Post Scriptum # 512
"NAUGHTY GIRL" CONTA MAROTICES
Se a D. Quixote aprovar o "Diário sexual de um escritor frustrado", vamos ser colegas. Eu e uma menina que é "escort girl" numa das agências de acompanhantes londrinas.
Pois. A menina resolveu escrever um diário de ressonâncias buñuelianas: "Belle de Jour". Em que conta o seu dia-a-dia (e a noite-a-noite) das suas lutas sexuais. A coisa mete também S&M. Sado-maso, para quem leve mais tempo a decifrar iniciais. Não sei se tem a ver com Setúbal.
Ora bem. Comprei eu a "GQ" para ler a entrevista com os meus amigos do Gato Fedorento (que aparecem fotografados com peixes a sair da boca) e nem reparei na chamada de capa "Sexo: confissões de uma call girl".
Já bem lá dentro (da revista) - esta piada era perfeitamente escusada, pela sua banal brejeirice - fui-me ao artigo como gato a bofe. É uma pré-publicação da GQ, a abrir o apetite.
"A primeira coisa que precisam de saber é que eu sou uma puta. Não o digo eufemisticamente nem estou a fazer uma analogia em relação ao trabalho de secretaria". É assim o destaque da página 64.
Porque não digo que a menina é camarada de letras, em vez de colega? Porque "colegas são as putas" e esta assume-se: carnal e literariamente. Mas no que toca à literatura não dá a cara, ao contrário das autoras de "Diário de uma ninfomaníaca" e "Escovei o cabelo cem vezes antes de me deitar". Já a ex-stripper de "Cidade do Strip" opta pelo pseudónimo de Lily Burana e dá a cara, embora não dê mais que a nudez nos strips, reservando o corpo para o namorado meio hill-billy, meio red-neck.
Ai, vida...
Luís Graça
[Este livro começou por ser um blogue. Este.]
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