20.4.05

Papa morto, Papa posto

Foi quase assim, monarquicamente, o que indicia que já estava tudo feito. O catolicismo continua a espantar-nos com as suas práticas hipócritas, desde o celibato impossível à encenação de discussão democrática (quanto ao celibato, é facílimo para Ratzinger, tem 78 anos!). Note-se, no entanto, que Ratzinger foi o principal assessor teológico de Wojtyla, uma espécie de seu braço direito, logo, nada muda na Igreja, há apenas uma involução na continuidade. O meu amigo Fiódor Dostoiévski, ao atacar o catolicismo do ponto de vista outro tanto «fundamentalista» da sua ortodoxia russa, não deixava porém de ser certeiro: o catolicismo é uma religião comercial, interesseira, capaz de tudo para manter e arranjar clientela. Não sei se com a designação deste Ratzinger a estratégia comercial da Igreja será a melhor: como vai ele promover o produto com ideias e métodos medievais? Não esqueçamos que o homem é contra tudo o que é moderno, desde a ópera (!) ao preservativo! Mas não esqueçamos também que os golpes de rins são a especialidade desta gente (estratégia comercial oblige).
Ratzinger pertenceu às Juventudes Hitlerianas (mas diz que na altura era obrigatório), tem sido o chefe da Congregação para a Doutrina da Fé (a velhinha Inquisição, que só já não pode queimar hereges mas, enfim, faz o que pode). Para ele, só a raça católica conta, o resto é merda (no fundo, a ideologia nazi, e não sabemos quantos golpes de rins terá de fazer para manter a estratégia do seu antecessor neste particular). Tentam mostrar-nos o homem como um intelectual asséptico: nada mais falso, Ratzinger é um fanático militante. A sua divisa (camuflada pelas falinhas mansas próprias desta gente) é: tudo o que é laico deve ser condenado. O regresso às trevas medievais. Agora ouvimos nas televisões os porta-vozes do rebanho (à civil e fardados), com as atávicas falinhas melífluas, a tentarem caracterizar o personagem como humano. É claro que é humano, resta saber de que parte da humanidade. Dizem que ele come, sorri, diz a sua piada... E eu acrescento: é mesmo capaz de dar o seu peidito nos soturnos convívios cardinalícios. E depois?

Filipe Guerra