Post Scriptum # 486
Dizia o poeta Pessoa que "o melhor do mundo são as crianças". E se ele tivesse nascido uns anos antes, a sua opinião seria certamente partilhada pela Condessa Erzsébet Báthory, uma húngara sanguinária que "despachou" mais de 600 moçoilas, nos idos do século XVI, tendo morrido no dealbar do século XVII. Ela queria sangue virgem, para manter a juventude. Banhava-se em sangue. E não tinha nenhuma espécie de pudor moral. Era tão fria como frias eram as terras húngaras.
Fui despertado para "Erzsébet Báthory, a condessa sanguinária", de Valentine Penrose (Assírio e Alvim) pela crítica feita no "Mil Folhas", do Público. E por acaso feita por uma donzela, que se dispensou de citar certas partes do livro, devido à crueza do assunto.
Dei um salto ao King Triplex para ver "A Mãe" e aproveitei para comprar o livro, que me foi localizado por mão amiga. Neste caso, o Pedro Serpa, que mais intimamente lida com os livros da Assírio e Alvim. Cheguei a casa e pus-me a ler as rubras páginas do livro de estreia da colecção Beltenebros. Talvez a parte negra do coração me tenha sugerido uma metodologia de leitura: sempre a saltar até chegar até às cenas de tortura.
No entanto, nem só da bela Erzsébet fala o livro. A obra faz um paralelismo bastante profundo com um senhor francês que viveu no tempo de Joana D'Arc: Gilles de Rais.
Curiosa coincidência. Em autêntica "rave" de leituras de BD nos últimos dias (a privação dá muitas vezes em overdose) consumi desenfreadamente três livros da colecção Jhen (Jacques Martin e Pleyers). Em dois deles, o número 1 (L'Or de la mort) e o 3 (Les Écorcheurs) Gilles de Rais é personagem em destaque. Mas o que fica nas entrelinhas nos álbuns de BD é bem definido no livro de Valentine Penrose: Gilles de Rais "despachou" mais de 800 rapazinhos em sete anos. Diferentemente da condessa, chorava por eles e mandava rezar missas, depois de os ter sodomizado e torturado.
A Condessa só matava meninas. Gilles de Rais só matava meninos. Os dois foram condenados. Só Gilles de Rais se arrependeu.
Na série de BD "Bois Maury" (de Hermann) o tempo das Cruzadas é retratado de forma crua e realista. As imagens acentuam os tempos difícieis, de uma humanidade com grandes pecados. Li quatro álbuns de enfiada.
Pensava eu que no nosso século XXI as coisas estavam bastante melhores, pese embora tudo o que se tem vindo a saber. A manchete do "Correio da Manhã" deixou-me atónito: "Escravo 25 anos em Quinta do Minho - O Ministério Público está a investigar suspeitas de sequestro e tortura em Coucieiro, Vila Verde, onde um homem de 30 anos vivia obrigado a trabalhar".
Luís Graça
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