21.2.05

Umbigo #146

José Gil, os semi-intelectuais e o sorriso da Batarda

Duas seguidas no jardim de Inverno do S. Luiz. Olaré.

Quarta-feira: "É a cultura, estúpido".

Tema: o livro de José Gil. Todos-contra-um. Da esquerda para a direita: Anabela Mota Ribeiro (toda ela à Black Lady, com uns ténis azul-claro resplandecentes), Pedro Mexia, José Mário Silva, Nuno Costa Santos. A disparar calmamente.
Pedro Mexia, pecador ao perguntar as coisas de forma demasiado clara e arguta, fez José Gil perder-se várias vezes na mesma resposta: "O que me perguntou?". Gil, que não o irmão Fernando ou o Vicente dos teatros, recusa ter feito a análise da sociedade portuguesa. Diz coisas à brava no seu livro. Mas recusa o termo diagnótico. E lá fez peregrinar o pensamento de forma tão esvoaçante que chegou ao ponto de pousar o microfone e continuar a falar para as estrelas. Pelo caminho ia ficando sem voz. Que é hoje das mais escutadas no país em que vivemos.
Nuno Costa Santos levava com perguntas em resposta às suas questões, mas não acusava o golpe. E até pode registar a patente de uma nova figura de pensadores portugueses: os semi-intelectuais.
Bati em retirada por volta das 20 horas (o Sporting-Benfica em hóquei em patins "chamava-me" à Parede) e falhei mais uma vez o "stand-up" do Ricardo de Araújo Pereira. Porra!

Quinta-feira: "Debate Falar Cinema: que diálogo entre a crítica e o cinema português?"

Da esquerda para a direita: Fernando Vendrell (produtor e realizador), Beatriz Batarda (actriz), José Carlos Abrantes (moderador e comentarista), Jorge Leitão Ramos (crítico de cinema e professor), Ruben de Carvalho (jornalista).
Ambiente calmo, de diálogo escrupuloso, pensado. Em que o choque público/crítica e realizador/crítica esteve presente de forma civilizada. Muitas questões importantes ficaram no ar.
E eu para ali, as orelhas arrebitadas, o olhar na Beatriz Batarda, para melhor beber a suavidade de um sorriso, fixado no brinco solitário e elegante a pender da orelha esquerda, a observar as meias às riscas a espreitar das botas, o t-shirt por baixo da camisola discreta.

Fugi outra vez pelas 20 horas, devoto da hidroginástica das 21 e 15, com laivos de sagrado. E deixei no uso da palavra Pandora Cunha Telles, produtora. Do "Kiss Me", por exemplo. Estava chateada com os críticos.

Luís Graça