Da idolatria no meio literário
Estive a ler o suplemento "Mil Folhas" (25.06.2005) dedicado a Eugénio de Andrade. Perante tanta idolatria (aconteceu o mesmo com Sophia de Mello Breyner...), sobressaem os textos de Eduardo Pitta - "Insistir na 'veneração' acrítica é um disparate e um erro" - e de José Tolentino Mendonça - "Desconfia daqueles que veneram. Expulsa de tua soleira os devotos. Não admitas a teu convívio os lábios reverenciais". Um escritor não precisa de devotos (que tantos estragos fazem com a sua cegueira bem intencionada), mas de leitores conscientes que olhem para a sua obra com atenção crítica. Como nos mostram as memórias de Gabriel García Márquez, até os maiores escritores "pecam" sete vezes por dia...
Ruy Ventura
9 Comments:
É verdade, aquilo cheira a panegírico, a elogio fúnebre. Mas, participar nesses suplementos, e às vezes revistas inteiras, para dizer que não se deve cair na veneração e se deve ser crítico, vai dar ao mesmo. O ideal, creio eu, seria fazer uma boa escolha da poesia do defunto e espalhá-la pelas páginas do suplemento. Só assim se honraria o preceito: morra o homem, fique a obra.
O tolentino é um padreca, não tem moral para botar palavra.
Certíssimo! Assim, por exemplo: o Pitta também é um bom ponto.
O suplemento vale por si, pelas "criticas", pelas histórias de e com o poeta, por algumas, pequenas, revelações.
Não me parece veneração, devoção ou elogio fúnebre, nem me lembro de alguém ter chamado a atenção quando o MilFolhas fez exactamente o mesmo na morte do Hermínio.
Infelizmente é sempre assim: se se fala num autor é porque se é apenas "acéfalo" adorador se não é porque se é iletrado... Caro Ruy Ventura a sua afirmação é de um pretensiosismo? bacoco!
Este tipo parece ou é mesmo alentejano?
Não concordo com o epíteto de bacoco aplicado a Ruy Ventura. Acho que é desajustado e injusto, pois nada no seu textinho aponta para isso.
No resto, RV tem sido - já na sua terra muitas vezes madrasta, já no seu país mal agradecido mas que tem dignamente representado no estrangeiro, com o pundonor de homem honrado e de real talento - o perfeito contrário do sujeito bacoco, raso, charro.
Tal qualificação intempestiva de Nancy Brown é pois profundamente injusta.
Agradeço as observações ao meu post (obviamente aquelas que revelam inteligência - mesmo que essa inteligência se concretize em opiniões contrárias às minhas).
Abraço o meu amigo Nicolau por, mais uma vez, não ter medo de defender os amigos quando estes são enxovalhados (sejam amigos vivos, como ainda vai sendo o meu caso, ou defuntos, como Régio).
Sobre os insultos com que me presentearam (já os esperava quando escrevi o textinho) algumas boquinhas caridosas, respondo com algumas frases alentejanas (de que me orgulho):
1- não sou tão rodilha que me abaixe a esfregões;
2- para uma pessoa como eu, tudo são honras (até os insultos recebidos por gente tão baixa, que não me atinge - perdoem a imodéstia).
queria escrever:
"de gente tão baixa que não me atinge".
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