Bicicleta
Quem me conhece bem, já sabe com o que conta: sou adepto das mensagens sms. Sempre que desejo comunicar com alguém, se pouco tenho para dizer, prefiro sempre a brevidade de uma mensagem enviada através do telemóvel. Não dá milhões, mas, como sabem, é um processo de comunicação rápido e barato, mais barato do que um telefonema.
Há poucos dias escrevi esta mensagem a um amigo: "Quando é que me manda a bicicleta? Estou farto de andar a pé..."
Ao contrário do que possa parecer, não me referia a qualquer velocípede - e muito menos me considero farto das minhas andanças pedestres, que ponho em prática sempre que posso e a paisagem me agrada. Na minha mensagem, um pouco brincalhona, manifestava apenas a minha ansiedade pela chegada da revista "Bicicleta", dirigida por Bruno Vilão. E qual a razão para tanta ansiedade? A qualidade deste veículo de cultura, que tem sabido presentear-nos com bons textos e melhores ilustrações. Dois dias depois da mensagem, a "Bicicleta" chegou... trazendo no selim uma colaboração valiosa.
Este número 8 da "Bicicleta" comemora os 25 anos da instituição que é sua proprietária, Mandrágora - Centro de Cultura e de Pesquisa de Arte, editado com o patrocínio da câmara municipal do concelho em que está sediada, Cascais. Os motivos de interesse são variados: poemas de vários autores, como os brasileiros Floriano Martins e Renato Suttana, o espanhol Antoni Miró e os nacionais João Garção, Nuno Rebocho, Sandra Costa, Nicolau Saião, Alberto Pimenta, Carlos Garcia de Castro, José Carlos Breia, Tiago Gomes, etc. As ilustrações estão a cargo de vários artistas importantes: Slako Mali, Dobrica Kamperelic e Ruzica Mitrovic (Sérvia), Silvia Aquiles (Argentina), Antoni Miró, Pepe Murciego, Cezar Reglero, Luis Soliño, Antonio Gomez e José Blanco (Espanha), Clemente Padin (Uruguai), Rodolfo Franco e Dorián Ribas Marinho (Brasil), Antonio Sassu e Capatti Bruno (Itália) e os portugueses Almeida e Sousa, Ricardo Mestre, Nicolau Saião e Fernando Aguiar. Seriam, por si só, motivos de interesse mais do que suficientes para lermos esta revista com gosto, não nos fosse ainda oferecida uma boa reflexão sobre o ensino artístico, assinada por Fernando Rebelo.
De entre os textos publicados neste número da revista "Bicicleta", tocou-me particularmente este poema de João Garção. Aqui fica, como oferta aos leitores e como abertura de apetite...
SENTIMENTO
A água está parada, muito
quieta no meio da noite.
E é preciso perguntar-lhe: és
água de um rio?
És água dum mar? És água
dentro dum copo
sobre uma mesa muito antiga
e sonhada?
És água para um cavalo
beber? Para um cão se
banhar?
Para um homem e uma
criança se lavarem ao relento?
Para uma mulher, para um
gato, para um lobo?
E a água talvez não te
responda. Nunca te responda.
Ou te responda tarde de mais.
Ou nem sequer te ouça.
Mas tu pergunta. Pergunta e
espera pela resposta.
Mesmo que os minutos
passem entre ti e a água.
E devagar uma silhueta se
desloque
e depois se detenha no meio
das árvores imóveis.
Ruy Ventura
[A "Bicicleta" pode ser encomendada através do email: madragorarte@netscape.net]
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