Boas Notícias #2
Houve uma vez várias guerras, morticínios e simples genocídios que provaram que a barbárie não era coisa do passado, reminiscência duma idade negra da Humanidade que o progresso varrera com os seus ares salubres, mas, sim, produto industrializado, ainda que eventualmente, secundário, de alguns dos mais brilhantes cérebros e processos e instituições da Europa desenvolvida e avançada.
No meio duma dessas guerras, a primeira grande mundial, ainda enebriados de expressionismo (expressão da nova época), alguns poetas, descobrindo que os seus irmãos caíam como tordos por força dos factores externos ambientais, embora é verdade mais raramente por genuíno impulso interno de overdose, acharam por bem dizer merda a tanta civilização, incluindo a que dera tão excelsos versos antigos e modernos e, inclusive, irreverentes ejaculações literárias.
Surgiu assim dada.
Eis senão quando outros também irritados com a qualidade do ar acharam que não bastava. E, após várias experiências laboratoriais, em que arriscaram não poucas vidas e cometeram não pequenos erros, como compete, chegaram à eventual conclusão de que a poesia devia ritmar a acção, como também dissera outro zangado muito antes, e inventar novos mitos civilizacionais, onde ainda e sempre não seria perigo nem medo dizer a palavra liberdade. Acharam também que, se os bois devem ser chamados pelo nome, a liberdade e o amor não lhes devem ficar atrás, coisa que na altura chocou talvez por antiquada. Estas experiências foram interrompidas por outra Grande Guerra Mundial e o consequente domínio dos Grandes Ignóbeis que tanto marcaram os chamados anos que se seguiram que ainda hoje muitos elegantes gostam de discutir no quadro do horizonte que os tais fixaram como imortal, pelo que a palavra fascismo é correntemente utilizada para eliminar qualquer rival numa discussão de balão.
Pensam porém dois ou três sobreviventes e adventícios dessas surrealidades que é urgente, sim, não termos pressa. E várias outras coisas que agora não lhes apetece dizer.
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