30.6.05

Da abstracção

Existirá abstracção (na pintura, na escultura, na poesia)? Tenho as minhas dúvidas. Toda a arte abstracta pode ser considerada apenas como uma síntese do mundo, reduzindo-o a uma essência, talvez (nos casos extremos) atómica, mas ainda assim real, concreta. A relatividade do concreto (cuja poliédrica dimensão o torna tão fluido) permite-nos pensar que a abstracção é para uns uma utopia, para outros um papão inexistente.

Ruy Ventura

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não gostaria de me enredar assim na palavra e no conceito de abstracção porque, seguindo por esse caminho árido, também poderia dizer que, se a abstracção é uma utopia ou um papão (R. Ventura) ou, pelo contrário, a essência das coisas (JLBG), mas em ambos os casos ela seria «real», então a realidade do meu gato de carne e osso a brincar com um verdadeiro fio de algodão seria uma ilusão.

11:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Já ninguém exige à arte figuração, representação ou sequer simbolização (menos na escrita, porque se esvaziaria e passava a caligrafia). Nem se trata aqui de afirmar que a abstracção não produz arte (mesmo na escrita), mas de contestar a afirmação tautológica de que «não existe abstracção» ou de que «a abstracção é o real». Para mim existe o real, a abstracção, e a abstracção do real (que dá uma outra boa caracterização do real, para quem gosta). Na boa pintura impressionista, o borrãozinho breve que é uma abelha, já zumbe na tela, de tão real; mas essa abelha não é a que me pica e me dá mel.

1:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O anonymous anterior sou eu. JLBG já li um dos seus poemas que saiu na Periférica. Onde está lá a abstracção?

1:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Lancei este post apenas para promover a discussão.
Mas atenção, há neste momento - nomeadamente nalguma poesia - uma reacção contra o pensamento abstracto que a arte pode veicular, com a promoção de um hiper-realismo que pode tornar-se perigoso.

10:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Quanto à afirmação do Rui Lage, com a qual concordo plenamente, é claro que as teorias valem o que valem... e raramente são aplicadas. Veja o surrealismo... os melhores surrealistas são aqueles que não cumprem a cartilha.
A propósito: como posso, Rui, conhecer a obra desse pintor de que falas?

10:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

R. Ventura, o hiper-realismo é «perigoso» porquê? E para quem? Para o abstraccionismo? Como há teorias para tudo, lembro-me de uma, já dos tempos da faculdade, qundo dávamos Eça e o realismo, que rezava que a corrente que menos representava e aprofundava a realidade era o realismo (não posso dizer quem o escreveu e a propósito de quê, teria de pesquisar muito). Sei que a professora, Lúcia Lepecki, estava de acordo com isso. Pessoalmente, e subjectivamente, como já disse naquela longa discussão que houve aqui em tempos a propósito de um post de R L sobre o «real», condeno o excesso de abstracção nalguma poesia portuguesa, que já estava a tornar a língua dos poemas sem ossos, quase morta (tenho sempre em mente Herberto, Gastão Cruz e outros quando digo isto).

12:30 da manhã  

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