18.4.05

A lira e o pandeiro

Estava eu a dar autógrafos na livraria Assírio e Alvim do "King Triplex" (já lá vão uns mesitos), sem despertar grandes "Erecções" em homens e senhoras, quando a mão amiga e fraterna do Pedro me veio proporcionar a descoberta deste fenomenal "Se a lira pulsas e o pandeiro tocas", de António Lobo de Carvalho, o Lobo da Madragoa.
Como a ignorância é um monstro, o meu está bem alimentado e esta obra tinha-me passado completamente ao lado. O livrinho maldito tem a chancela da "& Etc" e tiraram-se mil exemplares em Abril de 1984.
Provavelmente a ganhar balanço para os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Pode-se mesmo dizer que este "Se a lira..." tem muito mais do que os mínimos para enfileirar com a poesia digna do nosso muito amado Manuel Maria. Ou seja, o Bocage.
De resto, este Lobo da Madragoa, que não um lobo qualquer em extinção, nasceu nos princípios do século XVIII em Guimarães. Não andou assim tão longe de Bocage.
Minhas senhoras e meus senhores, directamente das profundezas da poesia, aqui neste palco sem talco, só para vós, a voz do Lobo da Madragoa, o soneto dedicado ao berço da nacionalidade "que é a pátria do amor". Vai disto:

Olha tu, Guimarães, das cortes velhas
Nenhuma a primazia te disputa;
Ainda que baixa, és terrinha enxuta,
Onde são bem chuchadas as botelhas:

Panelas, socos, nabos e cernelhas
Do país foram sempre a melhor fruta;
Só dos dois animais o frade, e a puta,
Podes ter de alquiler três mil parelhas!

Daí vêm os heróis de marca e selo,
Que indo as honras buscar ao chão acima,
Acabam laureados de capelo:

Assim Jove imortal, que os bons estima,
Te ponha a mesma mão pelo cabelo,
Que pôs há tempos em Calhau de Lima.

Luís Graça