Post Scriptum #406
(...) Vamos levantar-nos de manhã, às três, quatro, largamos as andorinhas, registamo-las, escravizamo-las como essas ovelhas assustadas, picamos o ponto, e quando cair a noite, fechamos o portão, rodamos a chave na fechadura, calçamos-lhes as pantufas, damos-lhes de comer (hoje mais que ontem, mas menos que amanhã - moscas), compramos um televisor a cores, caro e de baixa qualidade (ao sábado às tantas da matina damos um policial para que de manhã durmam até tarde e escusem de ir à igreja, no serão de domingo damos ópera, a ver se não se deixam dormir à segunda, faltando às corveias): assim de um dia para outro viverão bem, senão melhor - apenas deixarão de ser andorinhas. (...)
Ivan Kadlecík, "Rapsódias e Miniaturas", Cavalo de Ferro/ G.R., 2004.
Tradução de Lumir Nahodil.
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