27.4.05

Out of Africa

Estou a traduzir um livro muito bom sobre a História da África Negra, da autoria de Elikia M'Bokolo. É curioso mergulhar assim de novo no passado e cotejá-lo com a pobreza intelectual do nosso presente.

Lembrando-me das discussões actuais sobre África, e vendo a perfeita vacuidade das perorações dominantes (e incluo também aqui as dos actuais dirigentes africanos, mas sobretudo os nossos comentadores vazios de história e cheios de estórias) não posso deixar de pensar como é refrescante ler isto de Julius Nyerere:

«O sistema actual foi instituído pelos Estados industrializados para servir os seus interesses. Trata­­-se de um facto histórico e não de um juízo moral! Daí resulta que o grupo das nações industrializadas - que também agem em grupo quando tratam com os outros países - detém as alavancas das finanças e das trocas comerciais internacionais e dispõe também das riquezas acumuladas por séculos de colonização e de diplomacia das canhoneiras, e ainda graças a um avanço inicial nas técnicas de produção de massa. Também neste ponto se trata de factos e não de juízos morais. Se a moral tem algum papel a desempenhar neste assunto, e esse é o meu entendimento, esse papel diz respeito ao futuro. Pois nós, o Terceiro Mundo, exigimos agora que se mudem os sistemas que enriquecem os ricos e empobrecem os pobres, e isso na época das outras mudanças surgidas no mundo: o fim do colonialismo, os progressos da tecnologia e a nova aspiração da humanidade à igualdade e à dignidade humanas.»

Claro que os dirigentes de então foram o mais depressa possível varridos para debaixo do tapete. Não me identifico plenamente com eles, nem com os regimes e Estados saídos da descolonização, mas que tinham outra estatura, tinham.