15.7.05

Castelo de Vide



Descobri, sem esperar, a casa onde viveu Ventura Porfírio. Depois de deambular pelo labirinto da vila, como sempre, desde a infância. (Tocam-me estes recantos frescos e sombrios...)
De súbito, por detrás de Santo Amaro, uma ruela abandonada, rodeada por muros que a chuva, o sol e as ervas foram corroendo. Assomo por um buraco duma velha porta e contemplo a torre da igreja (carcomida no meio de um quintal), onde um sino virado aos canteiros e às figueiras parece querer tocar a qualquer momento, despertando séculos e séculos de silêncio.
Que ruína contemplo nesta terra se não a ruína da própria humanidade que, ao passar dos dias, se foi enterrando entre pedras e pedaços de telha partida, entre musgos e mato, entre ervas que o tempo sufocou?
Subi a calçada, íngreme mas fresca. Destaca-se uma casa. Simples, mas lançando para o meu corpo uma emanação estranha. Não soube, na altura, reconhecer o seu proprietário. Houve, contudo, uma suspeita: pareceu-me encontrar ali algo do espírito de Ventura Porfírio. Ao mesmo tempo: tranquilidade e drama, harmonia e angústia, serenidade e melancolia. Nunca o conheci pessoalmente, mas tenho recebido estas linhas da sua pintura.
Cheguei a casa e procurei de imediato a fotografia daquela habitação, num livro que sobre ele foi publicado. Não me enganara.

Ruy Ventura