8.7.05

Fascismo e Al Qaeda 2

A Al Qaeda também não é fascista pelo seguinte.

O fascismo, sobretudo na sua forma mais virulenta, o nazismo, foi a resposta das massas pequeno-burguesas em errância a uma crise catastrófica em sociedades industrializadas democráticas desenvolvidas. Concentrando os ódios em inimigos fáceis (os judeus, pretensos representantes da plutocracia, bem como os ciganos, etc., sendo que estas duas categorias também representavam os estrangeiros; os sindicalistas, socialistas e comunistas, apresentados como aliados daqueles), o nazismo teve como primeira tarefa destruir os partidos e organizações de esquerda.

Só triunfou (digo só, mas é talvez um pouco abusivo, pois ninguém sabe o que teria acontecido se?), devido à política criminosa da Internacional Comunista, política chamada de classe contra classe, que assimilava os social-democratas ao imperialismo e se recusava a fazer alianças com estes contra o inimigo comum: quando Hitler subiu ao poder tinha menos votos do que os social-democratas e comunistas juntos.

A via para lutar contra eles era pois uma aliança entre organizações de massa dentro dos países em questão.

A Al Qaeda e outros radicalismos islâmicos é a resposta de uma civilização decadente que já foi brilhante à contínua humilhação que lhe é imposta pelas potências ocidentais e mais recentemente pelos EUA, principal ou única superpotência. Repare-se que durante dezenas de anos foram eliminados nos países islâmicos os movimentos laicos com a complacência ou até por iniciativa das potências ocidentais (sendo que o caso mais notório foi o Mossadegh e o partido comunista do Irão, bem como o partido comunista da Indonésia).

O radicalismo islâmico não é qualquer coisa inscrita nos genes dos árabes, ou dos turcos, ou dos persas ou dos indonésios, mas o reflexo monstruoso (peso as palavras) de sociedades que se sentem (e são) fracas, perante o poderio do ocidente, sobretudo nos países petrolíferos, sociedades ainda por cima abafadas na sua generalidade por ditaduras, onde a expressão da chamada sociedade civil foi emasculada.

O radicalismo islâmico de massas é, além disso, um fenómeno recente, surgido após o falhanço de movimentos mais laicos ou pluriconfessionais (FNL argelino, nasserismo, Baas, Mossadegh, Al Fatah, etc.)

A via para lutar contra o radicalismo islâmico é pois uma mudança de política dos governos ocidentais.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Os atentados de Londres são condenáveis. Mas também o são os atentados diários do capitalismo que matam milhões de fome e outros milhões de tédio.

12:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sim, era melhor morrermos todos de fome e só ter um livro para ler, anotado pelo chefe da tribo. Isso é que era.

12:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não, o radicalismo islâmico não está nos genes desses povos. Mas está - sublinho - está nos preceitos islamitas.
Não torneemos a questão!
Também o nazismo não estava nos genes dos alemães ou dos japoneses. Mas estava nas doutrinas hitlerianas e dos grupos para-ocultistas, entre outros, que lhe foram base.
Não sou racista - não somos racistas - para sustentar uma semelhante tolice, raios.
A questão não é a etnia nem a nacionalidade - a questão gravíssima é o cimento de fanatismo que os agrega.
Um fanatismo muito mais mortífero que o fanatismo estalinista ou hitleriano.
Porque esses se sustentam em homens ou teorias. Mas como lutar contra o deus dos deuses, o único farol deste mundo e do outro?
Como parar estes enfurecidos do ultra-mundo?
Duma só forma: conhecer a sua psicologia particular e geral. E agir adequadamente, não aos solavancos como os obscenos governos que tutelam as sociedades deste nosso vector.

12:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Com o que consta deste post já estou de acordo, inclusive com o último parágrafo: «A via para lutar contra o radicalismo islâmico é pois uma mudança de política dos governos ocidentais.» É justo, porque embora a política de rapina ocidental não esteja na génese mais profunda do islamismo radical, ajudou a centuplicá-lo, pode dizer-se. Mas o foco da discussão anterior, pelo menos para mim, era mais restrito: tentar situar as bases da ideologia da morte que os radicais pregam e praticam. Sem comparações, mas com juízos de valor, é evidente, porque fugir disso é utópico. E o nosso ponto de referência para os juízos de valor é sempre a nossa civilização ocidental, que nos criou, estejamos a favor ou contra ela.

1:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro M.R.,
São pérolas, mas aos três porquinhos. Se já lhes nutriram o lobo mau, se o medraram a esta estatura que hora vemos, que esperaríeis? É o corre, corre, da palha para o granito, do granito, para a ciber-fortaleza. Entretanto, os vários Práticos, no seu empenho em explodir o maléfico - que um dia julgaram poder manter em viveiro -, rebentam com o bosque. Todo o bosque. Resultado: de cada esconso entre pedregulhos, das luras como dos entrefolhos dos ramos carbonizados, por cada lobo infiel, assomam mil novos lobos, todos de conversão recente, recuando a uma qualquer recente lua cheia? Os belos e redondos porquinhos só querem, como está sobejamente publicado, exportar a sua bela democracia a tais ignaras e obscenas alcateias, é o que se diz, entre porcos? entretanto na história, a verdadeirinha, trata-se é de fechar a panela onde a água ou o petróleo queima. Cozer ou calcinar o lobo, tanto dá, e mais à sua fétida descendência. Mas, ó bácoros de pensamento tão redondinho, que fraca memória. É. Pelo menos desde Sir T.E. Lawrence leitão, a lobitude cresce à custa da vossa perfídia supostamente democrática. Lembrai-vos ainda desses tempos em que o lobo era preto e turra, violador de pobres suínas e degolador insaciável de toucinhos? Pergunto-me, uma civilização de redondos porquinhos não se perpetuará, forçosamente, à custa da amamentação de eternos lobos?
Mas que o M.R. e sobretudo o F.G., não me interpretem mal. A minha escolha iria toda para um Gandhi Lobo, para um novo Cristo Lobo ou lobo Sufi ou assim. Odeio, entristece-me, deprime-me esta mortandade no zoo, como a qualquer outro que conserve um mínimo de sentimento e, a contra corrente, resquícios de amor e respeito por essa besta que é o homem, porco ou lobo; tenho amigos queridos em Londres e por outras cidades desta bacorolândia. Afinal, zoologicamente enquadro-me nos leitões. Ocorre que vivi entre lobos, dancei com eles. Na altura ainda não eram lobos, é verdade, eram homens. Mas o homem tem limites. Há um momento em que qualquer homem se torna um lobo. Mesmo o mais analfabeto construtor de lobos o sabe. Veja-se o que ocorreu no Irão, os lobos cresceram exponencialmente. E agora, Senhores Práticos, para onde segue a bombarda? Irão para a Síria, exportar democracia à força, ou a luminária sírio faroliza já o Irão?
Afinal - lembram-se? - o lobo mau da destruição maciça foi miragem de Práticos dados a coaxos e afeitos a filmes de Cowboys. E aqui estamos. E a mais não vou na mensuração de tão desmedida bola de neve, até porque, já nem sei que cochino o disse, os negros vaticínios viajam mais depressa do que os maus acontecimentos.
Deploro, condeno, mas já vi demais para leviandades.
CM

2:02 da tarde  
Blogger Orlando said...

Como podemos falar em democracia aos arabes, depois de termos apoiado a interrupção das eleições na Argélia? A segunda volta só não se realizou porque o partido islâmico as ia ganhar. Mario Soares aceitou ir a Argel branquear a ditadura que usou o perigo islamico como argumento para se perpetuar no poder. Agora diz que temos que compreender as origens do terrorismo...
Podia começar por compreender o que foi fazer a Argel.

2:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estou um pouco cansado desta história errónea do Ocidente vs Oriente o que diabo é isso. Na base da bússola está o mesmo conjunto de valores civilizacionais que num lado se transformou com a mercantilização e é defendido por elites burguesas e que do outro se perpetuou com a manutenção de regimes agrícolas tutelados por chefes locais, como ainda acontece entre nós em Marco de Canavezes.

Aliás, podemos fazer este exercício: se Marco de Canavezes fosse do tamanho do Irão, o que seria o Avelino?

2:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro anónimo CM, com um texto literariamente tão bem esgalhado, porque não põe o seu nome aqui? Não percebi as simbologias todas, mas gostei. Não é gozo, gostei de ler.

2:40 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Foi exactamente o que eu lhes disse Manuel, exactamente. Ainda hoje acho que se me tivessem dado ouvidos o holocausto judeu poderia ter sido evitado.

5:28 da tarde  
Blogger Amélia said...

Nada justifica as guerras ditas «santas»,venham do ocidente ou do Islão.E é tudo.tentar explicar é minimizar o terror.

9:18 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Vão ler "Correspondência de Fradique Mendes", parte Egipto, de Eça de Quieroz.

5:27 da tarde  

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