11.5.05

Três poemas de Louis Scutenaire



PLUMAS PERDIDAS

Beethoven não ri nunca.

Os seus cabelos, os seus vestuários
são negros e os seus filhos mal amados.
Beethoven, velho de dois séculos
não abandona a minha bigorna
a minha bigorna de simples poeta.

Os seus olhos velados brilham
como a taínha nadando na lama.


A ESCRITURA NA FRONTE

Em certo dia alguém juntou
palmeiras e mais palmeiras
ao redor da cabeça
para fazer um jardim.
E depois colocou o jardim
sobre a testa.

E no dia seguinte as palmeiras tombaram.

Escutem: a morte
chega
rufando como um tambor.


AS ESPUMAS DA INOCÊNCIA

A rainha defende os velhos
a face dos charcos antigos
a chuva de que se forjam os alfinetes bicéfalos

E pela tardinha
derrubou todas as árvores que a oprimiam

O chapéu devora-se docemente
no centro da mesa
e as cidades aprumam-se um pouco

fora da quotidiana aventura.

Nota: Os originais franceses deste poeta belga (1905-1987) foram retirados da "Opus International" 19/20. Os agradecimentos são devidos a Carlos Martins, que me cedeu a revista em causa.

Desenho, tradução e nota de Nicolau Saião.