Señor Tallon #47
Vamos a contas.
Em Portugal, a grande maioria dos livros de poemas de autores portugueses terão uns 500 a 600 leitores. Os mais pessimistas ficam-se pelos 300. Claro que há excepções. Entre os vivos, há o Herberto, a Sophia, o Eugénio e talvez mais dois ou três. Mas, como disse, são excepções.
E penso que não andarei muito longe da verdade se disser que uma boa parte desses 600 leitores também escrevem poemas. E são pessoas que já publicaram livros ou participaram em pequenas antologias, revistas, fanzines, edições on-line, ou que alimentam fortes pretensões nesse sentido. Basta pensar no número de pessoas que concorre a toda a espécie de certames de poesia, desde os jogos florais das juntas de freguesia aos prémios com nomes mais ou menos pomposos, promovidos por várias câmaras municipais. É uma espécie de pequena sociedade onde todos se conhecem e lêem mutuamente, e onde existem os inevitáveis amigos de estimação e inimigos de ocasião.
Trata-se, portanto, de 600 leitores que fazem as suas escolhas com base em critérios bastante objectivos. Ora, se isto for verdade, que relevância pode ter o trabalho do crítico de poesia “profissional”? Na prática, uma crítica favorável ao trabalho de um determinado autor poderá resultar num acréscimo significativo e consequente do seu número de leitores? Quantos livros mais conseguirá vender um autor caído nas boas graças de certos críticos? Mais 100? Mais 200 exemplares?
E os autores que são objecto de críticas desfavoráveis ou que são ignorados pelos críticos, vendem muito menos livros que os outros? Enfim, a qualidade do trabalho de um autor depende do número de referências favoráveis feitas pelos críticos?
Repito: para que serve então a crítica de poesia em Portugal? Na minha opinião, para tudo o que se quiser, menos para produzir “best-sellers” ou grandes mitos literários. Pela minha parte, devo dizer que gosto muito de ler alguns críticos de livros de poesia. Mas é uma questão de gosto. Não passa disso.
Vem tudo isto a propósito do longo e interessante debate que este post do Rui Lage suscitou na respectiva caixa de comentários. Mas o mais provável é que esta minha contribuição não venha a propósito de coisa nenhuma. Na verdade, nunca fui muito bom a fazer contas.
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