Post Scriptum # 445
- Que manhã tão feia! Como dormiu a noite, tio?
- Ramesh Babu - replicou o tio -, nesta idade em que estou, resolvi muitos problemas, e, embora eu tenha o ar de um velho maníaco, é raro não encontrar a chave de um enigma; mas você é, certamente, o mais difícil que se me deparou até hoje.
Ramesh corou, apesar de todos os esforços para se conservar sereno. Respondeu, sorrindo:
- E pensa que seja um crime insolúvel? Veja, por exemplo, uma língua tão barroca como é o telegu. Não é fácil mesmo aprender os seus rudimentos, e, contudo, uma criança telegu fala-a com as mesma facilidade com que pisca os olhos. É preciso não se apressar em condenar aquilo que não se compreende.
Rabrindanath Tagore, "O Naufrágio", Col. Prémio Nobel/DN.
Tradução de Telo de Mascarenhas.
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