18.2.05

Post Scriptum # 504



Eu, o Lobo Antunes, o Saramago e as erecções

A partir de hoje, tenho as minhas erecções literárias (ou pseudo-literárias) totalmente legitimadas. Obrigado, António Lobo Antunes. A validação dos meus desabafos sexuais está patente ao público na revista "Visão" de 17 de Fevereiro de 2005, na crónica intitulada "Entrevistas".
Lobo Antunes (um dos meus grandes ídolos literários e cidadão que muito estimo, fechado no seu palácio de dor, por amor dos outros e para esquecer os fantasmas da guerra e da morte) confessou uma potente erecção de pré-adolescente:
"(...) a senhora da idade da minha mãe que me encostava a perna no metropolitano e me beliscava a camisola (...)".
"(...) os dedos da senhora apertavam os meus no varão, autoritários, macios, o joelho apegava-se-me na coxa, a cabeça dela, mais alta do que a minha, observava-me de cima, num sorriso lento (...) desviei a coxa e o joelho a perseguir-me, tenaz, o polegar ia-me friccionando o pulso, a certeza que ia dar-se conta que o meu coração tão rápido, coisas embaraçosas a aumentarem nos calções (...)"
"(...) o indicador da senhora encontrou as coisas embaraçosas e demorou-se nelas de sorriso lento a crescer, a crescer, a sua voz num cochicho
- Loirinho (...)"
"(...) e eu a sorrir de volta à senhora porque assim que crescesse apanhava o metropolitano das oito e casava com ela (...)".
A partir daqui posso escrever à vontade sobre as minhas erecções. Quando me invectivarem, estou autorizado a responder: "O Lobo Antunes também já escreveu sobre erecções e ninguém levou a mal".
E se me perguntarem "Mas tu estás a comparar-te ao Lobo Antunes?", posso sempre dizer: "É melhor do que comparar-me ao Saramago. As erecções dele não têm pontuação".

Luís Graça