7.4.05

Uma "barrigada" de Jazz



Já começa a ser tradição. Chega a Primavera e a Festa do Jazz.
É no S. Luiz, em Lisboa. Todos os caminhos vão dar ao teatro.
Este ano, a 3ª festa do Jazz foi a 2 e 3 de Abril, para o ano será a 1 e 2.
Faltei no primeiro dia, piquei o ponto como deve ser no segundo. Comecei pelas 19 horas com um magnífico concerto: Andreia Pinto Correia Jazz orchestra.
Quem é ela? Parece que é prima da Margarida Pinto Correia. Uma jovem cheia de qualidade, que anda lá fora a lutar pela vida. Passou pelo Hot Clube de Portugal e foi de abalada até aos Estados Unidos. Prémios não lhe faltam.
Começou a compor em 1999 e os frutos estão à vista. "Suite para dois poemas" e "Aljezur" provaram-no. Temas grandiloquentes, muito bem orquestrados. Com um cheirinho a música de filmes, o que não admira, porque Andreia graduou-se em 2002 em Film Scoring e Composição. Na orquestra de 18 elementos, montes de caras conhecidas, veteranos de mais de 20 anos de carreira.
Pausa para uma sopa no Chiado. Voltei para o concerto das 21 e 30. Mais uma bela noite com Carlos Barretto e o seu projecto Lokomotiv. Desta feita com um convidado muito especial, o saxofonista e flautista Jorge Pardo, um "hermano" longamente perseguido por Barretto, que só agora conseguiu concretizar um concerto.
Foi o delírio, entre o free-jazz, a música contemporânea e padrões mais clássicos. Um "triálogo" frutuoso entre o baixo virtuoso de Barretto, a guitarra exploradora de novos caminhos de Mário Delgado (muito onomatopaica, ou não fosse ele um fanático da BD) e a bateria e percussões de José Salgueiro, sempre um trunfo a jogar em qualquer ocasião, desta feita com baquetas e vasspouras muito "light", sem perderem "speed".
Pausa. E seguimos para bingo com os "Moreiras Brothers", com direito à presença dos pais (Bernardo Moreira e Yvette Centeno) na assistência. Foi o tempo do Quinteto de Pedro Moreira+Quarteto de Cordas. Uma experiência que o Moreira mais velho ensaiou com todo o êxito. Confessado o seu amor à música erudita, provou que é possível conciliar um quinteto de jazz com um quarteto de cordas.
Depois de um início algo contrastante, a fusão perfeita deu-se no imenso lirismo de "Valsa para Marta", com um sonzinho a lembrar-me Stan Getz. Pedro Moreira não negou esta minha opinião, já no Jardim de Inverno do S.Luiz, no final da festa.
Foi tempo de galardoar o Combo do Hot Clube de Portugal como o melhor da festa e Daniel Vieira (sax alto), como o melhor solista, indo para a Madeira uma menção honrosa, para o trompete de Rafael Andrade.
Em plena madrugada, o quinteto da ESMAE (Escola Superior da Música e Artes do Espectáculo, do Porto) abriu a sessão de encerramento, com os standards "Speak no evil" e "Wild Flower", de Wayne Shorter.
Houve ainda tempo para um tema do saxofonista João Guimarães e do guitarrista Eurico Costa.
Vim para casa com uma "barrigada" de jazz.
Mas o encantamento dura cada vez menos tempo. A vida retalha-nos o coração e as más notícias galopam na atmosfera. Não há jazz que nos valha. Serve apenas para lamber as feridas com um sorriso mais sereno.

Luís Graça