11.6.04

Umbigo # 39



Notícias do bloqueio.

Finalmente, recebemos notícias do nosso Manuel Resende (sim, já se passaram três meses). E estamos em condições de assegurar que, apesar do seu exílio entre os campos, o Manel encontra-se bem de saúde e recomenda-se. A notícia chega-nos através do nosso Nicolau Saião. Segundo parece, os dois estiveram em amena cavaqueira, à volta de uma agradável, e presumo que perfumada, "sopita de espinafres". Conclusão: estes homens são uns traidores! A nós, aqui no Porto, só nos resta ficar a ver os jipes passar... a caminho do Alentejo.
Eis o relato detalhado dos acontecimentos:


A VISITA DO "FILHO PRÓDIGO"

Neste caso, o nosso Manuel Resende!
Pelas 5 da tarde de transanteontem o telelé tocou e era o Manel que me anunciava de rompante que ia partir de Santarém para me tributar uma visitinha. Daí a hora e picos já cá o tinha, que o Manel usa um bólide todo o terreno que se desenrasca muito bem.
Vocês 'tão a ver a cena: ajudados pelo Elytis e mais trinta da confraria, nós a darmos valentemente à taramela: os surrealistas gregos, os imagistas ingleses, os modernos europeus, a espagíria e o fantástico, a agricultura índia a que ele agora se dedica. Ao aprochegar-se a hora do jantar eu assustei o Manel. Revelei-lhe a verdade: que aquilo de nos meus textinhos falar muito de acepipes e derivados é tão-só para criar nos leitores um ambiente de esfuziante boa disposição que os compense da triste vida que levam. É só encenação literária. Mas num exagero de crueldade acrescentei que cá em casa somos todos vegetarianos e ele que desculpasse mas ia comer uns iogurtes naturais acompanhados de alface, uma torta de cereja e uma sopita leve de espinafres. Durante 8 segundos desenhou-se no rosto do nosso perito em lirismo grego um ricto de terror - porque ele até detesta iogurte. Temi que me fosse desmaiar nos braços.
Felizmente o cheirinho que já vinha dos lados da cozinha fê-lo perceber tudo, tanto mais que nessa altura desmanchei-me. Com enlevo, soube então que ia degustar uma alhada de cação em estilo alentejano, além de umas coisinhas extremenhas. Preciso de pôr mais na carta?
O Manel está bem e recomenda-se. Roídinho de saudades do "Quartzo", mas agora ele é uma espécie de sioux sem cocar de penas. Sem Net, quero eu dizer. A tratar dos vegetais e envinagrado com uns coelhos que lhe raparam a produção recente.
E lá pelo fim da tarde do dia seguinte o Manel teve de partir. Mas com a consciência do dever cumprido. Quero eu dizer, já levava o grau de alentejano honorário.
Para sucintamente terminar: na altura apropriada engorlipámos uma taça de branco gelado à saúde de todos vós!


Nicolau Saião