Post Scriptum # 460
Dizem que não há amor como o primeiro. E eu concordo. Este foi o meu primeiro Dom Quixote. Adquirido há muitos anos no Candelabro, o alfarrabista do largo mais bonito da Baixa do Porto, o Largo Mompilher.
"Numa aldeia da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito tempo, um fidalgo dos de lança velha, escudo ferrugento, cavalicoque magro e galgo corredor. (...)
O nosso fidalgo roçava pelos cinquenta anos. Era robusto, seco, de rosto magro, muito madrugador e caçador entusiasta. Conta-se que tinha o sobrenome de Quijada ou Quesada, mas as opiniões divergem. Afigura-se mais verosímil que se chamava Quinjana. Porém, isto pouco importa: basta que os factos relatados sejam verdadeiros.
Quando este fidalgo tinha intervalos de ócio (o que sucedia todo o ano), entregava-se à leitura de livros de cavalaria, com tanto gosto e apego que se esqueceu da caça e da administração dos seus bens. (...)
Em suma, tanto se enfrascou D. Quixote naquelas leituras, que passava a noite a ler, do sol-posto até madrugada, e os dias, de manhã à tarde. E assim, de pouco dormir e muito ler, se lhe secou o cérebro, perdendo o juízo. Aquela pobre cabeça encheu-se de encantamentos, batalhas, desafios, amores, tormentos e todas as demais loucuras que lia nos livros. Para ele não havia neste mundo histórias mais verdadeiras."
É o volume XVI da "Biblioteca dos Rapazes", da Portugália. A tradução e adaptação é de Maria Ponce. A fazer fé num pequeno selo que se encontra no verso da capa, o livro foi vendido, pela primeira vez, numa livraria de Guimarães, L. Oliveira & C.ª (Rua da Rainha D. Maria II, 13). E, na folha de rosto, há uma assinatura que suponho terá sido escrita pela anterior proprietária: Helena Maria Brochado Ribeiro da Costa.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home