25.2.05

Mas quem me manda a mim....

É isto. À hora do almoço (al-moço não vem do árabe, vem do latim, seus pascácios), ponho-me a ver o telejornal das 13 da Antene2ServiçoPúblico (francês). É um telejornal moralista, não sei porquê (talvez por o verem apenas "donas de casa" - há poucos "donos de casa", talvez eu seja um deles -, desempregados e reformados). Por isso mesmo, instrutivo.

A notícia do dia. Diz o pivot: "Temos uma má notícia. Mais de 10 milhões de desempregados em França."

Continua: "Paradoxalmente, as empresas ostentam lucros excelentes." Mais reportagem em cima que explica que os empresários, como não confiam no futuro, "receiam empregar". Comprimiram custos, coitados, mas estão com medo...

Não posso, evidentemente, levantar-me da mesa e ir a Paris apertar-lhes o gasganete: quem arrumava a minha louça?

Ninguém diz a essas avantesmas que a notícia não é má para toda a gente? Que nos andam a enganar de fininho?

Que é, não "apesar de", mas "porque" as empresas estão de boa saúde, que o comum dos mortais está de má saúde e cheio de medo pelo futuro? Que a lógica do "novo espírito do capitalismo" é a compressão dos custos (que são as novas tecnologias senão formas de comprimir custos, incluindo ao nível do trabalho intelectual?), sobretudo salariais? Que quanto mais desemprego houver, mais medo e mais obediência? Etc.?

E que essa gente, preocupada com a saúde dos seus "investimentos"(deixem-me rir, "criadores de emprego"), só deixa de rir quando tudo ruir?

Adeus, civilização, sua grande vaca: há trinta anos que ma andas a enganar com outro.