14.3.05

A tusa dos adolescentes.



É verdade. Estou mais uma vez a ler um livro de temática vincadamente sexual. Ou sociológica? Uma ficção pura e dura ou escalpelização de uma fase da vida de toda a gente, a adolescência?
Bem, estou a ler (vou quase no final, o livro lê-se à velocidade de um Fangio) "Tusa" (D. Quixote), de Melvin Burgess, um inglês nascido em 1964, tendo-se fixado em Londres em 1983. Vive em Manchester e é um dos mais famosos autores de livros para a juventude.
À partida, poderia ser mais um livro a usar o sexo como isco de vendas. Mas vai muito para além disso. Num estilo que apresenta semelhanças com o de Sue Towsend (os diários de Adrian Mole), evidencia-se pela grande capacidade narrativa, pelo realismo que imprime e pelos diálogos verdadeiramente deliciosos.
A linguagem dos jovens é captada de forma bastante conseguida. A linguagem, de forma geral, anda muito longe do obsceno, mas não se inibe de usar termos mais fortes. E muito bem. Qualquer suavização se tornaria artificial e faria o livro perder o pé.
O autor consegue "penetrar" nas cabeças de rapazes e raparigas a caminho de ter idade para votar. O seu universo de traumas e sonhos, de alegrias e desilusões, a sua relação com a família e os camaradas de liceu, o despertar das pulsões sexuais de forma perfeitamente avassaladora. Ou seja, fala do amor, do sexo, da amizade. No fundo, fala da vida, numa Inglaterra dos nossos dias. Mas consegue "tocar" os jovens pelo seu carácter universalista.
O trio de protagonistas (Dino, Jon e Ben) é pintado de forma consistente, passando muito para além de esboços. É um prazer acompanhar as suas desventuras e aventuras, num registo que é essencialmente divertido mas sabe também deixar transparecer uma ternura imensa pelos dramas de uma fase da vida em que tudo nos é possível ainda, embora na altura se possa questionar esta "certeza".
Fica uma amostra, extraído da página 28, capítulo 3 (O Grande Segredo), relatando a cena de sedução entre uma jovem professora e Ben, um seu aluno de 17 anos:
"Já no apartamento dela, ela fez café e sentaram-se no sofá a bebê-lo, em silêncio. Depois ela levantou-se, correu as cortinas, fê-lo pôr-se em pé no meio da sala e começou a despi-lo.
Costumava fazê-lo e Ben pensou que um dia destes gostava de ser ele a comandar. Ali despiu-o todo, peça atrás de peça, como se estivesse a desembrulhar um presente. E agora ali estava ele, nu até aos tomates, no centro da sala com uma erecção que nem um pilar de cimento. Se por um lado era extremamente desconfortável estar naquela figura com uma professora a rondá-lo, o que se seguiria era tão deliciosamente indescritível que pouco lhe importava repeti-lo as vezes necessárias. Ela agarrou nessa erecção com uma das mãos quentinhas e deu-lhe um longo, espaçado beijo. Dava para matar leões marinhos com aquele arpão. Puxou a blusa dela para cima e debruçou-se para lhe soltar o soutien, e ela agachou-se e engoliu-o todo com a boca.
Era um chavalo de sorte."

Luís Graça