14.2.05

Post Moderno #3

Verdade ou Consequência?

Acabo de assistir ao telejornal do canal público francês A2. Fantástico, uma discussão sobre o Código da Vinci, livro que não li e de que não gostei.

Toda a gente satisfeita, a editora, que fica contente com o êxito do livro (20 milhões de exemplares), um adversário do livro, que fica contente com o êxito do livro que escreveu sobre o livro, a criticá-lo (mas sublinhando que um romance não precisa de falar verdade), a editora do livro que fica contente com o êxito do livro que critica o livro que ela editou (mas sublinhando que um romance não precisa de falar verdade), e que explica que o êxito se deve à técnica americana do romance (capítulos curtos, cinco a seis páginas, com um suspense sempre no fim), a padralhada, que faz conferências sobre o livro e aproveita para falar de espiritualidade cristã (e a editora do livro e o autor do livro que critica o livro concordam que o livro enfim redespertou a espiritualidade de que tanto precisávamos, sobretudo se acolitada pela padralhada), o jornalista enfim, todo contente porque o livro enfim reanimou a indústria turística (os americanos fazem excursões a Paris para visitar os locais da intriga) e, vejam l, o Eurostar, comboio parece que Paris-Londres ou vice-versa ?

Fantástico, estimados ouvintes. E eu penso: muito bem, a ficção suspende o princípio da veridificação. Num romance, o que se passa não precisa de ter uma ligação directa e imediata ao mundo. Embora o romance canónico deva respeitar aquela máxima do Aristóteles: ser verosímil. De maneira, que, com jeito, e acertado sacrifício aos deuses do realismo, sempre se passam mensagens por baixo da mesa. É como o Santana Lopes que deus tenha: não diz, insinua. Não sei se estão a ver? Ele, quando fala de colos, fala de colos metafóricos: colos de agências de publicidade, colos de jornalistas, todos os colos, menos os do útero, fazem favor.

Porra, já estou a descarrilar.

Embora, vá, pronto, para gáudio da plebe aqui vai a revelação:

O Priorado de Sion

Esperamos agora que FMV zurza como deve ser esta reanimação dos mitos anti-semitas, APESAR DO EVIDENTE ÊXITO DE LIVRARIA e, portanto, de mercado. É que, sabem, este tipo de literatura atrai as jovens almas e as menos jovens para a leitura, o que, nos tempos que correm, já não é mau: salva o mercado editorial da bancarrota, não é assim?