Sepúlveda bate recorde de Cavaco
Lisboa, El Corte Inglés, quarta-feira, 18 horas e 30 minutos. Centenas de pessoas estão já na bicha para os autógrafos com Luís Sepúlveda. Os livros vendem-se à velocidade da luz. Há leitores com quatro e cinco livros na mão.
O chileno bateu o recorde do Professor Cavaco. As suas bichas de leitores são ainda maiores do que as que o Professor Cavaco originou. Vêm da mesa até à zona dos discos, num curioso Z, que não de Zorro. São centenas de pessoas. A média de espera é de duas horas, a bicha tem mais de cem metros de comprimento. Homens, mulheres e crianças, de todos os escalões etários e, presume-se, filiações clubísticas, religiosas, políticas e literárias. Sepúlveda é um fenómeno de comunicação. Parker preta na mão (modelo trivial de lineu), esteve sempre "a dar-lhe", sem pausas.
Manuel Freire, presidente da SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) não se furtou à bicha. Aguentou a pé firme a sua vez. "Vai ser impossível organizar aquilo", disse-lhe eu. "Aquilo" é a SPA. Manuel Freire ainda tem fé. Eu não.
Na bicha, para além do presidente dos autores, também havia autores. Neste caso, um jornalista-escritor, Frederico Duarte Carvalho, de vontade afiada para ofertar ao Sepúlveda o seu mais recente livro, acabadinho de sair pela editora Polvo: Poeta & espião, a verdadeira história de Oswald Lee Winter. Livro que consta de uma introdução explicativa, uma entrevista e notas finais, para além de um conjunto de poemas intitulado "Deep-water harvest", traduzidos para português por Myriam Jubilot de Carvalho.
Havia também quem fosse buscar comida para a namorada e a amiga e se desmarcasse estrategicamente para ver o FC Porto-Inter na televisão, deixando o seu exemplar em mão fraterna, sem o suplício da espera. Espera essa que dava para ler quase na íntegra alguns livros do autor.
Um dia antes, no Instituto Cervantes, cativara a assistência desde a primeira fala, esse escritor que se considera uma espécie de "padrinho" do encontro "Correntes D'Escrita", na Póvoa do Varzim.
Há uns sete anos, uma delegação poveira acostou a Gijón (ou Xixon), onde vive o autor, e pediu conselhos. E perguntou: como se faz um encontro assim ao estilo do seu, aqui em Gijón? Sepúlveda disse que Gijón era uma cidade solidária e explicou os truques todos, desde os mais simples até ao mais complicado: como utilizar os argumentos correctos para "sacar" o dinheirinho aos patrocinadores oficiais.
O Instituto Cervantes também registou uma das maiores enchentes da sua história. Não só por causa de Sepúlveda, mas também para ouvir o escritor cubano Leonardo Padura, o argentino Pablo de Santis e o colombiano Mario Mendoza. O seu compatriota Santiago Gamboa ficou retido na Colômbia, a conselho médico, devido a problemas respiratórios.
No final do encontro, o director cessante do Instituto Cervantes, Manuel Fontán del Junco, disse palavras de circunstância e agradeceu a todos aqueles que o ajudaram no seu trabalho, considerando-se "um anão às costas de gigantes". Deixa saudades, pelo seu dinamismo e afabilidade. Agora, chega a vez de acostar a uma terra que Curzio Malaparte tão bem descreveu em A Pele: Nápoles.
Luís Graça
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