Não há pachorra
Num blog esquelético leio isto, sobre a sina de Sena:
"Agora foi a vez de Manuel Resende. Por ignorância, passe o eufemismo, mas de modo enviesado, de um discurso que Jorge de Sena fez em 1978, a convite de "um presidente precário" (Costa Gomes), desse discurso, dizia, Manuel Resende retira que o poeta se estava a bater a uma cátedra, e que era isso que lhe causava engulhos e não - como é a realidade dos factos - o não ser reconhecido como poeta no seu país, a favor da mediocridade, cujo reino permanente se baseia já no direito consuetudinário, e hoje usa as regras do marketing para fortalecer esse direito (o que ele, tão lúcido, deveria ter sabido, ou melhor, sabê-lo-ia mas nunca o terá dado por digerido). "
O autor deste dislate não percebeu nada do que eu disse, lamento. E afirmo que é tão injusto como o Prado Coelho, pai.
O que eu claramente disse é que me custou ver Jorge de Sena, meu mestre em alguns aspectos, desprezado pelo que era (era poeta e bom) e pelo que mais sabia fazer (ser professor de literatura, que era e excelente), nunca tendo sido reconhecido por isso, ser recompensado com um discurso no 10 de Junho.
É muito claro que isto ia no sentido de todo o texto do post meu: os poetas não são reconhecidos pelo que são, mas depois os poderes recompensam-nos, pondo-os como flores na lapela. O mesmo é essa colecção do Público, que eu criticava, em que os políticos e outros homens públicos ostentam os poetas da sua vida.
Quanto ao eu dizer que "não entend[o] que seja uma profissão dar aulas de Literatura, ser de alguma forma profissional da poesia", permito-me esclarecer: escolhi ser amador da coisa amada. A minha escolha é essa. Soube a seu tempo do destino trágico e suicidário de António Maria Lisboa, e entendi precaver-me disso (bem como do destino outro do Sena). Escolhi tentar uma via em que não precisasse de votos e vetos para exercer uma "profissão poética", nem tivesse de recorrer ao suicídio lento. Acho que não é crime. Pelo contrário, é um escudo que me pode precaver contra todos os poderes.
O presidente não era Costa Gomes, mas Eanes, como alguém corrigiu nos comentários.
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