25.4.05

Dímitra Mandrá

Veio-me pelo correio, "O Momento do Amor", um pequeno livro de poemas de Dímitra Mandá, traduzido por José Carlos Marques, e publicado com muito amor pelo próprio na colecção uniVersos (herdeira e filha da diVersos), edições Sempre-em-Pé.

Teria mil coisas a dizer sobre isto. Para encurtar razões, digamos que também na Grécia, a partir da década de 70, os poetas "voltaram ao real". Diria, de outro modo, que, perdidas as "grandes narrativas" (como se diz agora), voltaram ao quotidiano.

Para isso foi precisa a grande desilusão do fim do sonho duma grande Grécia (a expedição falhada à Ásia Menor, esmagada pelo exército turco), uma ocupação alemã, uma guerra civil, uma ditadura. Muitas vidas estragadas.

Dímitra Mandrá recupera os ecos de Elytis, a poesia do Egeu, e reinveste-os no dia a dia. Dois exemplos:

Porque tu és o vento

Nas tuas grandes mãos
agarras os meus dias
e eu sigo-te por ruas
que não sabem o que é domingo
porque tu és o vento o outro
o inabitado.

O Som do silêncio

Oiço o vento
arrastando nomes apagados por antigas chuvas
por sobre casas extintas e mares de lenda.
Oiço o vento do deserto das árvores
que avançam nuas e minguam;
mas mais ainda oiço o silêncio
que de longe ecoa a minha nostalgia.