11.4.05

Incidente no Yorkshire

HEATHCLIFF: A última noz é tua, se partilhares os teus pensamentos.
CATHY: O Homem é, com efeito, um animal egoísta por natureza, e só um contrato social, devidamente consolidado por uma entidade soberana, lhe permite escapar à sua condição de servidão, ao seu destino de escravo dos elementos e impulsos.
HEATHCLIFF: Mostras-me o teu umbigo, como da outra vez?
CATHY: Preparava-me para discorrer sobre o binómio Igreja/ Estado, mas de acordo. És impulsivo, contudo não tens mau fundo.
HEATHCLIFF: Parece mais branca e delicada, a pele, nesta área circular. Pergunto-me porquê.
CATHY: No nosso corpo, como em tudo o que nos rodeia, nada acontece por acaso, e tudo cumpre a sua função.
HEATHCLIFF: Não me importava de espreitar um palmo mais acima ou mais abaixo, mas sei que recusarás.
Cathy cobriu-se prontamente. Trocaram algumas manifestações de afecto.


Gostava de ter tempo e sabedoria para escrever algumas linhas que fizessem justiça a este livro notável. Já, por várias vezes, senti-me tentado a fazê-lo. Mas perdi a vontade em outras tantas ocasiões: julgar este livro, mesmo de uma forma justa, seria injusto. Não me sinto capaz. Recentemente, experimentei a mesma sensação em relação ao último livro do Manuel Resende. Pronto. Perdoem-me este apontamento demasiado umbiguista.