29.3.05

Cinco dias, cinco poemas de Adrienne Rich, em tradução inédita de Margarida Vale de Gato.

Quarto Dia.

A FENOMENOLOGIA DA IRA

4. Branca a luz divide a sala.
Mesa. Janela. Abat-jour. Tu.

As minhas mãos, pegajosas de outro modo.
Sangue menstrual
que parece escorrer-te do lado.

Irão os juízes tentar dizer-me
Qual era o sangue de quem?


4. White light splits the room.
Table. Window. Lampshade. You.

My hands, sticky in a new way.
Menstrual blood
Seeming to leak from your side.

Will the judges try to tell me
which was the blood of whom?


NOTAS:
1º verso: talvez demasiado dengosa a minha pirueta poética para colocar o adjectivo da cor na mesma ordem que na língua de partida. É uma mania cá minha.
2º verso: "abat jour": parece-me boa tradução para "lampshade"; ser francês cria uma divertida confusão.
3º verso: aceitam-se sugestões para a tradução de "in a new way".
5º verso: optei por "lado" em vez de "flanco", porque biblicamente também dá para a criação da mulher.

Margarida Vale de Gato