1.6.05

Pirro teve mais uma vitória estrondosa

Sabem perfeitamente que votaria contra o Tratado Constitucional. Devem então pensar que fiquei contentíssimo com a vitória do "nee" nos Países Baixos (desculpem, fum, fum, mas Holanda é só uma província e os frísios, por exemplo, que os outros holandeses medianos acham que são «estúpidos», como os «portugueses» acham que os alentejanos, esse povo soberbo, limpo e digno, são dignos de anedotas estúpidas), uf, uf, já me perdi na sintaxe, mas enganam-se redondamente.

Porque, a Holanda (perdão, frísios, perdão, Rik Jellema, os Países Baixos), sob a aparência de sociedade tolerante, é (perdão, são) o protótipo da sociedade arrogante. Não os holandeses, repare-se, mas sim o banho em que se vive. Uma coisa são as pessoas, excelentes e abertas, outra o caldo em que vivem. Porque na Holanda (perdão, nos Países Baixos), toda a gente é calvinista por educação, até os católicos.

[ATENÇÃO ATENÇÃO: antes de tirarem conclusões apressadas, reparem que os católicos, graças à sua conhecida taxa de reprodução superior (obrigado, Senhor, pelo método Ogino, que até está muito bem dito Ó-gino, pisc pisc), ultrapassaram os calvinistas quantitativamente falando. Portanto, se falo de calvinismo, falo apenas dos costumes culturais que impregnaram a sociedade holandesa por força do calvinismo histórico.]

E presumo que até os muçulmanos, não têm outro remédio [não sei, não investiguei, não me deram subsídios].

E os calvinistas, por definição e educação, ao contrário dos papistas, são intrinsecamente morais e superiores. Não precisam de se ir confessar ao padre, para expiarem os pecados: esta é a regra moral, no dia a dia devem comportar-se de acordo com a sua consciência moral, ao passo que os outros, os papistas, vão à padralhada pedir perdão, pecam e depois tudo lhes é perdoado. Esta é a variante da ideologia dominante que domina na Holanda, perdão, nos Países Baixos. Uma demonstração de que muitas ideologias libertadoras podem transformar-se em ideologias de opressão. Coisa assaz antiga.

[Uma anedota holandesa, perdão, neerlandesa: «Maria (vejam a conotação, digo eu) regressa da cidade à sua aldeia e vai visitar o padre, católico, claro. Este diz: "Então Maria que fazes tu na cidade?" "Sou prostituta" "O quê???""Prostituta!" "Ah, bom, pensei que tinhas dito protestante!"» Risos na plateia do levantatirri]

Onde é que eu ia. Ah! Fiéis ao dogma nacional, "cada um por si, e Deus por todos", os holandeses, desculpem, os neerlandeses, desculpem, na sua maioria, os neerlandeses, ou melhor, os neerlandeses, na sua maioria, fizeram contas à vida e verificaram que o euro significou aumento dos preços (em Portugal e noutros países também, mas na Holanda, desculpem, nos Países Baixos, mais, porque os iluminados que nos governam valorizaram estranhamente o florim), e que há muçulmanos como o caraças em Amesterdão (repare-se, já havia, mas, antigamente, puxa, nós somos superiores, aguentamos com esta escória, deixa-os lá viver, até são castiços, "cada um por si, e Deus por todos") e que os políticos, europeus e paíso-baixenses, os traíram e lhes mentiram.

Pumba: 63% de "nãos" e 37% de "sins".

Não foi o mesmo "não" que em França, onde a discussão política atravessou muito mais toda a sociedade, através da paixão, militância e do suor e lágrimas de muita gente. Não estou aqui a aprovar sociedades ("esta é boa, aquela é má"), acho que estou a mostrar uma realidade.

E, perante este resultado catastrófico da Constituição nos Países Baixos, país tradicionalmente obediente (estranho casamento entre a obrigação moral individual e a liberdade cívica, sendo aquela a fundar esta), apenas digo uma coisa: ainda bem que os descabelados cartesianos franceses (que são tudo menos racionais) disseram "não". Porque esses, ao menos, poderão, se quiserem, perdão, se o quiserem os militantes de esquerda, contribuir para dar uma solução europeista

a

um

problema europeu.

Querem mais uma anedota racista? Não? Então, aí vai:

"O que é que acontece quando um frísio emigra para a Áustria?

Não sabem???

Então eu digo:

A Holanda perde um idiota e a Áustria ganha um engenheiro."

Ah ah ah.