Say it with a ukulele
FOG
Say it with a ukulele
"Diz-lhe isso com um cavaquinho..."
O rouco fonógrafo grita;
Meu Deus, diz-me como o direi,
Se a solidão já me habita.
Com os acordeões que espremem,
Uns pobres, cautelosamente,
Clamam sem cessar pelos anjos
E seus anjos são tormento.
Os anjos abrem suas asas
Mas a névoa a terra cobre;
Deus louvado, que nos pilhavam,
As pobres almas como tordos!
A vida é fria pescadora;
- Assim vives? Que quer's que faça?
São tantos os que naufragaram
No fundo do mar oceano!
Os bosques parecem corais,
A que a cor tivesse fugido,
Os carros são como esses barcos
No fundo do mar esquecidos.
"Diz-lhe isso com um cavaquinho..."
Palavras, palavras, palavras?
Amor, diz-me onde o teu altar,
Que já me vai cansando este adro.
Ah! Fora a vida em linha recta,
Que bem levávamos a vida!
Mas nosso fado assim não quer,
E há que dobrar certa esquina.
E onde essa esquina? Quem o sabe?
Silêncio! A bruma não fala.
Iluminam a luz as luzes,
Trazemos nos dentes a alma.
Onde encontraremos consolo?
O dia trouxe a noite escura.
É tudo noite, é noite tudo,
Mas sempre encontra, quem procura...
"Diz-lhe isso com um cavaquinho..."
Recordo as unhas; e o verniz,
Como brilhava ao dar-lhe a luz!
E ouço-a ainda a tossir.
Giórgos Seféris
(Tradução: Manuel Resende)
3 Comments:
ukulele... há africanidade no som desta palavra.
(na palavra)
não me falem de ilhas,
a brevidade baloiça num rio redondo./
loucamente,
o inventário pertence a uma canoa de pássaros./
há tanto tempo.
hoje,
apenas hoje,
a preguiça presa ao sol
despontou.
de súbito, aqueceu a pedra
naquela língua
que lida
pula
pula
pula.
eu tenho na palavra uma pedra,
a língua que perdura.
há muito mar,
e os meus olhos nem azuis são.
mariagomes
26junho.2005
ando a abusar dos advérbios, onde se lê "loucamente", leia-se, por favor, "louco"
( é que depois os advérbios zangam-se e é um sarilho!)
Enviar um comentário
<< Home