16.3.05

Más Notícias #1

Para variar, aqui vão más notícias.

Pensa muito boa gente que a poesia é aquela parte criadora e jovem da língua, que o poeta é o visionário que mostra o mundo a partir de novos prismas nunca antes utilizados. Erro fatal e grave.

Quem se tenha debruçado sobre o nobre Homero ou os poetas da tradição oral em geral (por exemplo, os bardos finlandeses que entoavam esses cantos a certa altura reunidos por Elias Lönnrot no "Kalevala") logo percebe que um dos instrumentos de "criação" poética é a repetição monótona de fórmulas estereotipadas, as quais como que marcam o ritmo do poema.

Exactamente assim como nos rimos das anedotas que (habilidosamente, insinuando) confirmam os nossos preconceitos: elas são variações sobre um tema comummente aceite, que nos fazem sentir seguros. E esses poemas também serviam para reforçar o sentimento de pertença a uma comunidade, eram pois factores de conservação - não de inovação.

Como os bebés que riem quando vêm aparecer de novo a face da mãe ou do pai que se havia escondido, ou que tiram prazer da incessante repetição de um gesto.