9.7.05

Um clarão laranja

Todos os verões, temo-nos limitado a esperar pelo Outono. A única novidade é o inteligentíssimo telemóvel da última geração onde apanhamos sempre uma carinha roliça. No entanto, as linhas e as cores cruzam-se perigosamente. Em Londres, na linha amarela, antes de chegar às Picoas, rebenta uma, e logo outra entre a Saint Sulpice e a Maiakovskaia. Na Itália escura, onde «o poder é viscoso como mãos de barbeiro» (Mandelstam), espera-se o pior. Por cá, em vez da carinha roliça no ecrã a dizer pai dá-me dinheiro para os ténis vá lá, o teu telemóvel pode muito bem apanhar um clarão laranja saturado de membros.

Filipe Guerra

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Excelente Filipe. E não o digo só pelo conteúdo, mas principalmente pelo que a forma cria: um flash magoado e por isso sugestivo, poético de força e revelação.

11:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

De repente, caímos em nós, dentro de nós, e não há nada lá dentro
A que nos agarrarmos.

Manuel Resende, Em qualquer Lugar, 1997, postado por Osvaldo M. Silvestre in Casmurro.
Carlos Marinho

12:23 da tarde  

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