O Povo é Sereno #186
EU PECADOR ME CONFESSO
Como se devem recordar nunca aqui falei de política! - e jamais tentei influenciar fosse quem fosse excepto uma única vez. E estou bem arrependido, porque o tempo que decorreu desde esse triste dia propiciou-me uma cruel ensinadela. Já ninguém se lembra, porque a memória dos homens é curta e a dos leitores de blogs - conforme esclareceu algures um excelente homem das escritas (Abel Bastos Rodrigues, segundo julgo saber, se é que não estou enganado) é curtíssima.
Ora se bem não se recordam, abusando da consideração que o senhor Presidente da República tem por qualquer português de lei (e eu, como não sou suevo, islandês ou ruténio entro nessa categoria patriótica), pedi-lhe que nomeasse o dr. Santana Lopes para o alto cargo a que tem estado guindado. Com a típica irresponsabilidade dos poetas eu aduzia o pretexto, que entendi como mais valia, de que o supremo magistrado devia ajudar a prática política em geral e a política ministerial em particular a transformar-se, e cito-me, "numa charlotada".
O senhor Presidente, compreensivo e bondoso como é, atendeu-me.
O que eu visava era apenas animar um pouco a malta! Com os dotes que todos lhe reconhecem, eu pensava que o dr. Santana iria de vez em quando à TV dar uns conselhos divertidos à gente dos futebóis, fazer-nos rir um pouco mediante a exposição da sua filosofia e do seu pensamento social e até, nos dias em que se sentisse mais pachorrento, dar uns cascudos neste ou naquele membro do seu gabinete, ao estilo dos serials da Keystone.
Mas saiu-me o tiro pela culatra...
Então não é que o sr. primeiro-ministro começou a governar a sério?
Meteu e desmeteu ministros, incrementou ou consentiu a vigilância de jornalistas, apertou-nos um pouco mais o cinto, passeou-se pelo país com hierática majestade, estabeleceu novas formas de nos chatear a valer, começou a parecer-se com um líder de opinião, comprou uma camisola nova e almoçou bacalhau, apertou a mão ao dr. Portas, comeu amendoins nas festas populares com que o povo o recebeu, leu o "Diário de Notícias" e, acho eu, não nos falou de futebóis a não ser em sonhos. Em suma, fez tudo o que em geral um primeiro-ministro que se preze, na nossa democracia singular, faz.
Quer dizer, tramou-nos com senso de humor e crueldade inteligente.
Eu assumo as minhas culpas. Se fui o culpado devo pagar. Peço agora ao senhor Presidente que, para vingar os portugueses, me nomeie Santana Lopes. Nicolau Santana Lopes. Juro-lhe que irei desempenhar bem o papel. E, até ser um dia apupado nas ruas, freneticamente, pela multidão em fúria, viverei crucificado, tristonho e finalmente muito envergonhado por tudo.
E ao verdadeiro Santana Lopes mande-o descansar para Cancun, ou para o Hawai, ou até mesmo para Tombuctu - essa estação termal no meio do Sahara.
Ele parece estar precisado e nós também.
Nicolau Saião
2 Comments:
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