Caríssimo Homem do Leme
Caríssimo Homem do Leme:
Aqui deixo consignado o seu lema:
«Preso entre a navegação à vista e as promessas de rumo, fica Pombal, e também, sem dúvida, fica Portugal. Por aqui se vai navegar sobre o nosso Passado, Presente e Futuro, por aqui se vai escrevendo e opinando se precisamos, ou não, de "Homens do Leme"...»
Poucas prosas tenho visto mais patrióticas (digamos assim) do que esta.
Por isso me surpreende esta sua interpretação do que está a ocorrer em França:
«Isto para dizer que o "Não" francês é mais uma (de tantas) reacções chauvinistas de um país que não se consegue libertar do seu passado e do seu modelo. Mas as interrogações são cada vez mais legítimas e quanto mais se discutir e informar melhor.»
Isto surpreende-me numa pessoa tão imbuída do seu passado português...
Na verdade, o «não» em França é tão passeista como o «sim». Do lado do «sim» como do lado do «não» há os que querem recuperar a grandeza da França, os primeiros,do lado do sim, para continuarem a exercer o seu poder em conjunto com a Alemanha (a França e a Alemanha têm determinado até hoje com a participação pouco entusiasta do Reino Unido, a política da CEE e da UE), os segundos, do lado do não, por reacção nacionalista.
Mas dos dois lados há verdadeiros europeistas e até internacionalistas. Uns acham, ou dizem que acham, que se o Tratado Constitucional não for aprovado, a Europa entra em crise, os outros acham que se o «não» ganhar, e a Holanda repetir a inconveniência, está lançado um debate europeu e porque não um movimento para uma Assembleia Constituinte Europeia, em que os povos europeus poderão enfim entrar em cena e dizer o que têm a dizer.
Atrevo-me a dizer que esta ala do «não» foi a que conseguiu mobilizar a opinião pública francesa para um debate político generalizado que deveria ser orgulho de todos nós, europeus. Não foram Jean-Marie Le Pen nem de Villiers (extrema-direita) quem mobilizou as discussões nas associações e mercados, mas o PCF, os socialistas tendência Fabius, a esquerda da esquerda (trotkystas, etc.), mesmo os anarquistas e os altermundialistas (ATTAC, etc.), tudo tendências que são nitidamente internacionalistas pela sua própria constituição.
Claro, se o «não» ganhar, ganha uma tropa sem chefes e assaz dividida. E então? Melhor, para um verdadeiro debate. Porque, se o «não» ganhar, vamos ter mesmo de discutir a sério o nosso destino, sem confiar nos mesmos eternos dominantes, especialistas e técnicos e economistas que não têm feito mais do que nos conduzir ao desastre.
Em tempo. Devo esta referência ao Sítio do Não. Eu, que não suporto especialmente o Pacheco Pereira, tenho a dizer que está neste momento a fazer um autêntico serviço público para quem quer em Portugal estar informado sobre o debate em torno do Tratado Constitucional.
ERRATA: Quero corrigir o post, sem corrigir a História (mesmo a irrisória história deste post). Também há uma parte dos gaullistas que votam não sem ser por nacionalismo. Desculpem lá.
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