10.12.04

Post Scriptum # 421

É ASSIM QUE SE FAZ A ESTÓRIA

Deve o leitor não se lembrar de um poema quase genial aqui recentemente dado a lume ("Geração Portugal") oriundo de um estro vivaz e inspirado - poema esse pesquisado e encontrado por um estoriador de gabarito, o Prof. José de Pitta Raposo.
Uma lenda maliciosa tem tentado estabelecer que este homem de estudo não existe.
Estamos em condições de infirmar essa arbitrária congeminação. Pitta Raposo é bem real. E, mais que não fosse, os seus livros provam-no à saciedade.
Descendente de uma das mais excelsas famílias lusas, os Azeredos Curitiba, Pitta Raposo deu à estampa diversos tomos de alto valor cerebral. Começando por uma pequena homenagem ao seu sextavô ("Anatólio Raposo, cozinheiro inspirado e patriota") incursionou depois pelo memorialismo com "Memórias de Antão Raposo, meu primo em terceiro grau", o qual lhe valeu elogios do renomado crítico espanhol Juan Capullo Follante. Além de outros mais, cheios de originalidade e tendo sempre como protagonistas personalidades da sua multifacetada família.
O poeta Alfonso Bilharoz de Moncada, grande amigo de Raposo, dedicou-lhe um poema assumidamente laudatório - o que não lhe retira valor descritivo e lírico como se pode comprovar pela sua leitura:


PERFIL

É arteiro como um cigano
elegante e donairoso
- um magnífico fulano
o grande Pitta Raposo!

Melífluo e insinuante
dá de si boa impressão
e embora seja um tunante
é um belo cidadão!

Sabe aguentar a parada
para levar tudo a eito
- entra em qualquer titarada
desde que lhe dê proveito.

Um fidalgote fogoso
mexido até dizer basta
- o grande Pitta Raposo
o que ele gosta da pasta...

Com a mão esquerda arrebanha
com a direita arrebata.
O que faz falta é ter manha,
o que é preciso é ter lata!

É real homem de bem
nada há que lhe não valha:
pois seguro prestígio tem
entre outros da mesma igualha

Mesmo sem obra imponente
que o venha a cobrir de louros
vai deixar um nome ingente
aos lusitanos vindouros

e a Estória registará
o seu nome valoroso
mesmo sendo a escrita má.
- E viva o Pitta Raposo!

(Recolha de Nicolau Saião)