6.12.04

O Povo é Sereno #189



O REGOZIJO DE SANTANA

Pedro Santana Lopes deve estar nas sete quintas... Afirmarão que se tem mostrado macambúzio sempre que fala na dissolução da Assembleia da República e nas eleições antecipadas. Dirão que é com tristeza que larga São Bento, agora que estaria a preparar um queijo-de-ouro para servir aos portugueses.
Eu não acredito. Longe de mim chamar-lhe hipócrita - embora sejam conhecidos os seus dotes histriónicos que, aliás, lhe têm granjeado forte apoio junto de gente do teatro de revista (excepto Odete Santos, por motivos que se conhecem). Conto, na minha avaliação, com a sua fama de "animal político" que prefere a acção na praça pública (a que alguns chamam "demagogia"), aceitando sempre com relutância a discrição necessária ao trabalho sério em prol do bem comum.
Agora sim... Não precisa envergar a fatiota de "homem de estado". Poderá voltar a colocar sobre a secretária a fotografia do lenço, retirando da moldura a da visita ao Santo Padre, com que tentara distrair os fiéis portugueses. Voltará a pôr no rosto o semblante "bem disposto" com que convenceu boa parte das senhoras de meia-idade da Figueira e de Lisboa.
E tanto que Santana gosta de ser vítima... Recorda-me sempre certo aluno que tive no início da minha carreira docente que, ao fazer das suas, arranjava sempre maneira de lançar as culpas sobre quem agredira, pensando ser essa a melhor maneira de evitar a competente sanção disciplinar (o que, aliás, nunca conseguia, pois todos conheciam o seu currículo de corrécio encartado...).
Conta agora Dias Loureiro que Santana, antes de tomar posse como chefe de governo e fazendo jus ao sentido de observação de Barroso (que, certo dia, o comparou a Zandinga), previu que a coisa não iria durar muito... O antigo ministro de Cavaco conhece, com quantos paus se faz a canoa do seu líder. Sabe que Santana não gosta de aquecer os lugares que ocupa, seguindo a prática dos frequentadores do Bairro Alto, que gostam de deambular de bar em tasca, parando em cada balcão apenas o suficiente para dar dois goles na bebida.
Mas talvez o regozijo de Santana Lopes não seja total. Prepara-se para catar o voto daqueles que suspiraram de alívio ao conhecerem a decisão de Sampaio (que só pecou por tardia). A sua satisfação não é porém total. Satisfeito estaria se o PSD o impedisse de ir a votos. Aí, vítima completa, bebé pontapeado na incubadora, cozinharia a melhor maneira de se candidatar à Presidência da República, cargo cujo conforto o afastaria da chatice que é governar sem ter jeito para tanto.

(Ruy Ventura)