Três poemas de Louis Scutenaire
PLUMAS PERDIDAS
Beethoven não ri nunca.
Os seus cabelos, os seus vestuários
são negros e os seus filhos mal amados.
Beethoven, velho de dois séculos
não abandona a minha bigorna
a minha bigorna de simples poeta.
Os seus olhos velados brilham
como a taínha nadando na lama.
A ESCRITURA NA FRONTE
Em certo dia alguém juntou
palmeiras e mais palmeiras
ao redor da cabeça
para fazer um jardim.
E depois colocou o jardim
sobre a testa.
E no dia seguinte as palmeiras tombaram.
Escutem: a morte
chega
rufando como um tambor.
AS ESPUMAS DA INOCÊNCIA
A rainha defende os velhos
a face dos charcos antigos
a chuva de que se forjam os alfinetes bicéfalos
E pela tardinha
derrubou todas as árvores que a oprimiam
O chapéu devora-se docemente
no centro da mesa
e as cidades aprumam-se um pouco
fora da quotidiana aventura.
Nota: Os originais franceses deste poeta belga (1905-1987) foram retirados da "Opus International" 19/20. Os agradecimentos são devidos a Carlos Martins, que me cedeu a revista em causa.
Desenho, tradução e nota de Nicolau Saião.
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