De como é que eu burlei um alfarrabista fascista
Aconteceu o seguinte.
Havia no Porto um alfarrabista, o Sérgio, na rua de Cedofeita, que era um bocado fascista. Tinha tudo o que a gente queria (inclusive senhoras americanas com o púbis à mostra), mas também imensos documentos de louvor ao Rommel, a raposa do deserto.
Ora, acontece que, uma vez, à procura de sobreviver nessas Europas, fugido ao Salazar, fui dar a Bruxelas, onde me aconteceram outras aventuras.
Entre os empregos precários que tive, tive o emprego de andar, disfarçado de soldado de Napoleão, com um painel pela frente e outro painel por trás, a vender não sei que coisa aos europeus convictos.
Junto a mim, havia um autêntico fascista, convencido da sua impedância, mas um dos poucos com quem se podia falar. Explicou-me diversas coisas, inclusive que havia um poeta belga, Henri Michaux que era o suprassumo.
Para ele, era o suprassumo só porque era belga.
Palavra puxa palavra, consegui induzi-lo a emprestar-me uma antologia da poesia francesa do Pompidou, que, para quem não sabe, foi primeiro-ministro francês e pessoa altamente culta, tanto que fez um centro cultural do mesmo nome nos Halles de Paris, onde antigamente se comia excelente sopa de cebola às tantas da manhã, coisas que já não há.
Que fiz eu com a antologia? Vendi-a ao Sérgio, que não percebeu que os francos inscritos na página de rosto não eram franceses, mas belgas.
Grande vitória do proletariado sobre a pequena-burguesia de vários países.
Note-se, aliás, que o crime prescreveu, que eu não sou burro.
4 Comments:
Fizeste tu muito bem
Camarada Resende,
é preciso que o proletariado continue a somar vitórias assim. E já agora, economistas para o Campo Pequeno!
Resta saber qtas vezes o fascista o "burlou" a si...
Isto é só conversa. O Resende em Paris era empregado de café na Madeleine, conheci-o bem. Isto conta ele para se dar ares.
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