3.7.05

Eu não acredito em bruxas três

Perguntará o eventual leitor deste blogue. Mas o que é que este palerma (palerma sou eu) se põe agora a falar do exponencial, quando nos deixou pendurados naquela coisa das bruxas?

E com razão. É que não expliquei o que tinha a ver aquela introdução belgicana respeitante às bruxas.

Bem, respiremos fundo. Houve uma altura em que pensei fugir ao Salazar e às suas guerras coloniais, e fui para a Bélgica, tendo arranjado "emprego" na Grolier International, uma enciclopédia americana que a gente tinha de vender segundo excelentes métodos de marketing. Tinha uma página especial que a gente segurava no ar e a encadernação não se desfazia. Era para provar que a encadernação realmente não era qualquer merda. Mas tinha que ser mesmo aquela página.

Faziam estágios para os "empregados" (os quais não tinham qualquer certeza de rendimento senão a comissão das vendas). Também nos davam um tutor, um vendedor experimentado que ia connosco aos potenciais clientes pescados por telefone (ring ring... Alguma coisa familiar?). Calhou-me como tutor o filho do embaixador da Índia, pessoa de grande cultura e honestidade, que me explicou: «Eh pá, pira-te desta merda. Olha que eu só vendi bastantes enciclopédias porque o meu pai é embaixador.»

Estávamos nós nisto, quando um palerma louro com o carro amouxado por certamente várias aventuras do género, e cheio de inscrições em flamengo, começou a querer encostar-nos à berma. É que o gajo, o filho do embaixador da Índia, era mesmo, digamos, um bocado preto e eu, aqui para nós,não tenho assim um ar muito ariano,seja deus louvado.

(ah ah! só agora, neste preciso momento é que percebo a ironia involuntária desta frase, visto que, segundo os partidários destas coisas,os indianos são os descendentes dos arianos. Desculpem qualquer falta)

Graças a deus ou ao diabo, o gajo, o filho do embaixador da Índia, não era nenhum peco em matéria de condução automóvel e, passados uns segundos, estávamos a expirar alívio na berma.

Foi nessa altura que compreendi que havia um problema na Bélgica. Nessa época, o grande partido nacionalista flamengo era o Volksunie, considerado pela burguesia francófona e pela esquerda como proto-fascista.

E o quê?

O quê, é que hoje o Volksunie, se cindiu. O Volksunie propriamente dito encosta-se regularmente à esquerda e os seus dissidentes fizeram o Vlams Blok (a que pertencerá, certamente essa avantesma que me quis assassinar numa berma).

Segue no próximo número.