26.1.05

Cimbalino Curto #139



Ainda a propósito dos números espectaculares de Serralves, o Serafim levanta o problema de saber se a maioria dos visitantes será do Porto. "Não será que Serralves continua a ser estranha aos portuenses?" Parece-me evidente que só uma leitura muito ingénua destes números nos poderia fazer supor que Serralves reflecte os gostos e interesses culturais do portuense médio. E reconheço que uma parte importante dos visitantes, com os portuenses à cabeça, rumam a Serralves por motivos exteriores ao interesse substantivo pela arte. Serralves vende muito bem o seu produto, é capaz de criar modas, necessidades, expectativas e até delírios colectivos (os últimos dias da exposição de Paula Rego é um bom exemplo disso mesmo), graças a um excelente trabalho de promoção e marketing que envolve suportes publicitários convencionais, e os próprios meios de informação. Nesse sentido, Serralves corresponde também a uma espécie de cultura de consumo rápido, de fachada, sem substância. Há pessoas que vão a Serralves como vão ao Shopping (basta pensar nas intermináveis vagas de visitantes aos domingos de manhã). Mas qual é o mal? O gosto pela arte cultiva-se como se cultiva outra coisa qualquer. E tem que se começar por algum lado. E esse "algum lado", no Porto, é Serralves. O único senão é que há apenas Serralves. Mais importante do que saber o número exacto de portuenses que vão ao museu, é perceber que Serralves criou na cidade um ambiente muito favorável ao gosto pela arte, uma espécie de efervescência em torno da arte. Por isso, o museu está a contribuir para nivelar por cima a cultura dos portuenses. Mesmo que isso não seja imediatamente visível.