Mais histórias do diabo
"Entretanto, o diabo acercava-se pé ante pé da lua e já esticava a mão para a apanhar, mas retirou-a bruscamente, como se se queimasse, chupou os dedos, sacudiu a perna, contornou a lua e atacou do outro lado, mas voltou a dar um salto para trás e a retirar a mão. Apesar de todos os falhanços, o manhoso diabo não desistiu, porém, de fazer as suas diabruras. Avançou, agarrou de repente na lua com as duas mãos e, com a cara aos esgares e sopradelas, ia-a atirando de uma mão para a outra, como o mujique que pega numa brasa para acender o cachimbo; finalmente, guardou-a apressadamente no bolso e, como se nada fosse, correu adiante.
Em Dikanka ninguém se deu conta de que o diabo roubara a lua. Aconteceu até, aliás, que o amanuense local, saindo a gatinhar da taberna, viu a lua pôr-se a dançar no céu, sem mais nem menos, jurando-o por Deus a toda a aldeia; mas os vizinhos abanavam a cabeça e até se riam dele. Mas que motivo teria levado o diabo a ousar cometer uma tal ilegalidade?"
Descubra em "Noites na Granja ao Pé de Dikanka", de Nikolai Gógol.
Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra.
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