Post Scriptum # 507
Poemas de Alain Grandbois, traduzidos por Ruy Ventura.
Terceiro e último poema.
Alain Grandbois
(Canadá, 1900-1975)
A ALVA AMORTALHADA
Mais baixo ainda meu amor calemo-nos
Este fruto aberto ao sol
Os teus olhos como o sopro d' aurora
Como o sal das sarças reveladoras
Calemo-nos calemo-nos há em qualquer lado
Um coração que chora sobre um coração
Pela última aventura
Pelo tumulto total
Calemo-nos nada pode recomeçar
Esqueçamos as lâmpadas as horas sagradas
Esqueçamos os fogos-fátuos do dia
O nosso prazer nos arruína
Mais baixo ainda meu amor
Ah mais baixo meu querido amor
Estas coisas devem murmurar-se
Como entre dois moribundos
Logo deixaremos de querer distinguir
A franja de rugas nos nossos rostos
Ah olhemos o cintilar das estrelas
Mesmo no segredo de nossos dedos
Fitemos tudo o que recusa
O ouro destruído da lembrança
O belo quarto de outros tempos
E seus braços de faíscas surdas
Calemo-nos esqueçamos tudo
Afoguemos as palavras mágicas
Preparemos as nossas ternas cinzas
Para o grande silêncio inexorável
(in "Rivages de l' Homme", 1948)
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