21.4.05

Viegas longe de Manaus



"Longe de Manaus" é o título do último livro de Francisco José Viegas, lançado com cheiro de maresia, ali para as vizinhanças do Tejo, no recomendável estabelecimento irlandês Hennessy's.
Fui.
Cheguei atrasado. Já não ouvi a apresentação do jornalista Rui Lagartinho.
Mas ouvi o Chico a prometer que ia escrever outro livro, pela simples razão de "ter prazer em juntar os amigos, a quem agradeço a presença".
E como Rui Lagartinho tinha feito destaque de Daniela, figura do livro, o Chico manifestou-se "disponível para a Daniela", confessando-se agradado pelo realce dado.
"Já me têm perguntado porque é que há personagens que aparecem e desaparecem. Não sei. Há aparições na nossa vida que valem a pena. Há cerveja. É óptimo. Obrigado por terem vindo".
Mas que livro é este romance de Francisco José Viegas, longo de 76 capítulos, 444 páginas (como a saudosa sala de cinema, Estúdio 444) e uma capa lindíssima?
"Reconstruindo a sua própria linguagem do romance policial, subvertendo as suas regras, escrito em tons e linguagens distintos, 'Longe de Manaus' é o romance da solidão portuguesa, o retrato distante e desfocado de um país abandonado às suas memórias e ao seu desaparecimento".
É um livro em que o detective Jaime Ramos "é levado a percorrer caminhos que o transportam entre Portugal, o Brasil e a memória de Angola". Um viajante, este Francisco. Tão depressa está a escrever um artigo sobre Trancoso (na Bahia) para a "Volta ao Mundo", como está de regresso a Portugal, concretamente a Aviz.
Digo eu: "Portanto, teoricamente temos mais hipóteses de nos encontrarmos".
Sai uma gargalhada discreta: "Teoricamente".
Os escritores como o Francisco são assim: não param quietos.
Regressei a casa, com um livro autografado. Para o meu pai, que nasceu em Manaus e tinha uma jibóia no sótão.

Luís Graça