Cimbalino Curto #124
As relações entre Rui Rio e Pinto da Costa estão de novo animadas. Durante a terceira sessão do ciclo de debates "Olhares Cruzados sobre o Porto", organizadas pelo Público, Rui Rio voltou a atacar o presidente do F. C. do Porto, comparando o percurso de Pinto da Costa ao de Bernard Tapie ou Jesus Gil y Gil. O líder portista, por sua vez, ripostou mostrando-se, segundo o Público, "disponível para 'enfrentar' Rui Rio nas próximas eleições autarquicas."
Aparentemente, Rio e Pinto da Costa juraram um ao outro ódio eterno. Mas a verdade é que o F. C. do Porto é uma espécie de seguro de vida para Rui Rio, e os quase quatro anos de desolação que a cidade viveu sob o mandato de Rio permitiram a Pinto da Costa brilhar como nunca tinha conseguido antes.
Façamos um exercício. Vamos supor que durante estes quatro anos o F. C. do Porto não tinha ganho nada. Nem Taça UEFA, nem Liga dos Campeões, nem Taça Inter-Continental, nem sequer o pequeno campeonato português. Vamos supor que, durante estes quatro anos, o "povo do Porto" não tinha tido nada para festejar. Provavelmente, e à falta de outros motivos de interesse, o "povo do Porto" repararia que existe uma instituição chamada "Câmara do Porto", que é responsável pela gestão da cidade. Provavelmente, o "povo do Porto" repararia que a cidade está sem rumo, não tem nada para oferecer, é um deserto de ideias, de projectos. Totalmente surda à palavra e insensível ao espírito. Estou em crer que o "povo" repararia que o "seu" Porto deixou de existir. Está morto. Que a verdadeira cidade afinal não é a azul e branco mas a preto e branco.
Outro exercício: vamos supor que Rui Rio e a sua equipa de contabilistas tinham desenvolvido um excelente trabalho. Vamos supor que, em quatro anos, Rui Rio tinha conseguido devolver ao Porto o seu orgulho, capitalizado os proveitos da Capital Europeia da Cultura, lançado novos projectos, animado a cidade. Vamos supor que Rui Rio, à falta de melhor expressão, tinha posto de novo os portuenses a sonhar. Vamos supor que Pinto da Costa era obrigado a partilhar o protagonismo com um autarca popular e apreciado por todos os "povos" do Porto. O que seria do "carismático líder portista" se tivesse que conviver com a sombra de um Rio competente?
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