Post Scriptum #314
Recordando-me agora que fui contratado pelo QF&M para postar traduções e não elucubrações, apresso-me a dar satisfação aos nossos patrocinadores. Segue-se, pois, a tradução de um poema de Nikos Engonópoulos, que já apresentei. Entretanto, eheh!, que tal as duas derrotas frente à Grécia? Já era tempo de Portugal experimentar um pouco de mêtis grega (manha, como a do Ulisses, não confundir com metaxa, que é aguardente).
A VIDA E A MORTE DOS POETAS
Sinope
era o nome
- o oficial -
da chamada «Cidade das Nuvens»
e ainda «Cidade dos Incêndios»
que
fica ali algures
pela
América do Sul
esta cidade
aquática
e mais precisamente de cultura
helenística
iça se aos céus
como um bastão
e é situada seguramente
pelos especialistas
quer exactamente a meio
duma linha recta
traçada entre Maracaíbo
e Valparaíso
no Chile
quer
entre Maracaíbo de novo
e
Elbassã
ali
como as casas são feitas de fogo
os habitantes vivem entre chamas
sempre a arder
e sempre a renascer
das cinzas
exactamente como
a ave
a fénix
ali exactamente
nasceu - como se sabe -
o grande poeta grego da
antiguidade
Alektor
e inclusive durante umas escavações
descobriu se uma vez entre as ruínas
um estranho poema
- daquela época -
escrito em papel vulgar
com rebites
de ferro
e de cobre alternados
e tinta de lágrimas
eis então o poema:
«r u m a i a r o m a r o m ã s
a v e r d o v i d e n t e a v i d a»
dada a presença da palavra
«vidente»
o poema foi atribuído
- originalmente -
ao grande
Isidoro Ducasse
que acontece ser originário
daquelas
paragens
depois - porém - de madura reflexão
foi atribuído definitivamente
- e irrevogavelmente -
a uma mulher a que chamavam
a «Bela Dama»
mais conhecida aliás
pelo seu nome
estrangeiro de
«Bella Donna»
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