tabuleiro?
- Sim. Vou levar lá para fora.
Acabo por me envolver numa conversa a dizer mal do Peseiro. Ajudei à festa. É sempre bom ?catarsear? estes empates que nos ficam atravessados na garganta (Sporting,0 Académica,0).
Uma senhora senta-se ao pé de mim, vê-me de credencial ao pescoço e pergunta:
- O senhor é que organiza isto tudo?
- Não, sou jornalista.
(Vai mais uma dentada no "cachorro" e uma golada generosa de Pepsi. Mas ainda estive para limpar os beiços, dar dois beijinhos na senhora e dizer: "Olá, sou o João Lagos. Muito prazer. Quantos convites quer para a final"?)
15h50m - Atrás de mim está a barraca da Olá, sempre a Olá, este ano com a concorrência da Hagen-Dasz, perto do "court" central. Uma família normal (pai, mãe, dois putos) prepara-se para comprar gelados.
E o pai, para um dos putos:
"A próxima vez que gritares apanhas na boca. Estou-te a dizer".
O puto acalmou. O gajo era homem para lhe dar, palavra de Max Smash, que continuava a lambuzar-se javardamente com o "cachorro", deixando o "ketchup" imiscuir-se perigosamente por entre o farfalhudo bigode black & white, a denunciar a sua qualidade de quarentão e veterano do Estoril Open.
16h12m - Estou no "court" 1, bem recheado de público. O português Hugo Anão está a dar luta ao polaco Chadaz, que bate bem de direita e esquerda (a duas mãos), mas é raro sair do fundo do "court". Pratica um ténis típico de percentagem, arriscando pouco para ganhar os pontos. O chaval lusitano deixa-se enervar e sofre uma quebra de serviço a 4-2, no segundo "set".
16h21m - O público puxa por Anão, mas este revela certas dificuldades em agigantar-se o suficiente.
(Este trocadilho é freelancer, por isso pode haver ocasiões em que os trocadilhos apareçam fora do seu gueto próprio, o Cantinho dos Trocadilhos)
Um cavalheiro, tentando pressionar o árbitro, num ponto perdido por Anão: "O serviço foi um quilómetro fora".
16h28m - Anão reduz para 4-5 e a esperança toma conta do "court".
16h31m - Menos um Anão no Estoril Open (5/7, 4/6).
16h41m - Chego pela primeira vez ao "court" central. Tiago Godinho acabou de perder o primeiro "set", por 7-5, com o espanhol Fraile. O "set" demorou 1h05m. Porra!
O público do "court" 1 vem apoiar o português, que foi assistido na zona do ombro direito pelo "trainer" (o fisioterapeuta do ATP, a Associação dos Tenistas Profissionais). O campo é regado. Tem a sua arte. Não pensem que é só chegar lá e regar. Há uma escola da mangueira, mas a mais famosa só actua no carnaval brasileiro.
A 2-2 do segundo "set" o árbitro proferiu "Bolas Novas" mas não vi ninguém conhecido que tivesse sido operado aos testículos.
17h08m - Godinho sofre "break" a 2-4.
17h35m - Menos um Godinho no Estoril Open (5/7, 2/6). Uma hora e trinta e cinco minutos de abnegada resistência.
17h33m - Cá está o Max no seu "court" favorito, o eminente Centralito. E foi lá que o Max viu o melhor jogo da tarde, já com cheirinho de quadro principal. Mais um espanhol bem dotado tecnicamente, frente a Cernak.
17h37m - Uma lagartixa vem armada em Ayrton Senna da Silva pelo muro acima. Faço sinal de stop com a mão e ela virou de bordo à velocidade da luz. Cabronas das lagartixas, são castiças como o caraças!
18h30m - Cernak venceu em três "sets": 5/7, 6/4, 6/2. O público destroça. Não me apetece nada levantar. Estou com espírito de cair da tarde na praia. Os lábios secos e o cérebro a pingar de indolências.
19h08m - As lonas cobrem os "courts". Acabou a jornada. Moya já acabou o treino.
Cantinho dos Trocadilhos
#5 Vítor foi o Hugo gigante da literatura francesa. Anão é o Hugo do ténis português.
#6 Todos os anos, todos os dias, os jogos do Estoril Open têm uma ordem de jogos. Durante três anos, como jornalista, Max Smash esteve à ordem de O JOGO. Em Setembro de 2002 descobriu que afinal estava a prazo, quando recebeu a carta de "adeus e obrigado".
#7 Ronald Reagan era bom na rega dos "courts". Regazzoni era bom a regar à zona. A zona regada por CLAY Regazzoni era melhor do que a zona regada por Reagan. Vamos "regar" o feliz acontecimento. Mais vinho para esta mesa!
#8 Prefiro estar nos "courts" de ténis do Jamor do que sofrer um corte no meu pénis, o que provoca dor.
#9 A segurança do Estoril Open é da Prosegur. Mas quem segura a Condessa de Ségur? Anda por aí na rambóia e depois põe-se a escrever livros "light" do século passado.
#10 O Estoril Open não está nas lonas. Mas as lonas estão no Estoril Open. Todos os dias, ao final da tarde, depois de concluídos os jogos.
Um grupo de diligentes funcionários ?puxa as orelhas? ao ?court? e cobre-o meigamente. Ficam as rugas nas lonas e os tugas procuram as gajas boazonas. Não há mais ténis. Está na hora de pensar no pénis e outras coberturas.
frase do dia
"Nem os portugueses são bons para os portugueses"
(Uma senhora, descontente com a arbitragem de um árbitro português no encontro entre o Anão lusitano e o polaco mediano Chadaz. Terá andado a ler José Gil?)
Diálogos Anónimos da Realidade Jamoral
- Então, este ano veio mais cedo...
- Vim, é à borla. Amanhã já pago.
- Eu já comprei o bilhete semanal.
Diálogos Imaginários da Irrealidade Demencial
Repórter da RRM (Rádio Rainha Má):
- Branca de Neve, o que pensa da eliminação de Hugo Anão?
- Não faz mal. Ainda sobram seis para as minhas necessidades.
Cantinho das Mágoas
Da inveja: O sol a bater nos cabelos das mulheres bonitas faz-me mal ao coração. É pena eu não ser uma mulher bonita, para fazer sonhar os homens.
Do ciúme: quando beijei os teus lábios promíscuos percebi que eram uma terra batida.
Amanhã há mais. Beijinhos e um queijo da serra, do vosso:
Max Smash
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Luís Graça
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