Post Scriptum # 418
Para abrir a manhã, um poema de José Ángel Leyva (México, 1958), na tradução de Floriano Martins, e com um desenho de Hélio Rola.
O DIABO VOYEUR
Com as unhas presas na porta
se debate a alma de um sujeito.
Seus dedos inchados e o olho lúbrico e impotente
Guincham à sombra de um maldito divã.
Era um voyeur do inconsciente o pobre diabo.
Escutava com o olhar os prazeres secretos da carne.
Olhava descortês o tremor da voz nos amantes.
Apaixonava-se com a crosta do rancor
e a ameaça de matar a quem alguma vez quis.
Estava ali concupiscente o demônio entre as pernas,
metendo o nariz e o rabo onde não era chamado.
Na inconsciência, digo, porque o gênio se perde em desfigurações.
Há um diabo cativo na palavra.
Veste-se de anjo da guarda e responde pelo nome de Esperança
ou Caridade, não sei, parece Jocasta com a voz de Édipo,
ou então Tirésias espiando com seus olhos cegos.
El diablo voyeur: Con las uñas cogidas en la puerta/ se debate el alma de un sujeto./ Sus dedos hinchados y el ojo lúbrico e impotente/ chillan a la sombra de un diván maldito./ Era un voyeur del inconsciente el pobre diablo./ Escuchaba con la vista los secretos placeres de la carne./ Miraba descortés el temblor de la voz en los amantes./ Se apasionaba con la costra del rencor/ y la amenaza de matar a quien alguna vez se quiso./ Estaba allí concupiscente el demonio entre las piernas,/ metiendo la nariz y el rabo en donde no lo llaman./ En la inconsciencia, digo yo, porque se pierde el genio en desfiguros./ Hay un diablo cautivo en la palabra./ Viste de ángel guardián y responde al nombre de Esperanza/ o Caridad, no sé, parece Yocasta con la voz de Edipo,/ o bien Tiresias espiando con sus ojos ciegos.
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