Post Scriptum # 437
Durante a época dos exames, Hemnalini abandonara os trabalhos de costura. Alguns dias depois, recomeçou as lições dos trabalhos de agulha. Ramesh achava esta ocupação absolutamente inútil, porque, se os dois gostavam de discutir literatura, entendendo-se à maravilha neste assunto, quando o miserável trabalho se impunha, sentia-se ele relegado para segundo plano. Um dia perguntou:
- Que fantasia lhe dá para coser todo esse tempo? Deixe isso àquelas que não têm outra coisa para fazer.
Como única resposta, Hemnalini sorriu e enfiou a agulha.
(...)
Ao entrar, uma manhã, no escritório, Ramesh encontrou sobre a mesa uma pasta forrada de cetim, toda bordada de flores. Num canto tinha a letra R, no outro uma flor de loto trabalhada em fio de oiro. Ramesh não teve dificuldade em adivinhar quem tinha feito uma coisa tão bela; o seu coração bateu mais apressado. Todo o seu desprezo pelas agulhas desvaneceu-se num instante.
Rabindranath Tagore, O Naufrágio.
Tradução de Telo de Mascarenhas (Colecção Prémios Nobel/ DN)
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